‘120 battements par minute’: o bater do teu coração ligado à luta contra a sida
120 battements par minute, ou em português 120 Batimentos Por Minuto, está nomeado para Melhor Filme nos European Film Awards a revelar já esta sábado, em Berlim. O ator Nahuel Pérez Biscayart, protagonista no filme, vai como Melhor Ator.
Robin Campillo poderia ter feito este filme há muitos anos. Mas não o fez. Fez agora. So what? Percebe-se que estavam demasiadas coisas em jogo na altura para que o cinema vertesse essa urgência. O próprio Robin Campillo referiu na nossa entrevista (aqui) que sentiu que o tema era algo ‘impuro’ para aqueles tempos.
Ainda assim, por muito pertinente que seja esta chamada ao cinema de intervenção, a causa que lhe está subjacente – a tal falta de resposta credível aos seropositivos em pleno vulcão da infeção durante os anos 90 – não deixa de se circunscrever num espelho do passado que dificilmente acolhe o mesmo peso. A homenagem é sincera e sentida, mas também tardia.
Por isso mesmo, dificilmente 120 batimento Por Minuto se vê sem ser pela lupa do passado. E não com aquela dimensão do desencanto e a passagem aos atos que Bertrand Bonello captou no avassalador Nocturama (o filme chegou a estrear em sala? Não dei por nada), sobre a juventude inconformada que decide passar à ação. Como como vemos em 120 BPM.
Mas a época era outra. Estamos no início dos anos 80, numa altura em que a liberdade de escolha de parceiro sexual e de todos os consumos acaba por esbarrar contra a parede de moralidade, mas sobretudo com a natural sensação da imortalidade juvenil que os faz acordar para um pesadelo e fim de vida que está ali mesmo ao virar da esquina. Depois, com todo aquele subtexto político e institucional dos laboratórios que não terão feito tudo o possível, pelo menos no capítulo da informação.
Daí a formação da Act Up (será preciso explicar qual a sua intenção?) e a mobilização de grande parte dos visados. Robin Campillo também por lá andava. Aliás, este filme é parte do reconto os seus anos de fogo. Da passagem à ação. Algo que se funde tão bem com os ritmos tecno da altura. O tema dos Bronski Beat, Small Time Boy, é uma justíssima ilustração de quem se diverte, mas em que o coração pode deixar de bater nesse ritmo.
O filme arrebata, embora dificilmente nos perturbe da mesma forma – e da forma como nos perturba Nocturama. O cast é vigoroso e empenhado como deveria ser. Em particular Nahuel Pérez Biscayart, Adèle Haenel (que tem mesmo uma pequena prestação em Nocturama) e todo os outros. Nesse sentido, um verdadeiro cast emsemble. Mesmo sem ser datado, 120 Batimentos Por Minuto olha para a urgência da causa como algo localizado no tempo. A capacidade de a ver hoje presente e atual já é outra conversa.
Artigo escrito por Paulo Portugal em parceria com Insider.pt