30 filmes de ação que marcaram o cinema do século XXI

por Comunidade Cultura e Arte,    18 Maio, 2022
30 filmes de ação que marcaram o cinema do século XXI
“Mad Max: Fury Road”, de George Miller
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Por ocasião da recente estreia do filme “Ambulance”, de Michael Bay, marcado pela utilização inovadora de drones nas filmagens das cenas de ação, os críticos de cinema da Comunidade Cultura e Arte juntaram-se para fazer uma retrospetiva da evolução da linguagem cinematográfica do género no século XXI.

A viragem do século ficou marcada pelo surgimento do digital e, apesar da resistência por parte de muitos, houve cineastas que abraçaram as possibilidades proporcionadas pelas novas câmaras de filmar, que alteraram radicalmente o paradigma das imagens em movimento. 

Como qualquer lista de filmes, estará sempre condicionada à subjetividade de quem a compôs. Tirando raras exceções, pretendeu-se dar primazia a filmes onde o género ação é predominante, que tenham sido lançados a partir do ano 2000, inclusive, até hoje. Contribuíram para a realização da lista, tanto na escolha como na votação, os críticos Bruno Victorino, Inês Bom, David Bernardino, Pedro Barriga e João Miguel Fernandes. Seguem, então, os 30 filmes de ação que marcaram, até agora, o cinema do século XXI para os críticos de cinema da Comunidade Cultura e Arte.

30. “Infernal Affairs” (2002), de Andrew Lau e Alan Mak

A obra que deu origem ao filme “Departed” (2006), de Martin Scorsese, é um excelente policial com foco equitativo na acção e thriller. Liderado por dois dos nomes mais fortes do cinema de Hong Kong, Andy Lau e Tony Leung, “Infernal Affairs” é a clássica história do polícia infiltrado e do gangster infiltrado na polícia, mas com a qualidade do cinema de acção típico de Hong Kong.

João Miguel Fernandes

29. “Resident Evil: Retribution” (2012), de Paul W.S. Anderson

A série Resident Evil é normalmente olhada com desdém por parte de críticos e espectadores. No entanto, Paul W. S. Anderson construiu um universo peculiar, onde submete a sua companheira, Milla Jovovich, a um leque de desafios que tem de ultrapassar em cada filme. Esta característica permite-nos comparar os seus filmes com videojogos, compostos por vários níveis e vilões que o herói tem de ultrapassar e derrotar. “Retribution” estabelece-se como o apogeu da série, marcado, logo à partida, pela espetacular sequência inicial em reverse slow motion. Anderson utiliza o CGI sem qualquer preocupação com realismo e verossimilhança, contribuindo, com a sua filmografia, e com “Retribution” em particular, para a evolução gramatical da linguagem cinematográfica digital. 

Bruno Victorino

“Haywire”, de Steven Soderbergh

28. “Haywire” (2011), de Steven Soderbergh

Com Haywire parece que o prolífico Soderbergh decide quase fazer um exercício de hipótese: criar um filme de acção despido de quaisquer adornos e reduzido ao absolutamente essencial. Uma protagonista interpretada por uma profissional de artes marciais, Gina Carano, no seu primeiro papel em cinema, uma trama condutora mínima, o movimento, a emboscada, a ausência de banda sonora ou acompanhamento musical, em Haywire tudo está meticulosamente inserido com ajuda de pinças. E não é que funciona? Coadjuvada por uma mão cheia de actores carismáticos com provas dadas, como Ewan McGregor, Fassbender, Michael Douglas, Channing Tatum ou Antonio Banderas, Gina Carano está bem acompanhada no que diz respeito às interpretações, podendo focar-se no que realmente interessa: acção. Com deliciosos planos longos e uma abordagem invulgar ao tópico da “vingança após traição”, Haywire não é um filme arrebatador, mas é uma experiência de género fabulosamente bem conseguida.

David Bernardino

27. “Hero” (2002), de Zhang Yimou

Conhecido prévia e maioritariamente na Ásia pelos seus dramas poéticos, Zhang Yimou atingiu o estatuto de fama internacional com “Hero”, filme de 2002 com algumas das maiores estrelas do cinema asiático desse momento, Jet Li, Tony Leung, Donnie Yen, Maggie Cheung e Ziyi Zhang. Fortemente influenciado pelo estilo Wuxia (artes marciais chinesas), “Hero” foi mais além do que os seus antecessores de género, criando uma palete de cores lindíssima (graças ao magnífico trabalho do cinematógrafo Christopher Doyle) aliada a um estilo de realização ambicioso, misturando elementos de realização de épicos famosos, com sequências de acção vibrantes e dramáticas. 

João Miguel Fernandes

26. “Man on Fire” (2004), de Tony Scott

Mais uma colaboração bem sucedida entre Tony Scott e Denzel Washington, “Man on Fire” acompanha um antigo elemento da CIA que relutantemente aceita um trabalho de guarda-costas de uma criança de 10 anos na Cidade do México. Temos novamente presente a tendência tardia da carreira de Scott de aproximação ao experimental, através da manipulação das imagens digitais e montagem constante, que casa perfeitamente com a mente perturbada do personagem de Washington, afetado pela dependência do álcool e os traumas de um passado problemático. 

Bruno Victorino

25. “Life Without Principle” (2011), de Johnnie To

Johnnie To, o prolífico realizador de Hong Kong, é um nome incontornável quando falamos de cinema de género. To conjuga observações sobre a corrupção das instituições, numa sociedade subjugada ao dinheiro e à violência, com uma estética característica com que filma a ação nos espaços urbanos. “Life Without Principle” cruza as histórias de uma trabalhadora de um banco, um criminoso e um polícia, retratando a forma como a crise financeira de 2008 afetou Hong Kong. Sem contemplações ou subterfúgios Johnnie To aborda a narrativa e a ação de maneira direta e brutal, entregando toda a sua mestria na superfície das imagens. 

Bruno Victorino

“Snowpiercer”, de Bong Joon-ho

24. “Snowpiercer” (2013), de Bong Joon-ho

Antes do óscar de melhor filme com “Parasite” (2019), Bong Joon-ho já era perito em misturar nos seus filmes vários géneros cinematográficos. “Snowpiercer” foi a sua primeira produção norte-americana e desenrola-se no interior de um comboio, onde as várias carruagens correspondem a diferentes níveis de estratificação social. O comboio como espaço de artificialidade, uma realidade distópica onde as classes sociais mais baixas têm de superar vários níveis para, através da violência, alcançar a elite. 

Bruno Victorino

23. “The Hunted” (2003), de William Friedkin

O realizador norte-americano responsável por clássicos canonizados da história do cinema, como “The Exorcist” (1973) ou “The French Connection” (1971), lançou, no início do século, um filme pouco comentado. Um jogo do gato e do rato entre Benicio del Toro e Tommy Lee Jones, aprendiz e mestre, onde o único caminho para a sobrevivência é matar ou ser morto. Friedkin vai colocando os seus personagens em diferentes ambientes – floresta, cascata, cidade – encontrando sempre maneiras inventivas de filmar o caçador e a presa, dissimulando-os nos locais e fazendo com que a câmara vá tomando o ponto de vista de cada um dos protagonistas. 

Bruno Victorino

22. “Logan” (2017), de James Mangold

Um dos maiores elogios que se pode fazer a “Logan” é a profundidade dramática existente nos personagens de Hugh Jackman e Patrick Stewart, assim como na narrativa principal. Se esquecermos que estes personagens fazem parte do universo da Marvel, mais propriamente dos X-Men, quase parece que estamos perante um filme dramático “real”. Antecipando uma quebra enorme de ganhos caso o filme fosse “R-Rated” (tivesse bastante violência), Hugh Jackman decidiu reduzir bastante o seu salário de forma a que James Mangold tivesse total liberdade criativa. O resultado? Cenas de violência duras e brutais, algo que acrescentou qualidade ao tom do filme e contexto do seu personagem.

João Miguel Fernandes

21. “Dunkirk” (2017), de Christopher Nolan

Christopher Nolan tem uma caderneta de cromos cinéfilos. Cada cromo corresponde a um género que ambiciona abordar. Começou a sua carreira com vários thrillers, seguiram-se três filmes de super-heróis, um filme de ação anti-gravidade, fez a sua odisseia no espaço, e mais recentemente um filme de espiões à la 007. Faltava-lhe um filme de guerra. “Dunkirk” é um feito tremendo a nível prático. Por uma vez na vida, Nolan reduz o diálogo e os plot twists ao mínimo, e concentra-se na ação, crua e dura. Soldados alvejados em solo, bombas ameaçadoras a cair na praia, combates aéreos sobre o mar, navios em chamas, barcos a afundar, aterragens de emergência, aviões destruídos.

Pedro Barriga

“Taken”, de Pierre Morel

20. “Taken” (2008), de Pierre Morel

O primeiro filme na trilogia de “raptaram a minha filha” é de longe o melhor, tendo Liam Neeson catapultado a sua carreira anteriormente baseada em papéis dramáticos (“Schindler’s List” (1993); “Gangs of New York” (2002), “Kinsey” (2004)) para o mundo do cinema de acção. “Taken” é um filme frenético, realizado pelo francês Pierre Morel, que apesar de ter uma carreira interessante, deu aqui um salto enorme com este filme. O argumento não é inovador, mas as sequências de acção são do melhor que se fez na década, influenciando filmes como “John Wick” (2014) ou outros mil com Liam Neeson.

João Miguel Fernandes

19. “The Matrix Reloaded” (2003), de Lana Wachowski e Lilly Wachowski 

Os filmes da tetralogia “Matrix” conjugam ação, ficção científica, distopia, naves espaciais, artes marciais e tantos outros elementos em uma só criação cinematográfica – ou quatro, neste caso. Mas se há um filme do conjunto que se destaca pelas suas sequências de ação, é seguramente o segundo volume, “The Matrix Reloaded”. A luta entre Neo e as centenas de agentes Smith? De loucos. O ataque dos lacaios do Merovingian naquela monumental escadaria? Extasiante. E, por fim, talvez a cena de ação mais impressionante de sempre: Morpheus e Trinity na autoestrada contra os Gémeos e o agente Johnson. Entrada direta para o panteão do cinema de ação.

Pedro Barriga

18. “The Raid” (2011), Gareth Evans

“The Raid” é um excelente filme de acção, com lutas coreografadas pelos maiores mestres de artes marciais da Indonésia. Todos os actores tiveram treino específico, não só físico, mas também mental. As sequências de acção são claustrofóbicas, tendo em conta que a maioria decorre em corredores de um gigantesco prédio, o que tornou a iluminação mais complicada do que o habitual. Contudo, Gareth Evans realizou um excelente trabalho, criando um filme frenético e intenso, focado maioritariamente em acção. 

João Miguel Fernandes

17. “Crouching Tiger, Hidden Dragon” (2000), de Ang Lee

Depois de um filme de época e de um drama, o taiwanês Ang Lee enveredou pelo wuxia (género chinês que se centra nas artes marciais). Tal como vimos em “Mulan” (1998), no mundo da guerra não há espaço para mulheres. Lee remou contra esse preconceito e entregou os papéis principais a duas atrizes: Michelle Yeoh e Zhang Ziyi. O resultado é um filme espantoso que contém algumas das cenas de luta mais graciosas e bem coreografadas que a sétima arte já viu. Na altura em que estreou, foi o filme estrangeiro com maior receita na bilheteira norte-americana de sempre. Numa era em que as produções americanas reinavam nos E.U.A., o sucesso de “Crouching Tiger” foi não só surpreendente, como muitíssimo merecido.

Pedro Barriga

“Unstoppable”, de Tony Scott

16. “Unstoppable” (2010), de Tony Scott

Uma das parcerias mais produtivas do cinema de ação dos últimos anos, transitando dos anos 90 para o novo século, ocorreu entre Tony Scott, subvalorizado irmão de Ridley Scott, e Denzel Washington. A última dessas colaborações foi “Unstoppable”, o filme definitivo que Scott realizou antes de falecer em 2012. Se “Domino” (2005) é, talvez, o seu filme mais experimental, “Unstoppable” segue a tendência tardia da sua filmografia, onde a montagem acelerada, os movimentos constantes da câmara e o intercalar de imagens mediadas por outros dispositivos, contribuem para a tensão que o filme vai gerando. A química entre Chris Pine e Denzel Washington é palpável, sendo que a sua relação vai evoluindo na medida em que têm de conjugar esforços para parar um comboio sem travões e em alta velocidade.   

Bruno Victorino

15. “Inception” (2010), de Christopher Nolan

Talvez o blockbuster mais influente e marcante dos últimos vinte anos. Não é necessariamente a obra-prima de Nolan, mas é seguramente a sua maior marca no panorama cinematográfico atual. Um tempo asiático inundado, um bar de hotel extremamente inclinado, um carro a despistar-se de uma ponte, uma luta anti-gravidade num corredor, uma impenetrável fortaleza, a cidade de Paris a dobrar-se sobre si mesma. Não houve nenhuma acrobacia que Nolan não testasse – sempre com os efeitos visuais reduzidos ao mínimo.

Pedro Barriga

14. “Collateral” (2004), de Michael Mann

O primeiro filme da fase digital da filmografia de Mann. Tal como em “Miami Vice”, assistimos à abstração das luzes da cidade de Los Angeles, onde acompanhamos os personagens de Jamie Foxx e Tom Cruise. O embate entre os dois vai colocando em crise os seus valores e convicções, aproximando as suas diferenças. Foxx é um taxista forçado a servir de condutor de Cruise, assassino profissional. Cruise é um robô que efetua metodicamente as suas tarefas sem pingo de humanismo. O táxi é o centro nevrálgico do filme, à volta do qual se vai desenrolando o novelo narrativo, pontuado pelo cumprimento das diferentes missões do assassino. Michael Mann faz colidir duas classes sociais distintas, sobre um pano de fundo de grande cidade, onde as características assépticas são acentuadas pela filmagem digital. 

Bruno Victorino

13. “The Dark Knight” (2008), de Christopher Nolan

O segundo Batman na trilogia de Christopher Nolan é frequentemente catalogado como o melhor, muito graças à interpretação mitíca de Heath Ledger. “The Dark Knight” é um fantástico noir, com algumas sequências de acção de enorme qualidade. Nolan assina aqui um dos seus melhores trabalhos no que toca à realização, embora “The Dark Knight Rises” também tenha excelentes cenas de acção. O mistério fundido com a escuridão de Gotham e a história negra de Batman criam o ambiente perfeito para que este seja um filme de acção único.

João Miguel Fernandes

“Rambo”, de Sylvester Stallone

12. “Rambo” (2008), de Sylvester Stallone

Stallone não precisa de apresentações. É o único actor de Hollywood a ter êxitos de bilheteira em cinco décadas diferentes, além de ser dos poucos artistas a ser nomeado aos Óscares para melhor argumento, melhor actor e melhor actor secundário. “Rambo” é o quarto filme da saga, mas possivelmente o melhor. Stallone faz uso da violência para demonstrar a brutalidade da guerra num contexto tão sensível aos americanos, e oferece um pouco mais de dramatismo ao seu eterno personagem. “Rambo” é um filme explosivo, repleto de violência e excelentes sequências de acção.

João Miguel Fernandes

11. “John Wick: Chapter 2” (2017), de Chad Stahelski

Possivelmente o mais fraco dos três filmes da saga John Wick, mas mesmo assim consegue ombrear com os melhores filmes de acção da década passada. Keanu Reeves volta a deslumbrar os espectadores com uma interpretação sólida e momentos de acção de grande qualidade. A história, contudo, repete-se um pouco e falha em inovar em momentos fulcrais, algo que o terceiro filme já consegue fazer. Destaque para o trabalho na fotografia de Dan Laustsen, que é um claro upgrade à componente visual do primeiro “John Wick”.

João Miguel Fernandes

10. “Sicario” (2015), de Denis Villeneuve

Não são abundantes os thrillers de acção que se pautam pela calma, sobriedade e incisão das cenas que pretendem mostrar. “Sicario”, aperfeiçoado como um relógio suíço, é um daqueles raros filmes que conseguem extrair tensão de situações tradicionalmente apresentadas em cinema como “normais” para um filme de acção, mas aqui o realismo e o respeito pela personagem e o movimento é tanto que quase parece que estamos a ser alvo de uma purificação espiritual perante aquilo que habitualmente nos servem nos filmes do género (com pipocas ao lado). Bastam algumas cenas para Denis Villeneuve, o realizador, conseguir extrair actuações de mão cheia entregues ao espectador enquanto observador da narrativa e de tudo o que ela implica. Assim está também a personagem de Emily Blunt, metáfora para o espectador dentro do próprio filme, mas que nem por estar dentro dele chegará a perceber afinal “como é que as coisas funcionam na realidade”.

David Bernardino

9. “Blackhat” (2015), de Michael Mann

Após se ter aventurado no mundo gangster de “Public Enemies” (2009), o realizador Michael Mann regressa ao visual estilizado, sóbrio e chamativo que criou para “Miami Vice” (2006). “Blackhat” segue essa fórmula ao trabalhar o género acção/thriller, estilizando-o na medida certa para alterar os seus pilares e criar uma experiência emocionante e única. “Blackhat” trata-se da incorporação de velhos símbolos do cinema de acção (Chris Hemsworth é um homem musculado, bem parecido e empático, tal como nos anos 80 e 90) num mundo moderno de computadores, hacking e outras formas de representar perigo, mas que poucos de nós de facto compreendem. Mais que isso, este é um filme que respira movimento, que requer atenção, que agarra o espectador na sua segunda metade e só o larga assim que termina. Essa é a magia da acção clássica que Michael Mann tão bem consegue recriar dentro do seu próprio estilo cinematográfico.

David Bernardino

“Kill Bill: Vol. 2”, de Quentin Tarantino

8. “Kill Bill: Vol. 2” (2004), de Quentin Tarantino

Este segundo capítulo talvez seja menos impressionante do que “Kill Bill: Vol. 1” (2003), mas não deixa de ser um desfecho satisfatório da sangrenta saga de vingança de Tarantino. Não faltam momentos de ação empolgantes, desde o árduo treino de The Bride sob a orientação do implacável Pai Mei, até à épica luta de espadas entre Black Mamba e California Mountain Snake. As duas mulheres mais mortíferas do mundo, finalmente frente a frente.

Pedro Barriga

7. “John Wick: Chapter 3 – Parabellum” (2019), de Chad Stahelski

A grande questão que se coloca através deste terceiro capítulo do mito John Wick é a mesma que já se havia colocado nos dois primeiros: poderá este ser o melhor filme de acção de sempre? Chad Stahelski, o realizador que assina todos os capítulos, e que são os únicos 3 filmes que jamais realizou, teima em fazer-nos acreditar que no género de acção existe cinema grandioso, um cinema cinético capaz de cumprir a cartilha do género e sucessivamente ultrapassá-la. Não se trata apenas de excelentes coreografias de acção, qual bailado clássico com o qual é feito paralelismo a determinada altura quando a veterana Anjelica Huston nos agracia com a sua presença no ecrã. Stahelski insiste em criar e expandir o seu próprio mundo cinematográfico, agarrando e torcendo todos os clichés que isso possa significar, quer no que diz respeito ao género de acção, quer no que toca ao próprio conceito de mundo cinematográfico que hoje em dia está tanto na moda. Em John Wick não existe qualquer vergonha na cara, e o realizador já o admitiu sem rodeios ou falsos preconceitos: “enquanto as pessoas quiserem ver novos capítulos de John Wick, nós vamos continuar a fazê-los”.

David Bernardino

6. “The Assassin” (2015), de Hou Hsiao-hsien

“The Assassin”, do conceituado taiwanês Hou Hsiao-hsien, incaracterizável no que diz respeito a género fílmico, move-se no cinzento campo do cinema enquanto arte contemplativa, qual quadro impressionista que nos deixa maravilhados com cada sublime plano. Aqui, as cores fazem o seu trabalho. Os silêncios, a quietude entre as antecipadas cenas de “acção” que abandonam o espectador, indefinidamente em suspenso. A consciência da sua protagonista, observadora e quieta nas sombras, confunde-se com a consciência de quem vê “The Assassin”, tanto quanto ao filme como quanto à personagem. Caracterizado ao mais ínfimo pormenor numa China feudal do século VII, todos os cenários, naturais e não só, vestimentas ou penteados são ingredientes de uma composição de rara beleza em todos os momentos do filme sem excepção. 

David Bernardino

5. “John Wick” (2014), de Chad Stahelski

Keanu Reeves estava a chegar a um ponto de não retorno na sua carreira, com uma década marcada por comédias românticas duvidosas e dramas de má qualidade, tudo dando ênfase às suas reais limitações enquanto actor. Até que chegou “John Wick”. O primeiro filme realizado por Chad Stahelski, experiente duplo em Hollywood, tornou-se filme de acção de culto marcando o comeback de Keanu Reeves ao estrelato e à boa forma, já contando com 3 capítulos na franquia, espantosamente nunca perdendo qualidade, e já vindo um quarto a caminho bem como uma série. Assumidamente um filme série B, “John Wick” não tem qualquer pudor em assumir a sua entidade: um filme de acção simples e directo, com coreografias objectivas e eficazes, como se de uma dança se tratassem, tudo dentro do conforto de um argumento irrealista e deliciosamente exagerado, nunca exigindo de Reeves mais do que a sua presença e carisma. Alie-se a isso uma palete de cores de encher o olha e uma edição irrepreensível que permite ao espectador saborear cada movimento e estamos perante um filme de acção quase perfeito.

David Bernardino

“Miami Vice”, de Michael Mann

4. “Miami Vice” (2006), de Michael Mann

Se há realizador onde é possível verificar uma diferença entre pré vs pós-digital esse realizador é Michael Mann. Se Mann realizou algum dos filmes de ação mais marcantes dos anos 80 e 90 (“Thief” (1981), “Heat” (1995)), filmados em película, a partir de “Collateral” (2004), ocorreu uma transformação profunda dos seus filmes, onde a estética das luzes da cidade noturna, já presentes nos filmes anteriores, assume um carácter mais abstracto e quase-experimental. Em “Miami Vice”, sobre este pano de fundo, surge uma narrativa fragmentada de detetives infiltrados no mundo da droga, mas onde sobressai fundamentalmente a relação romântica entre os personagens de Gong Li e Colin Farrell, condenada ao insucesso pelas diferentes circunstâncias de vida, mas mais memorável e arrebatadora por esse mesmo motivo.

Bruno Victorino

3. “Kill Bill: Vol. 1” (2003), de Quentin Tarantino

A primeira das duas partes em que “Kill Bill” foi dividido é seguramente a mais repleta de ação. O filme abre com a luta entre duas inimigas, uma delas supostamente assassinada há anos. O campo de batalha? Uma sala de estar. A arma? Qualquer objeto que venha à mão (até uma caixa de cereais serve). Tarantino pegou em todos os filmes de artes marciais que vira ao longo da vida – centenas, por certo – e imprimiu o seu cunho pessoal: diálogos memoráveis, violência gráfica (os ridículos esguichos de sangue dos Crazy 88) e entretenimento sem limites. Em “Kill Bill: Vol. 1”, Tarantino demonstra uma noção de estilo que vai desde a sua forma de coreografar cenas de ação até à forma de vestir os personagens (quem não conhece o macacão amarelo de Uma Thurman, uma homenagem ao artista marcial supremo, Bruce Lee). 

Pedro Barriga

2. “Death Proof” (2007), de Quentin Tarantino

Adepto assumido de um certo cinema de nicho dos anos 70, Tarantino decidiu fazer homenagem aos filmes série Z desta época com o projecto Grindhouse, do qual fez igualmente parte Planet Terror de Robert Rodriguez. Em “Death Proof”, o realizador explora a linguagem mais básica do cinema trash, mais especificamente da sexploitation, através de mulheres sedutoras, muscle cars e perseguições alucinantes. “Death Proof” é um dos grandes momentos em que o revivalismo se torna vanguarda e em que a reciclagem de linguagens cinematográficas passadas se torna um dos pontos chave que iriam definir o cinema da segunda década do séc. XXI.

David Bernardino

1. “Mad Max: The Fury Road” (2015), de George Miller

Assistir a “Mad Max: Fury Road” é continuamente questionar-se: como é que isto foi filmado? Como é que alguém saiu vivo da rodagem deste filme? Não há sítio onde Miller não coloque a câmara. Não há acrobacia que Miller não experimente. Do alto dos seus 75 anos de idade, Miller cria um deserto pós-apocalíptico e presenteia-nos com uma perseguição de carros que na sua quase totalidade carece de efeitos visuais. Apesar de “Fury Road” ser o quarto capítulo da saga, a experiência de assistir ao filme é sempre de tirar o fôlego, quer não se conheça os filmes anteriores, quer se esteja a ver “Fury Road” pela décima vez. Não é só um dos melhores filmes de ação do século XXI, é dos melhores filmes de ação de sempre.

Pedro Barriga

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