50 anos de “In the Court of the Crimson King”, icónico disco dos King Crimson

por José Malta,    9 Outubro, 2019
50 anos de “In the Court of the Crimson King”, icónico disco dos King Crimson
Capa do disco “In the Court of the Crimson King”
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A década de 60 do século XX foi uma época de transformação do rock, com a adaptação de novas tendências e com a introdução de outros estilos musicais. O rock ganharia novas vertentes desde a inclusão do pop, do blues, do jazz e do folk, passando ainda pelos instrumentos de teclas e órgãos que lhe confeririam um certo psicadelismo, sendo estes ingredientes que o tornariam num estilo musical ainda mais saboroso. Com esta mistura de tendências, surgiria um novo estilo de música rock, a que muitos denominariam por rock progressivo, e que começaria a ser explorado intensivamente no final desta década. Foram várias as bandas que começariam a explorar esta vertente que, para além de ser uma miscelânea musical, onde vários instrumentos e diferentes estilos musicais são incluídos, tornar-se-ia num dos conceitos do rock mais apelativos de sempre, dada a sua versatilidade e adaptabilidade. Será difícil dizer qual foi o grande inventor ou pioneiro do rock progressivo, pois foi uma tendência que foi surgindo espontaneamente. Foram várias as bandas e os intérpretes que conseguiram promovê-lo, abrindo caminho para uma era repleta de novidades musicais. Contudo, o primeiro álbum dos King Crimson lançado a 10 de Outubro de 1969 é, provavelmente, a primeira grande obra do rock progressivo sendo ainda hoje uma peça fundamental do melhor da música que se produziu no século passado.

Gravado entre Junho e Agosto de 1969 na Wessex Sound Studios, In the Court of the Crimson King seria o grande estoiro da afirmação do rock progressivo que prometia ainda ter muito para dar nos anos vindouros. A banda formada em Londres em 1968, na altura composta por Robert Flipp na guitarra, Michael Giles na percussão, Greg Lake como vocalista e baixista e Ian McDonald nos instrumentos de teclas e de sopro, dava a conhecer o seu trabalho em Julho de 1969 no evento The Stones in the Park. Tal evento musical conduzido pelos The Rolling Stones no Hyde Park, em Londres, banda que se encontrava numa fase já bastante madura, contaria com a presença de mais de 250 mil espectadores. Algumas bandas estreantes, ainda pouco conhecidas, tiveram a oportunidade de exibir as suas qualidades musicais, sendo os King Crimson uma delas. A actuação dos King Crimson fora um enorme sucesso sendo também a rampa de lançamento para o seu primeiro álbum de originais. Daí que os meses seguintes seriam inteiramente dedicados à gravação do primeiro álbum da banda que seria aclamado pela crítica e considerado, ainda hoje, por muitos, como o grande impulsionador de um rock progressivo que se expandiria na década de 70. Todas as letras foram escritas pelo então Peter Sinfield, também ele fundador e mentor dos King Crimson, que traria uma nova alma às canções graças à sua poesia, que seria promotora de todo um repertório da própria banda.

A capa do álbum, ilustrada por Barry Godber, programador informático que morrera poucos meses depois do lançamento álbum devido a um súbito ataque cardíaco, mostra a ilustração de um rosto com um olhar aparentemente sofrível, em tons rosas e azulados. No interior do álbum, são, também, encontradas algumas ilustrações fantasmagóricas do mesmo género, que conferiam uma vertente mais artística a este trabalho musical. Tal arte promoveria o rock progressivo inerente no álbum, com algumas nuances de art rock, psicadelismo e até de algum metal, ainda que bastante incipiente. Apesar das cinco faixas, o álbum possui uma duração total de cerca de 44 minutos, tendo tido um sucesso bastante considerável e um impacto que conseguiria inspirar outros tantos músicos rock a envergarem para a sua parte sinfónica, artística e, por conseguinte, progressiva e até futurista. Esse futurismo surge logo com 21st Century Schizoid Man, faixa que inicia esta aventura musical pelo universo dos King Crimson. A um ritmo de percussão acelerado e sempre com a guitarra e o baixo, que adaptam às diferentes partes da melodia, esta canção pode ser dividida, numa primeira parte, onde os instrumentos dos músicos emergem e as duas primeiras quadras do poema de Peter Sinfield são proclamadas, uma segunda parte onde existe uma sinfonia musical marcada pelo ritmo acelerado de cada instrumento tornando esta numa sinfonia com traços psicadélicos, e uma terceira parte semelhante à primeira, onde a última quadra é proclamada. Com uma letra bastante crítica em relação àquele que seria o homem do século XXI, esta é uma canção que exibe uma vanguarda musical que poucas bandas até à data conseguiam dar a conhecer.

Segue-se I talk to the Wind, faixa que se inicia ao som de uma flauta e de um clarinete que se tornam predominantes ao longo da canção. Possui uma letra mais longa e um registo diferente em relação à faixa anterior. Com coros calmos, um compasso mais lento, e um órgão que consegue estar à altura da própria canção, todos estes elementos dão cor a uma melodia suave do rock progressivo, ainda que com ligeiros tragos do folk. Já Epitaph apresenta tonalidades de um rock mais dramático com vestígios de psicadelismo marcado também por um órgão predominante, numa melodia que ultrapassa os oito minutos de duração. A letra, algo longa, aborda uma espécie de drama na escrita do epitáfio onde o narrador proclama várias vezes, ao longo da melodia, o verso “Yes I fear tomorrow I’ll be crying” de forma intensa. Moonchild volta a um registo mais suave onde existe uma predominância dos instrumentos de teclas intensificada ao longo da canção, que fala de uma criança vinda da lua. A parte vocal termina com o contraste em relação a uma criança vinda do sol através do verso “Waiting for a smile from a sun child“, dando início a uma parte instrumental suave, embora com sons desconcertantes. Por último, o álbum termina com a faixa que lhe confere o nome, também ela, uma canção que marca aquele que foi o rock desenvolvido pelos King Crimson. Com uma duração total de dez minutos, The Court of Crimson King é uma das canções mais emblemáticas do rock progressivo. Com traços abundantes de rock psicadélico, coros intensos, teclados predominantes, e uma percussão incansável, esta trata-se de uma espécie de ópera progressiva que conseguiu transpor os King Crimson para o estatuto de banda altamente influente num rock que prometeria trazer grandes novidades nos anos seguintes.

Em meio século, o rock sofreu grandes transformações para que hoje continuasse a ser um género musical bastante apelativo. In the Court of Crimson King foi um álbum de referência na música produzida na segunda metade do século XX, onde o rock se apresentava como o estilo musical mais susceptível à inclusão de outras tantas vertentes. Existem versões remasterizadas do disco com melhorias de som e outras faixas bónus adicionadas, tornando este num álbum que continua ainda hoje a ser bastante explorado. Os King Crimson entraram, assim, no estrelato musical, o que permitiu que, passados cinquenta anos, o seu álbum de estreia, bem como outros álbuns da sua autoria, continuassem a ser ouvidos e a servir como fonte de inspiração para outros tantos músicos, que ousam melhorar o rock a cada dia que passa, tal como este grupo o soube fazer.

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