50 anos de ‘Shades of Deep Purple’, dos Deep Purple
Decorria o ano de 1968, um ano que seria marcado musicalmente pela intensificação de variantes do rock, já experimentadas e testadas nos anos anteriores e que eram cada vez mais vistas como áreas promissoras deste género musical. O rock progressivo e psicadélico tinha já começado a dar cartas com bandas e artistas que foram surgindo e que teriam um sucesso muito considerável, até. O ano anterior, 1967, foi marcado por grandes estreias no rock como Jimi Hendrix, Pink Floyd ou The Doors, que deram azo a que novas bandas se sentissem inspiradas e apostassem nas mesmas vertentes. Daí que, dado o impacto musical de tais intérpretes, no ano seguinte novas bandas se tenham formado; podemos falar dos Led Zeppelin, dos Black Sabbath e ainda dos Deep Purple, cujo primeiro álbum, lançado no mesmo ano de fundação da banda, celebra hoje meio século de existência.
O grupo (originalmente designado por Roundabout) foi uma ideia do ex-baterista dos Searchers, Chris Curtis, que recrutou Jon Lord e Ritchie Blackmore. Curtis acabou por ficar muito pouco tempo no projecto, não gravando qualquer álbum com os restantes membros da sua banda. A formação final ficaria completa com a entrada do vocalista Rod Evans, o baixista Nick Simper e o baterista Ian Paice, em Março desse mesmo ano. Os membros tinham a ideia de criar uma banda versátil que pudesse explorar novos estilos do rock. Ao que consta, o álbum foi gravado ao longo de apenas três dias do mês de Maio de 1968, apresentando canções meticulosamente trabalhadas num álbum que iria transformar clássicos já conhecidos em melodias psicadélicas. Shades of Deep Purple era o nome do trabalho que permitiria os Deep Purple iniciar oficialmente a sua carreira musical, contendo quatro músicas originais e quatro covers. O álbum, lançado nos Estados Unidos a 17 de Julho e em Setembro no Reino Unido – onde teve um número de vendas mais reduzido – conseguiria dar sinais de que os Deep Purple poderiam vir a ser uma das mais bem sucedidas bandas nos anos vindouros. E assim foi.
“And the Address” é a melodia que o inicia. Trata-se de um instrumental num estilo meio psicadélico onde a percussão acelerada, juntamente com os riffs de guitarra e o teclado incansável, dão corpo a uma melodia típica dos anos 60. Após desmontadas as potencialidades musicais da banda, segue-se “Hush”, cover de Billy Joe Royal, com uma melodia do mesmo género sobre a qual surgem coros dos membros da banda, bem como a voz de Rod Evans, evocando uma certa versatilidade musical dos próprios Deep Purple. “One More Rainy Day” é mais um original da banda britânica, que conta com um início tempestuoso, seguido de uma agradável sintonia entre teclados e percussão que rapidamente se funde com as guitarras e o timbre suave dos vocais. “Prelude: Happiness/I’m So Glad” trata-se de uma sinfonia dos instrumentos que exibem bem as habilidades da banda numa agradável conjuntura musical cheia de altos e baixos.
Abrindo a segunda metade do álbum, segue-se “Mandrake Root”, um hino às drogas que inspiravam os artistas do rock psicadélico, que retrata a planta que produz uma das toxinas alucinogénicas mais famosas dos anos 60. “Help!”, sexta faixa do álbum, trata-se de um cover da ilustre canção dos The Beatles lançada em 1965, num compasso mais pausado que a original e marcada pelas teclas dos sintetizadores. “Love Help Me” leva-nos a um ritmo mais acelerado, passando para um registo mais psicadélico, sendo esta uma canção que marca algum do estilo por detrás dos Deep Purple. Por fim, o álbum termina com “Hey Joe”, cover de uma das mais emblemáticas canções do rock, dada a conhecer ao mundo pela guitarra do mítico Jimi Hendrix, cujo álbum de estreia fora lançado no ano anterior. Nesta versão, a canção conta com um estilo ainda mais psicadélico que só os Deep Purple lhe poderiam conferir, terminando assim um álbum de estreia com um sucesso bastante considerável, sendo ainda hoje visto como uma das pérolas do rock psicadélico.
Shades of Deep Purple foi assim o primeiro degrau do percurso musical dos Deep Purple, que seria marcado por um total de 20 álbuns de estúdio (até ao momento), saídas e entradas de membros, concertos inesquecíveis e ainda todo um legado musical que inspirou outras bandas. Provavelmente, a imortalidade dos Deep Purple é comprovada pela canção “Smoke on the Water”, do álbum Machine Head, lançado em 1972. Contudo, o percurso dos Deep Purple é muito mais do que uma mera canção que os levou a um estatuto de reconhecimento universal, mas sim todo um trabalho musical recheado de uma exploração musical intensiva, criação de músicas originais e a execução de concertos memoráveis, que continuam ainda hoje a contagiar e a inspirar outros tantos seguidores, que pretendem promover ainda mais esse estilo musical tão versátil e moldável que é o rock.