Spike Lee: ‘nunca direi que todos os polícias são corruptos, ou que todos detestam pessoas negras’

por Comunidade Cultura e Arte,    27 Agosto, 2018
Spike Lee: ‘nunca direi que todos os polícias são corruptos, ou que todos detestam pessoas negras’
Spike Lee e Boots Riley

Na semana passada, o rapper, realizador e activista Raymond Lawrence Riley, mais conhecido por Boots Riley, criticou negativamente “BlacKkKlansman”, o novo filme de Spike Lee. Entre várias declarações, Riley disse que Spike tentou mudar factos históricos para dar uma imagem mais positiva da polícia norte-americana.

Em Maio deste ano, o nosso enviado especial ao Festival de Cannes, Paulo Portugal, referiu que “grande parte do triunfo do novo filme de Spike Lee passa pelo humor que o cineasta colocou para falar de coisas bem sérias.”

“BlacKkKlansman”, que recebeu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, estreou nos cinemas norte-americanos a 10 de Agosto e, como é apanágio dos tempos tempos modernos, tudo, ou quase tudo, acaba nas redes sociais. Sendo assim, Boots Riley publicou na sua conta do Twitter uma espécie de ensaio sobre a nova obra de Spike Lee. Riley começou por elogiar o cinema de Spike Lee mas depois acabou por criticar de forma clara o conteúdo, comparando “BlacKkKlansman” com o anterior filme de Lee “Chi-Raq”, de 2015, dizendo: “os negros devem deixar de se preocupar com a violência policial e preocuparem-se com o que fazem uns aos outros, pois a policia é contra o racismo de qualquer das formas.

“BlacKkKlansman”

“BlacKkKlansman” é uma comédia dramático policial co-escrita e dirigida por Spike Lee, baseada no livro autobiográfico “Black Klansman”, de Ron Stallworth. John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier e Topher Grace fazem parte do seu elenco.

Um dos grandes alvos do rapper foi a própria personagem de Ron Stallworth (interpretada por John David Washington), um ex-polícia americano que se infiltrou nas fileiras da KKK, no final dos anos 70, e que se tornou no primeiro polícia afro-americano e detective no Departamento de Polícia de Colorado Springs. Segundo Riley, Stallworth infiltrou-se em organizações radicais negras que combatiam o racismo para as destruir. Já Spike Lee retrata Stallworth como um herói no seu “BlacKkKlansman”.

Spike Lee e Ron Stallworth

Por fim, e numa entrevista ao The Times, Spike Lee comentou o caso e disse: “Vejam os meus filmes, eles têm sido muito críticos em relação à polícia, mas por outro lado, nunca direi que todos os polícias são corruptos, que todos os polícias detestam pessoas negras (…) nós precisamos da polícia. Infelizmente, a polícia, em muitos casos, não aplicou a lei; eles quebraram a lei”.
O realizador de “BlacKkKlansman” disse ainda que “os negros não são um grupo monolítico“, ou seja, formado de uma só pedra, todo rígido, homogéneo, impenetrável, e fez questão de relembrar as inúmeras críticas que recebeu depois de realizar “Malcom X”, em 1992: “como pode um burguês como Spike Lee fazer o Malcolm X?‘”, relembrou Lee.

“BlacKkKlansman” estreia nos cinemas portugueses a 6 de Setembro.

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