Mônica Benício: “O assassinato de Marielle Franco foi um recado claro de um estado fascista”
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202 dias.
Quem matou Marielle e Anderson? Quem mandou matar Marielle?
Foi há mais de seis meses que Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro, e Anderson Gomes, seu motorista, foram brutalmente assassinados, na capital daquele estado.
Desde então, a investigação decorre sob sigilo, mas falha em dar respostas sobre os autores do crime. As suspeitas são muitas e fazem correr tinta nos meios de comunicação social brasileiros.
Em Maio, noticiava-se numa reportagem do jornal O Globo, o envolvimento de Marcello Siciliano, vereador do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), e de Orlando de Oliveira de Araújo, antigo polícia militar e dirigente de uma milícia. Meses depois, em Julho, um polícia militar reformado, Alan Nogueira, e um ex-bombeiro, Luiz Claudio Ferreira Barbosa, foram detidos e indiciados pelo assassinato.
Atualmente, há três deputados estaduais no Rio de Janeiro do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que é a maior força política do estado, que estão na mira dos investigadores do caso. São eles: Edson Albertassi, Paulo Melo e Jorge Picciani, este último, um dos principais caciques do partido do governo e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ). Os três foram presos no ano passado, pelo braço da Operação Lava Jato no Rio, acusados de terem recebido subornos milionários.
Para Mônica Benício, víuva de Marielle, com quem conversamos nesta entrevista, “o crime foi um recado claro de um estado fascista”. Marielle Franco carregava no corpo o peso das suas causas. Era mulher, negra, favelada, lésbica, defensora de Direitos Humanos, e uma voz crítica da brutalidade policial vivida no Rio de Janeiro.
Marielle, segundo a companheira, era um perigo por aquilo que representava num Brasil que é “dominado por uma política composta de homens brancos, héteros, fundamentalistas, racistas, e homofóbicos”.
No episódio de hoje, gravado no dia 25 de Setembro, na sede da Amnistia Internacional Portugal, em Lisboa, alguns dias antes da maior manifestação liderada por mulheres no Brasil, conversamos com Mônica Benício, arquiteta brasileira, feminista, ativista pelos direitos humanos e LGBTI, e viúva de Marielle Franco. Falamos sobre a investigação em torno da morte da sua companheira, da intervenção militar no Rio de Janeiro, da importância do movimento feminista brasileiro contra o candidato Jair Bolsonaro, e do legado de Marielle Franco e a continuidade do seu projeto político.
Texto e entrevista: Maria Almeida
Preparação: Maria Almeida, Pedro Miguel Santos e Ricardo Esteves Ribeiro
Som: Bernardo Afonso
Vídeo: Bernardo Afonso e Frederico Raposo