kathryn e Cristiano
Partilhei ontem a reportagem da revista alemã Der Spiegel que conta em detalhe a acusação de Kathryn Mayorga contra Cristiano Ronaldo.
Faço questão de escrever o nome da queixosa (e não apenas ‘uma mulher americana’) porque aquilo que me faz voltar ao tema é o terrível perigo de desumanização em que vejo muita gente a incorrer nos comentários a este caso. Cristiano Ronaldo é Cristiano Ronaldo. Não é preciso acrescentar encómios aos feitos desportivos do maior atleta português de todos os tempos. Kathryn Mayorga é ‘só’ uma mulher americana. Não é por ser ‘só’ isso, no entanto, que deixa de ter os direitos que todos temos.
Aquilo que me choca nas dezenas de comentários ao post (em que eu pedia explicitamente que só o comentasse quem tivesse lido a reportagem na íntegra) é a incapacidade de empatia com alguém que afirma (de forma credível, numa peça jornalisticamente inatacável) ter sido violada.
Kathryn Mayorga apresentou queixa na polícia no próprio dia em que esteve comprovadamente com Cristiano Ronaldo e foi submetida a testes médicos.
O acordo que alguns dizem ser a confissão de que Kathryn será uma ‘gold digger’ em busca de mais dinheiro, pode ser visto, invertendo a situação, como uma confissão de culpabilidade por parte do acusado.
Perguntam alguns, sem terem lido a reportagem ou não tendo dado atenção ao que leram: se ela aceitou calar-se, porque não ficou então calada e vem agora, nove anos depois, denunciar o caso? A pergunta está respondida com clareza na peça do Der Spiegel. Aliás, a ideia de que foi Kathryn que desenterrou a história é falsa. O caso tornou-se público por uma notícia do Der Spiegel que, no ano passado, teve acesso – via Football Leaks – aos documentos assinados para pagar o silêncio da alegada vítima.
O caso é sério, credível e já levou a polícia de Las Vegas a abrir uma investigação.
Kathryn Mayorga merece que se lhe dê atenção. Se se provar que Cristiano Ronaldo a violou não há glamour, dinheiro e fama que o redimam da censura social que um crime sexual exige.
Já agora, onde pára o activismo português em defesa das mulheres, que ainda não foi capaz de se pronunciar sobre este caso?
Texto escrito por Carlos Vaz Marques, publicado originalmente na sua conta de Facebook e divulgado aqui com a devida autorização.