O doom bem entranhado em ‘King of Cowards’, dos Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs
Os Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs (Pigs x7) são cinco homens oriundos da nebulosa cidade de Newcastle, em Inglaterra. E os Pigs repetem-se sete vezes porque “basta pesquisar pelo número sete no Google”, justificou o vocalista Matt Baty. São uma banda peculiar, vestem-se tanto de rock ‘n’ roll, como de imprevisibilidade hooligan, mas é em cima do palco que executam uma detonação doom sem precedentes. King of Cowards é o mais recente álbum.
Foi em 2013, através de The Wizard and the Seven Swines, um álbum dividido com os escoceses The Cosmic Dead, que os Pigs x7 se deram a conhecer na cena doom psych europeia. Nos últimos dois anos, a banda de Newcastle apresentou Feed the Rats e encheu palcos com actuações incendiárias, incluindo a passagem pela Galeria Zé dos Bois, em Setembro. Agora, os Pigs x7 voltam à esfera da Rocket Recordings para se afirmarem definitivamente pela mão do segundo disco, King of Cowards.
O quinteto britânico não se move por riffs pantanosos ou baterias longínquas, não é doom lamacento, apesar das secções rítmicas rastejarem por detrás das vozes distantes de Matt Baty. Se Feed the Rats está longe de todos estes ingredientes, King Of Cowards também não é diferente. Contudo, não deixa de acrescentar pormenores interessantes, sem se demarcar de uma identidade sonora cada vez mais vincada.
O single “Cake of Light” levantou o primeiro véu: não é uma cantiga explosiva e não se enche de brutalidade como as restantes, mesmo que se eleve em bpm’s; as guitarras soam limpas e a voz brutesca de Baty está mais perto dos nossos ouvidos. A faixa inaugural, “GNT”, chega através de feedback e uma tensa linha de baixo, mas não perde tempo nem andamento até rebentar numa explosão de baterias e riffs destruidores. As primeiras notas de “Shockmaster” indiciam tiques áridos de stoner semelhante ao praticado pelos intemporais Sleep: compassos vagarosos, baixo gigantesco e vozes evocativas. Uma prática coerente que, apesar de cair a pique em “A66”, se vai construindo de tema para tema, culminando nos berros em ‘adágio’ de “Cloamer”.
É possível que, em King of Cowards se encontrem muitas semelhanças com Feed the Rats. A estrutura trabalhada por Pigs x7 é estanque, pouco imprevisível, habitualmente repetitiva, bem ao género doom/stoner; no entanto, garantem uma trademark essencial que nunca chega a ser massacrante ou inaudível, mas está assente na principal arma do grupo: as vozes gritantes e indecifráveis. Apesar de não ter rasgos de genialidade, King of Cowards é um album avassalador. Já o título sugestivo (Feed the Rats também o é) fica ao critério do panorama social e político mundial.