MINI x Sofar Sounds: a magia da música em 9 cidades diferentes, em simultâneo

por Comunidade Cultura e Arte,    18 Outubro, 2018
MINI x Sofar Sounds: a magia da música em 9 cidades diferentes, em simultâneo
MINI x Sofar Sounds – NBC – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

Sofar Sounds (ou Songs for a Room) tem como principal conceito vivenciar a música e desligar de tudo o resto. Sabemos a hora, a cidade, no dia anterior comunicam-nos, por e-mail, o local e a partir daqui entramos noutro universo, num universo intimista. Deixamo-nos levar e é aí que a magia acontece, momentos inéditos, inesquecíveis, em espaços igualmente únicos e muitas vezes impensáveis. Este projeto já acontece em mais de 400 cidades por todo o mundo, o que é bastante impressionante, de louvar, uma vez que os eventos são organizados com orçamento zero e as equipas movem-se apenas pela paixão que têm pela música, pela divulgação desta.

A tarde de 13 de Outubro foi particularmente invulgar porque a MINI e o Sofar Sounds juntaram-se para organizar um grande e memorável evento de música nacional. Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Leiria, Faro, Almada/Seixal, Funchal e Ponta Delgada foram as cidades anfitriãs. Em nove cidades ocorreram vinte e sete concertos em simultâneo.

MINI x Sofar Sounds – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

A primeira edição de Sofar Sounds em Leiria ocorreu neste sábado, 13 de Outubro, e nem a Tempestade Leslie impediu que nos deixássemos levar.

Em Leiria tudo começou no Stand Bomcar às 16h. Receção improvável para um evento de música. Era notável a estupefação de quem chegava e avistava as filas alinhadas de carros Mini Cooper. Pairava no ar a dúvida: “será que vai ser aqui ou será que vamos fazer um test drive?”. As respostas vieram quando, após inscrição e welcome drink, se dirigiram aos carros para se deslocarem para o local onde, efetivamente, decorreriam os concertos. Quem quisesse podia conduzir quem não quisesse tinha um/a motorista à disposição para os levar até à Quinta Alves de Matos na Ortigosa. Quando chegámos deparámo-nos com um local encantador. Piscina, sofás, relva, árvores, floresta em redor. Sumos naturais de abacaxi/hortelã, frutos vermelhos, limonada de maça à descrição. Bancos de papel do Sofar Sounds com o mote “Deixa-te Levar”. E música. Muita música boa. Até a atmosfera, que se previa catastrófica, contribuiu para mistificar o ambiente.

Os primeiros artistas da tarde foram os Flying Cages, banda indie rock de Coimbra constituída por Rui Pedro Martins (bateria), Bernardo Franco (baixo), Francisco Frutuoso (guitarra) e Zé Costa (voz e guitarra). Neste dia trouxeram mais um elemento o Pedro Castilho (teclas). Apresentaram-se em palco de uma forma despreocupada, divertida. São bastante competentes naquilo que fazem (o vocalista encontrava-se visivelmente doente e isso não foi impeditivo de dar um bom concerto) mas carecem de originalidade, há uma excessiva colagem a outras bandas do mesmo género e tornou-se difícil nos abstrairmos disso. Falta-lhes criar identidade para se tornarem únicos, para criarem uma sonoridade singular. Do que ouvimos acreditamos que têm capacidade para tal.

MINI x Sofar Sounds – Flying Cages – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

Após um pequeno intervalo prosseguimos com Meera, banda exótica do Porto, pode ser desconhecida para alguns mas aconselhamos a fixarem o nome que este projeto promete. Em palco estavam os três elementos da banda Jonny Abbey (guitarrista e vocalista), Cecília Costa (vocalista e baterista) e Leonardo Pinto – Goldmatique (teclas). Este trio, cujas músicas baseiam-se bastante em todas as viagem que fizeram para os mais diversos locais do mundo, tem uma energia contagiante, eletrizante. O som frenético, libertador fez com que nos levantássemos dos bancos ou do chão e dançássemos quase desenvergonhadamente. A interação com o público foi incrível. Dificilmente houve alguém que não tenha, no mínimo, batido o pé no remix da música “She Wants to Move” dos N.E.R.D. (música reconstruida e recriada de forma fenomenal). Deixamos o aviso que no dia 26 de Outubro vão lançar um novo single. Vale a pena ouvir. Nós já ouvimos e recomendamos.

MINI x Sofar Sounds – Meera – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

Anoitecia, e a tempestade começava a sentir-se, quando entrou em palco o Timóteo Tiny, artista popularmente conhecido como NBC (Natural Black Color) . Foi um dos fundadores do movimento Hip Hop em Portugal nos anos 90. No entanto ele próprio admitiu que já não se revê nessa definição. É mais do que isso. O que ele deseja, e consegue, é chegar às pessoas. Misturar jazz, funk, soul, música portuguesa para verbalizar tudo o que tem dentro. E tem tanto. Transborda talento e sentimento. Esse sentimento é palpável. Dominou-nos. Ironicamente iniciou o concerto com uma música que falava de Hurricanes, de olhos fechados e braços abertos cantava “I´m a tree with long roots”. Arrepiante. Portador de uma voz densa, consistente, potente por momentos fez nos lembrar Benjamim Clementine. A partir daqui estávamos rendidos às improvisações que fez, ao enquadramento que deu às canções, à entrega que deu. Ele e o pianista que o acompanhava acertaram-nos em cheio. Infelizmente atuou sempre ao compasso das condições climatéricas que aquela hora se começaram a sentir. Abruptamente teve de terminar mas mal sabíamos nós que o melhor, ainda melhor, estava para acontecer. Fomos para uma sala de eventos e o artista presenteou-nos com duas músicas à capela, “Homem” e “Espelho” do álbum “Toda a gente pode ser tudo” lançado no final de 2016. É indescritível o que presenciámos. As palavras não chegam. A comoção era total. A nossa e a dele. Fez-nos acreditar, sentir, que realmente quando há paixão, vontade toda a gente pode ser tudo. Podemos ser tudo. E alguém fazer-nos sentir isso é único. Gratidão é a palavra que encontro. Por tudo o que ouvimos. Por haver momentos destes. Por haver Sofar Sounds. Um Muito Obrigada por nos terem deixado levar.

Mini x Sofar Sounds Leiria – Fotografia de Idalécio Francisco

Em Lisboa, e sem termos de fazer mudanças de última hora, os espectadores foram chegando de MINI ao NOW Lisboa, um antigo espaço industrial em Marvila. Na antiga entrada lia-se “Só é permitida entrada a pessoas ao serviço d’esta casa” e por muito que o espaço se enchesse de gente que nunca vimos na vida, não havia ali um único estranho. O espírito do Sofar faz-nos arranjar espaço para outras pessoas, faz-nos contornar, faz-nos moldar, faz-nos conhecer, sejam pessoas, sejam culturas, sejam espaços, sejam músicas.

Foi com muito pouca estranheza e timidez que Tiago Bettencourt pegou na sua guitarra e fez, daquele espaço, a sua sala de estar, interagindo com todos, pedindo músicas para tocar. A boa disposição foi embalada ao som da sua voz que nos acompanha desde os tempos dos Toranja. As letras continuam intrincadas, contrastando com as melodias simples que nos ficam no ouvido. Com o último álbum lançado no ano passado, Tiago Bettencourt tem estado em quase todo o lado e, para aqueles que não puderam estar presentes neste mini-concerto intimista, haverá um concerto no Coliseu dos Recreios a 6 de Dezembro.

MINI x Sofar Sounds – Tiago Bittencourt – Fotografia de Linda Formiga/CCA

Em seguida, GOSTO, um  músico holandês que deu o seu primeiro concerto em Portugal. Numa versão bastante mais despida das suas músicas (estava à guitarra, fazendo-se acompanhar por teclas), GOSTO apresentou-nos aquele som descontraído, passível de ser ouvido numa qualquer praia caribenha. Contudo, a versão de estúdio ganha uma roupagem electrónica, dando-lhe uma nova alma, com um (grande) toque trip-hop. GOSTO tem este nome porque os pais quiseram dar-lhe algo português. Não haverá, porventura, nome melhor para a sensação de serenidade que nos deixou a todos.

Mas se Tiago Bettencourt e GOSTO foram calmos, os D’alva desarrumaram tudo. Terão talvez uma sonoridade que agrada às camadas mais novas, mas, na sua pop, têm soul, têm hip-hop e têm, acima de tudo, uma enorme qualidade individual e colectiva. Com o disco ‘Maus Êxitos’ acabadinho de lançar, os D’Alva puseram todo o público de pé, a dançar, num privilégio certamente irrepetível e só possível graças aos pequenos espaços aos quais o Sofar Sounds nos leva.

D’ALVA – MINI x SOFAR SOUNDS – Fotografia de Vera Marmelo

Em Leiria foram desmobilizados meios para proteger da tempestade, em Lisboa tivemos o conforto de um espaço com dezenas de anos, e nas outras cidades?

No Porto, no espaço 3+Arte, o público deixou-se levar pela MINI para assistir a concertos intimistas dos magníficos Best Youth, que entrevistámos na semana passada e que estarão no Espaço Time Out em Lisboa já no próximo dia 19 de Outubro e na Casa da Música no dia 25 de Outubro, para apresentarem ‘Cherry Domino’, o excelente segundo disco que tanto nos delicia. Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas apresentaram temas novos e antigos em formato acústico, num showcase que, segundo os relatos, deixou todos de boca aberta.

Best Youth – MINI x Sofar Sounds

Também ao Porto chegaram Fredy Beats, beatboxer espanhol, e Luke Marzec, duas estreias em Portugal.

Um dos sítios mais improváveis para esta experiência única que é o Sofar será uma fragata com 175 anos. Pois, aconteceu. Em Almada, a Fragata D. Fernando II e Glória, de 1843, que reuniu Tainá, uma cantora brasileira, Pierre Danae (França) e PIVOT (Espanha), estes últimos dois em estreia.  Foi o local ideal para navegar nas vozes destes artistas que, muito em breve, conquistarão palcos imensos para a qualidade das suas criações.

Tainá – MINI x Sofar Sounds

A edição MINI x Sofar Sounds chegou a 9 cidades, algumas pela primeira vez, para, num esforço colectivo e louvável, levar artistas consagrados e emergentes a espaços intimistas, numa experiência enriquecedora para todos os que nela participam.

Todos os artistas neste MINI x Sofar Sounds em seguida:

LISBOA
– Line Up –
Tiago Bettencourt
GOSTO
D’Alva

PORTO
– Line Up –
Best Youth
Luke Marzec

ALMADA
– Line Up –
Tainá
LEIRIA
– Line Up –
Flying Cages
MEERA
COIMBRA
– Line Up –
Lince
Janeiro
SEASE
BRAGA
– Line Up –
Monday
OMIRI
Leo Middea (Brasil)
FARO
– Line Up –
Russa
Whales
Time For T.
FUNCHAL
– Line Up –
Diana Duarte (Madeira)
João Borges (Madeira)
Joana Espadinha
PONTA DELGADA
– Line Up –
Sara Cruz (Açores)
We Sea (Açores)
Vaarwell
Texto de Ana Moreira (Introdução e Leiria) e Linda Formiga

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