Concerto de Patrick Watson: uma noite em que escapámos para um lugar melhor
Na noite de 3 de Dezembro, em Coimbra, o Patrick Watson fez do Convento de São Francisco a sua casa, do palco a sua sala de estar e da plateia o seu lar.
Desde 2015 que aguardávamos pelo regresso do cantor canadiano Patrick Watson a Portugal. Esse momento, para nós, chegou na noite de 3 de Dezembro, em Coimbra, no Convento de São Francisco. O músico veio acompanhado da sua banda composta pelo Joe Grass (guitarra), o Robbie Kuster (percussão) e o Mishka Stein (baixo).
Já passavam das 21h30 quando começou o concerto de abertura La Force. Este projeto indie pop, com influências de folk e eletrónica, é responsabilidade da cantora e compositora canadiana Ariel Engle, dos Broken Social Scene. Munida de guitarras surpreendeu-nos com a sua voz limpa, potente. A vocalista foi intercalando as músicas com momentos de conversa e foi percetível o seu sentido de humor subtil, inteligente.
Decorrido um pequeno intervalo, para os últimos preparativos, o público, ansioso, sedento, começou a bater com os pés no chão. A expectativa era enorme e nisto surgiu o Patrick Watson, a Ariel Engle e os restantes elementos da banda em palco. Aplausos agitados, ânimos em alta, microfones desligados. O artista lidou com humor e descontração com o sucedido, que rapidamente foi resolvido, atirou a boina e blazer para o chão e começou a cantar “Love Songs for Robots”. Cativou-nos de imediato. A sua voz melodiosa, o jogo meticuloso de luzes, os quatro candeeiros com painéis giratórios, a qualidade dos músicos capturaram todos os nossos sentidos. Neste ambiente cinematográfico prosseguimos, embalados.
O sentimento, a simplicidade, a entrega que o artista coloca na voz, na sua postura é de uma beleza palpável. Comoveu-nos tamanho talento, dedicação. Para além de tudo isto revelou-se um anfitrião extremamente simpático e foi-nos guiando ao longo do concerto. Disse-nos que iam tocar alguns temas novos e pela amostra, como é o caso da canção “The Wave”, o romantismo, o drama, a mestria, a que nos habitou, mantém-se intocável. Chegou o single “Melody Noir”, que foi lançado no Verão, e arrepiámos. O vocalista e a banda formaram um semicírculo de instrumentos acústicos e cantaram “You are the sweetest melody I never sung”. O refrão ficou a ecoar na sala, ecoou cá dentro, bem fundo. Aplaudimos entusiasticamente e neste mesmo registo intimista tocaram o “Slip Into Your Skin” numa versão crua, despida de artifícios, repleta de emoção.
Entre canções foi falando connosco, foi-nos seduzindo e velozmente chegámos ao fim com “Turn Into The Noise”. Com o Patrick Watson ao piano a música entrou num crescendo que culminou com um espetáculo multimédia inesperado. Um emaranhado de luzes verdes e vermelhas foram projetadas por todo o espaço, foram projetadas no teto, lembrando um quadro do Pollock, e nós sentimo-nos presos numa teia, numa tela criada por ele. Os músicos estalaram os dedos de forma sincronizada e a atuação terminou com o artista de altifalante na mão a sussurrar “The noise together/ We will be”. Escusado será dizer que o público ficou ao rubro e de pé, fez ruído, pediu por mais, ainda mais. Regressou ao palco, agradeceu ter sido convidado para atuar numa sala por onde já passaram tantos músicos fantásticos, e tocou “Into Giants”.
De seguida surgiu o tema “Big Bird In a Small Cage”. Mais palmas, gritos, batimentos frenéticos com os pés no chão. Não conseguíamos, não queríamos que aquele momento acabasse. O artista retomou ao palco sozinho e ao piano tocou “On a bad day, looking for the great escape, the great escape.” Parece-me que não poderia ir mais ao encontro do sentimento dominante. O sentimento que a música quando nos toca, como esta tocou, é um escape. Um lugar seguro. Quando isto acontece não queremos que acabe, ansiamos que dure um pouco mais. Por isso em estado de êxtase invocámos por isso e o incansável músico concretizou-nos esse desejo. Saciou-nos com um último single. E acabou.
O concerto terminou mas a música veio connosco. Aconchegou-nos no regresso a casa. E permaneceu intocável na nossa memória. A memória de uma noite em que escapámos para um lugar melhor.
Texto de Ana Moreira