Neste Dia da Mulher, não há bombons nem flores: o 23 Milhas reservou palco para três ao molhe
Na próxima sexta-feira, celebra-se o Dia Internacional da Mulher e, por isso, o Um ao Molhe só podia ser no feminino. A convite do projeto de one man bands e do 23 Milhas, projeto cultural do Município de Ílhavo, três mulheres assumem as rédeas da itinerância do festival, o desconcerto da solidão feita bravura, a força de um cataclismo visceral que é tão (d)elas. Elas são Deus, Calcutá e Surma; divindade, país e povo em forma de mulheres.
Cabe lá tudo. No Convés da Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré, a partir das 21:30 de sexta-feira, também.
Ana Deus nasceu em Santarém, vive no Porto, canta desde sempre. Entre os Três Tristes Tigres e os Ban, as colaborações com Rádio Macau ou Dead Combo e, mais recentemente, os projetos Osso Vaidoso, Bruta e Ruído Vário, Ana Deus dispensa apresentações. Sobe ao palco desta feita para interpretar “Colo”, levamo-la nele, um solo ao colo de ruídos e imagens falantes, onde loops de filmes alimentam a base sonora que acompanha textos ou canções quase a nascer. Uma voz que dificilmente morrerá na história da música em Portugal.
Calcutá é o nome escolhido por Teresa Castro para compor e interpretar música a solo, destacando-se assim do outro projeto que integra, a banda Mighty Sands. Melhor: mais areia para este camião do Um ao Molhe. Aqui, Teresa também canta em inglês e toca guitarra, mas enquadra-se numa estética ghost folk: as suas melodias e letras, levam-nos para o outro lado do Atlântico, para a terra dos westerns, para tempos a que só podemos aceder através de histórias, de memórias, de fantasmas.
Surma mal acabou de limpar os lábios negros do Festival da Canção, mas quem tem boca vai à Gafanha da Nazaré. Débora Umbelino é um casamento afortunado entre cantigas-monumentos melódicos de encantar, com uma personagem, que parece ser não mais que a própria Débora em bruto, esmagadora de tão desafogada e generosa. O Antwerpen é, foi já, só o princípio. Domina teclas, samplers, cordas, vozes e loop stations em sonoridades que fogem do jazz para o post-rock, da eletrónica para o noise e nos levam para paragens mais ou menos incertas, em atmosferas desconhecidas, mas com muito prazer na viagem. Passe vitalício para isto.
Antes do arranque dos concertos, Carlos Oliveira faz uma curta pré-apresentação do seu novo espetáculo “Vistas – Uma Coreografia de Desconhecimentos”. O coreógrafo está em residência artística na Fábrica das Ideias, onde investiga, com um grupo de bailarinos, a tensão entre o saber e o não saber de um corpo em movimento.
A entrada no Um ao Molhe, projeto nacional da Antes Cowboy que Toureiro, é gratuito. Os concertos arrancam às 21:30, na Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré.