Tema(s) do dia
São Paulo (ou alguém que fraudulentamente assumiu o nome dele) disse não admitir à mulher «que domine o homem» (1 Timóteo 2:12).
O verbo «dominar» é curioso, porque é a única ocorrência no Novo Testamento do verbo raríssimo «authentéō» (αὐθεντέω). Verbo cujo sentido só é reconstituível a partir do substantivo de que deriva (esse sim, usado por autores clássicos). Substantivo cujo significado é «assassino». Assim, poderá dizer-se que o imaginado domínio da mulher sobre o homem seria, na cabeça de São Paulo (ou quem se faz aqui passar por ele), uma forma de assassinato.
Mal sabia São Paulo (ou quem se fez passar por ele neste texto) que, ainda em 2019, o sentido do domínio pretendido por tantos homens em relação a tantas mulheres se continuaria a traduzir na acepção em que ele usou «dominar»: assassinato.
Aos cristãos que, chocados com a violência contra as mulheres, se interrogam «que sociedade é a nossa?!», temos de dar uma reposta clara: é uma sociedade patriarcal, moldada pelo cristianismo.
«Que a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. Não admito à mulher que ensine, nem que domine o homem; mas sim que se mantenha em silêncio. Adão foi o primeiro a ser formado; depois Eva. E Adão não foi enganado, mas foi a mulher que, deixando-se enganar, incorreu na transgressão. Todavia, será salva através da parturição de filhos…» (1 Timóteo 2:11-15).
Haverá melhor síntese da mundividência patriarcal?
Ah, e haveria a comentar o outro tema do dia, sobre as pessoas se mascaram de africanos e outras perguntam com «inocência» que mal é que isso tem; e outras, ainda, se interrogam com mais «inocência» ainda sobre que sociedade foi a nossa, que permitiu durante tantos séculos a escravização de africanos (dando a palavra a «São Pedro»: «os escravos que se submetam com todo o temor aos seus senhores, não só aos bons mas aos retorcidos…» 1 Pedro 2:18), mas o ânimo agora já me falta.
É na própria Bíblia que surge a metáfora do trigo e do joio. A melhor chave de leitura, em suma, para a sua leitura.