Nick Cave: “São os artistas que vão para lá das fronteiras socialmente aceites e que nos trarão novas ideias sobre o que significa estar vivo”

por Comunidade Cultura e Arte,    16 Abril, 2019
Nick Cave: “São os artistas que vão para lá das fronteiras socialmente aceites e que nos trarão novas ideias sobre o que significa estar vivo”
Nick Cave

O músico Nick Cave, em resposta aos seus fãs, e depois de em Abril ter revelado quais eram as suas dez canções de amor favoritas no seu site The Red Hand Files, voltou agora à escrita num pequeno ensaio. Cave, que usou uma imagem de Jim Morrison para ilustrar as suas ideias, escreveu sobre vários temas entre os quais o rock e o papel dos músicos na sociedade através das suas obras.

Para o artista de 61 anos, o rock tem-se adaptado, ao longo da história de forma a poder ainda estar vivo: “É da natureza do rock and roll transformar-se, morrer para poder viver outra vez. Esta agitação é que mantém as coisas a andar para a frente. Enquanto músicos, corremos sempre o risco de nos tornarmos obsoletos e de sermos ultrapassados pela nova geração ou pelo próprio mundo, com as suas grandes ideias. Ainda há pouco tempo a grande ideia, no mundo, era a liberdade de expressão. Agora parece que é o moralismo. Será que o rock vai sobreviver a isto? Veremos”, afirmou Cave no seu ensaio.

Fotografia de Orit Pnini

No mesmo texto, que se pode ler no site The Red Hand Files, Cave diz que a sua sensação “é de que a música rock moderna, tal como a conhecemos, já está doente há algum tempo. Foi atingida por um certo cansaço, confusão e indiferença e já não tem força para travar as grandes lutas que o rock sempre travou. Parece-me que não há nada novo nem autêntico. Tornou-se mais seguro, mais nostálgico, mais cauteloso e mais empresarial”, disse o artista.

O músico australiano diz também neste novo texto que “o novo fanatismo moral que tem caracterizado a nossa cultura até pode ser bom. Talvez seja disso que o rock and roll precise agora. O rock contemporâneo parece já não ter força para lutar contra estes inimigos da imaginação, estes inimigos da arte — e, nesta sua encarnação, talvez o rock nem mereça ser salvo. Esta camada de puritanismo pode ser o antídoto para o cansaço e a nostalgia que têm atacado o rock” e vais mais longe dizendo que “Talvez precisemos que a criatividade seja esmagada e que a hipocrisia congele a arte, para que, mais tarde, uma forma musical selvagem, perigosa e radical possa romper esse gelo, de dentes à mostra, e o rock and roll possa voltar à transgressão”.

Nick Cave e a sua esposa Susie Bick / Fotografia de Earl Gibson III

Para o artista a transgressão é “fundamental à imaginação artística, porque a imaginação lida com o proibido. Vão à vossa coleção de discos e apaguem aqueles que levaram vidas questionáveis e vejam com quantos ficam. São os artistas que vão para lá das fronteiras socialmente aceites e que nos trarão novas ideias sobre o que significa estar vivo. Na verdade, esse é o dever do músico — e às vezes essa viagem é acompanhada por um comportamento devasso, sobretudo no rock and roll. Na verdade, a natureza do rock and roll é devassa. Por vezes, o comportamento de um indivíduo é simplesmente maléfico, e esses casos precisam de ser denunciados — e nós temos de tomar uma decisão pessoal sobre se queremos ou não envolver-nos com o seu trabalho.”, afirmou o músico.

Por fim, para Nick Cave, que garantiu recentemente que irá lançar um novo disco em breve, “A arte deve ser arrancada das mãos dos pios, apareçam eles na forma que aparecerem — e estão sempre a aparecer, com facas na mão, desejosos de matar a criatividade. Nesta época deprimente para o rock and roll, contudo, talvez possam ser úteis. Talvez a música rock precise de morrer um bocadinho, para que algo poderoso, subversivo e verdadeiramente monumental se possa erguer no seu lugar”.

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