Conan Osiris é um pouco do que gostaríamos ser: totalmente livres e libertos de estereótipos
Inserido no warm up para o Festival Super Bock Super Rock, Conan Osiris veio até Leiria na noite de 30 de Abril. A Stereogun encontrava-se praticamente lotada para receber o vencedor do Festival da Canção. Por volta das 23h00 as luzes apagaram-se e em palco apareceu o músico acompanhado pelo seu leal companheiro e “irmão”, o bailarino João Reis Moreira.
A série pós-apocalíptica Conan, o Rapaz do Futuro, de Hayao Miyazaki, esteve na origem do nome artístico de Tiago Miranda. Conan Osiris cresceu a ouvir Amália, kizomba, hip hop e outras sonoridades diversas que influenciaram, de forma marcante, a música irreverente que compõe, com influências que vão desde o afro-house, ao fado, passando pelo techno, hip hop e até a música oriental. Já o compararam ao António Variações e é válida a analogia, não pelo tipo de som ou de letra, mas pelo mesmo tipo de autenticidade e de coragem. A mesma coragem de conseguir ser chocante, de conseguir estar fora do seu tempo, de conseguir ser inovador. Atualmente essa qualidade é rara. Cada vez mais é difícil não ser uma cópia de uma cópia de uma cópia. Ele, tal como o Variações, não o é. Quer se goste ou não, esse facto é inquestionável.
Regressando à noite em questão o concerto começou com uma espécie de oração a cappella com “Beija-flor” . Do meio da escuridão, surge a voz do artista cantando “Eu queria uma mega drive/ Eu nem sei como é que se joga/ Eu queria uma mega drive/ Só pa’ não me meter na droga”. Rapidamente prosseguiu para o tema “Borrego” que causou a euforia total. Quem não explodiu, implodiu. Não deu para não cantarolar, de forma audível ou não, “A culpa não é tua/ Eu é que sou borrego/ Borrego, borrego”. Olhando em redor, era impressionante verificar a fogosidade da plateia, um público que era completamente heterogéneo. O único fator em comum era o entusiasmo pelo que ouvíamos. A música entranhou e tomou conta do nosso corpo, que se movimentou ao som desta. Seguiu-se “100 Paciência”, “Cartomancia” e “Barcos”. Uma mescla de flamenco espanhol, fado e kuduro.
Um ritmo contagiante invadiu a sala. Em êxtase prosseguimos para o tema “Coruja”, “Titanique”, “Missingnu” e “Nasce nas Açucenas”. O músico é um animador inato: a interação com o público, a piada fácil, a resposta rápida foram constantes ao longo do concerto e contribuiu, ainda mais, para a histeria generalizada. Ao lado de Osiris, completando-o, estava João Moreira, exímio nos seus movimentos que compõe o cenário e que ofereceram ainda mais energia e dramatismo aos temas. Sem nos apercebermos começámos a entrar na reta final com “Nada Nada Nada Nada” e “Adoro Bolos” para delícia da plateia. Chegámos à controversa “Celulitite” em que o artista convidou algumas pessoas para cantar e dançar no palco. “Telemóveis” e “Amália” foram as músicas finais. Escusado será dizer que em uníssono cantámos, gritámos, o tema vencedor do Festival da Canção, “Eu parti o telemóvel/ A tentar ligar para o céu/ Pra saber se eu mato a saudade/ Ou quem morre sou eu” e por aí adiante. Alguém da plateia exclamou: “Twelve Points!” ao que o músico respondeu “Twelve Points? Vamos ver vamos”.
À minha frente, ao longo de todo o espetáculo, encontrava-se um senhor de certa idade que, desinibidamente , cantou e dançou de uma forma tocante. O efeito da música deveria ser, sempre, este. Deveria ter o dom de não nos deixar iguais.
Conan Osiris é mais do que ele próprio. É uma ode à liberdade. À autenticidade. É passado, presente, futuro. Somos todos nós. Com tudo aquilo que somos e não somos. É um pouco do que gostaríamos ser: totalmente livres e libertos de estereótipos.
Texto de Ana Moreira