Quem foi J.R.R. Tolkien, o autor de “Lord of the Rings”?
John Ronald Reuel Tolkien, nascido a 3 de janeiro de 1892, é bem mais do que o escritor de “The Hobbit” e de “The Lord of the Rings”, que marcaram indelevelmente a adolescência de muitos, especialmente após a sua transição recente para o cinema. O apelido “Tolkien”, que é muito apelativo quando se aborda nomes importantes da literatura inglesa, tem origens alemãs, nomeadamente da sua zona noroeste. Tendo nascido na África do Sul, então colonizada pelos britânicos, foi em criança mordido por uma aranha endógena, acabando por aludir a essa ocorrência em vários momentos dos seus contos. Com 3 anos, regressou a Inglaterra mas sem o pai, que faleceu de febre reumática.
Mesmo suportando essa dor, o menino começou a explorar horizontes e pequenos vilarejos nas redondezas de Birmingham, ficando Tolkien marcado pela sua arquitetura e pelo seu caráter rústico, acabando mais tarde por transferir essas memórias de Birmingham para os seus livros. A sua mãe concedeu uma instrução esforçada aos seus dois filhos, ensinando-lhes botânica, fundamentos de latim e até lhes permitiu ler bastante. Os livros preferenciais de J.R.R. foram os trabalhos fantasistas de George MacDonald e “Fairy Books” de Andrew Lang, depreciando, por exemplo, o notável “Alice in Wonderland” de Lewis Carroll. É de importante salutar que o rapaz aprendeu a ler com quatro anos e a escrever fluentemente nos anos seguintes, detendo algum talento no que toca ao desenho.
Após o falecimento da sua progenitora, J.R.R. foi criado por um frade, a quem o escritor agradece a instrução ética, e inscreveu-se na escola de King Edward de Birmingham. Sendo um aluno de mérito, alistou-se nos corpos oficiais de treino do Exército Britânico e fez parte da parada de coroação do rei George V. No entanto, o seu apreço pela arte acompanhou-o, em especial por quadros medievais românticos que se encontravam expostos no museu da cidade da sua escola. No aflorar da sua cultura, Tolkien e dois dos seus primos exploraram um idioma arcaico e, a partir do mesmo, criaram o seu próprio denominado Nevbosh, com o seu sucessor a ser o Naffarin, este criação exclusiva do autor. Nesse período, o jovem adquiriu a paixão pela poesia e pela exploração da sua imaginação alicerçada em viagens que fazia. Por exemplo, algumas das viagens de Bilbo Baggins reportam a jornadas pelos Alpes suíços. Para rematar a sua formação, J.R.R. entrou em Exeter e graduou em Língua e Literatura Inglesa em 1915.
Com família constituída, Tolkien fez parte dos fuzileiros de Lancashire na Primeira Guerra Mundial (1914-17) e, em cartas escritas à sua esposa Edith, desabafava e lamentava as tragédias bélicas que se iam sucedendo. Movido para França, o escritor começou a dar azo a essa sua veia nos tempos mortos ao compor um poema designado de “The Lonely Isle”, que teve como base os seus sentimentos na jornada da sua viagem para Calais, no norte de França. J.R.R. esteve também na batalha de Somme (1916), onde viu o seu núcleo a ser quase todo esmagado pelas forças alemãs, incluindo amigos seus de infância. Motivado por problemas de saúde, Tolkien via uma estranha espécie de sorte do seu lado ao sair do cenário de guerra por várias ocasiões. Nas suas recuperações, o autor começou a redigir alguns dos seus primeiros contos, como “The Book of the Lost Tales”. Ainda assim, apesar das suas fragilidades, Tolkien foi nomeado almirante e manteve o cargo mesmo após a guerra ter findado. A sua vida como escritor começaria nos anos seguintes enquanto era professor na Universidade de Leeds e tradutor de obras para idiomas menos usados mas que tinha estudado outrora.
Na Segunda Guerra Mundial, o então professor voltou a entrar ação mas desta feita fora do campo de batalha. Um pouco à imagem de Alan Turing, Tolkien formou-se e ia exercer criptografia, tentando intercetar mensagens alemãs que eram endereçadas em forma de código, mas acabou por não o fazer pelo Governo Britânico deliberar que não necessitava dos seus serviços. No fim deste conflito, o autor voltou ao ensino no Merton College, em Oxford, lecionando precisamente a área da sua formação académica até 1959. No decurso desta vertente da sua carreira, recebeu uma graduação honorífica da Universidade de Dublin em 1954 após servi-la como assistente externo. No que à escrita toca, dez anos após elaborar os primeiros esboços quanto à trilogia The Lord of The Rings, Tolkien finalizou-a dez anos depois, em 1948. No que à sua família toca, J.R.R. teve quatro filhos, prestando-lhes uma educação atenta e até escrevendo as cartas supostamente enviadas pelo Pai Natal, onde este enumerava as suas lutas contra goblins e algumas partidas das quais tinha sido alvo.
A fase final da sua vida foi onde o escritor atingiu o seu apogeu no que toca ao índice de popularidade, chegando este até a retirar o seu contacto telefónico do diretório público. Os lucros financeiros obtidos pelo autor foram de tal forma elevados que lamentou não se ter retirado mais cedo. A sua reforma foi vivida ao lado da sua companheira de vida Edith na região litoral de Bournemouth, maioritariamente ocupada por elementos da classe média-alta britânica. Edith morreu em 71, dois anos antes do Tolkien; daí ter ficado deprimido e ter escrito aquela carta muito triste ao Christopher acerca da campa Béren / Lúthien.
O epitáfio de ambos – a 2 de setembro de 1973, aos 82 anos, J.R.R. Tolkien faleceu e não tardou a ser galardoado postumamente com as honras mais distintas provenientes tanto da comunidade política como da académica – reporta ao seu Legendarium (escrita mitopoética inspirada em lendas da Antiguidade e da Idade Média e que viriam a ser vertidas nas suas mais conceituadas obras). Nesse imaginário do autor, Lúthien (representa a esposa de J.R.R. e a sua inspiração), uma elfa do póstumo livro “The Silmarillon”do autor, pretendia alcançar a imortalidade através do amor que nutria pelo guerreiro mortal Beren (que representa J.R.R.). Quando este foi capturado pelas forças do maligno Morgoth, Lúthien tentou salvá-lo mas este morreu às mãos de um lobo demónico chamado Carcharoth. Inconformada, recorreu ao palácio de Mandos, guardião da casa dos Mortos, onde acaba por o comover através de uma canção e com este a viabilizar o regresso de ambos mas como mortais. Esta história vem contemplada na “Lay of Leithian”.
“Those friends who knew Ronald and Edith Tolkien over the years never doubted that there was deep affection between them. It was visible in the small things, the almost absurd degree in which each worried about the other’s health, and the care in which they chose and wrapped each other’s birthday presents’; and in the large matters, the way in which Ronald willingly abandoned such a large part of his life in retirement to give Edith the last years in Bournemouth that he felt she deserved, and the degree in which she showed pride in his fame as an author. A principal source of happiness to them was their shared love of their family. This bound them together until the end of their lives, and it was perhaps the strongest force in the marriage. They delighted to discuss and mull over every detail of the lives of their children, and later their grandchildren”
Humphrey Carpenter, biógrafo de J.R.R. Tolkien, quanto ao relacionamento conjugal do escritor
Católico devoto, moderado politicamente mas com pendor para o anarquismo filosófico, anti-colonialista e amante da mitologia, J.R.R. Tolkien é um escritor do qual tem muito que se lhe diga. Com uma participação nacionalista ativa no que aos conflitos bélicos toca, foi também um homem de letras e de cultura, que soube veicular essas experiências compaginadas tanto nas profundezas dos seus livros como na eloquência das suas aulas. Apesar de uma personalidade bastante requintada, o escritor era na sua essência, alguém bastante simples. Receando pelos danosos efeitos secundários da industrialização, idealizava que a sociedade se mantivesse como o Shire de “The Lord of The Rings”, onde o meio de transporte predominante fosse a bicicleta e onde a população fosse simples, discreta e autêntica.
É essa obra que também revela um aparente paralelismo com a Inglaterra e o seu estado pré, durante e pós-Segunda Guerra Mundial. Inspirado por epopeias e lendas, especialmente celtas e germânicas, conseguiu sempre acasalar esta paixão com os ideais cristãos que acerrimamente defendia, estabelecendo uma mistura interessante expressa em algumas das suas obras. Construindo personagens com fundamentos míticos e com um enredo que levava o leitor a sentir a crença e a fé subjacentes, especialmente na tão sua trilogia “The Lord of the Rings”.
Como linguista, conseguiu não só aprender mais de duas dezenas de línguas mas também criar as suas que serviriam para credibilizar o universo de cada uma das suas histórias. Um homem de consensos, de bondade, de causas, de idiomas, de cultura e de fé. Um dos importantes marcos da literatura britânica e da humanidade no seu pleno. J.R.R. Tolkien, um escritor e um ser “Legendarium”.