A coroação de Grace Jones no segundo dia do NOS Alive
O segundo dia do NOS Alive esperava-se mais calmo, mas este dia, festejado maioritariamente no feminino, esteve extraordinariamente composto. O frenesim começou com Perry Farrell no palco principal, anos depois de ter pisado o mesmo palco com os Jane’s Addiction. Passámos pelos Primal Scream, com o fantástico Bobby Gillespie a envergar um não menos fantástico fato Alexander McQueen cor-de-rosa. Fomos a correr depois para vermos o Johnny Marr no palco Sagres, a honrar a memória dos The Smiths (agora que anda meio mundo chateado com os devaneios verbais de Morrissey) e para ouvirmos ‘Bigmouth Strikes Again’, da banda que co-protagonizou. É mais ou menos nesta altura que começamos a pensar onde se vende o elixir da juventude que estes artistas andam a tomar.
Mas no dia em que o Palco Clubbing ficou a cargo da agência Bridgetown, um dos primeiros artistas a subir a palco foi Trace Nova. O americano notabilizou-se em Portugal ao lado do amigo e cantor Mishlawi, com a música “Afterthought”. Interpretou músicas do EP de estreia, “Only”, que lançou um dia antes do concerto e, como esperado, Mishlawi subiu a palco para interpretar “Too Basic” e a já referida “Afterthought”. Notou-se a timidez de um jovem, para quem o palco ainda é um espaço intimidante.
Pelas 21h45 dá-se um fenómeno interessante: Tash Sultana, one woman show, no Palco Sagres; Plutónio, num Clubbing a abarrotar; e Greta Van Fleet, no Palco NOS, a saciar o fãs com um hard-rock “Zeppelinesco”. Qual escolher? A solução encontrada é ver um pouco de cada. Isto também é parte da magia do NOS Alive: três artistas diferentes, a atuarem para públicos completamente diferentes, em palcos (imagine-se) diferentes, mas a poucos metros dedistância uns dos outros.
Quando Plutónio abandona o Clubbing muitos escolhem não arredar pé, porque sabem que rapper Dillaz vem a seguir. Ainda ouvimos um público muito satisfeito com “Não sejas agressiva”, mas a tentação de voltar a ver Vampire Weekend a pisar solo nacional, depois de um hiato de seis anos, é demasiado grande.
A banda americana está bem de saúde e recomenda-se. O público dança e balança com os alucinantes riffs de guitarra. Chega “A-Punk” (mas apenas uma vez) e a euforia é máxima: pessoas às cavalitas, umas para aceder a uma vista privilegiada, outras para pedirem uma jola aos vendedores ambulantes que circulavam pelo mar de gente. Para encerrar uma atuação sólida houve “Jokerman”, de Bob Dylan, gigantes globos terrestres insufláveis a navegar de mão em mão, por entre o público e o anúncio de que a 26 de novembro regressam a Portugal, para atuar no Coliseu de Lisboa.
Quase a encerrar o dia, a diva americana Grace Jones tomou o Palco Sagres de assalto e transformou-o num night club. Se a sua performance, por si, já nos deixa surpreendidos, qual é a reação adequada quando se descobre que aquela senhora que está em palco tem 71 anos? É que se Robyn foi uma espécie de Madonna da Suécia, Grace Jones é uma Madonna afro americana em esteróides. O que é que se pode não dizer deste espetáculo? Desde danças no varão, a mudanças de roupa a cada música, a um strap-on e uma música interpretada durante uns bons 10 minutos, sem nunca descolar o hula-hoop da cintura – tudo isto nos transportou para um espetáculo de variedades que vai muita para além da música. Para fechar, os agradecimentos esperados e um par de seios (este, ao contrário da A-Punk, duas vezes).
Os Gossip, que fecharam o palco NOS, tiveram a terrível tarefa de nos apresentar um concerto magnífico depois da performance de Grace Jones. Até Beth Ditto estava curiosa para saber o que se estava a passar no palco secundário, mas não deixou de nos apresentar o que sabe – e tão bem. Foi um concerto competente, sem grandes surpresas, e isso não quer dizer que tenha sido mau, mas não nos levou ao rubro.
Amanhã há mais, com destaque para Bon Iver, Smashing Pumpkins e os The Chemical Brothers, no Palco NOS; e Thom Yorke e Idles, no Palco Sagres.
Texto de Linda Formiga e Gustavo Carvalho