A geração que se engana a si mesma e ao planeta
Como utilizadores de redes sociais, tais como o Facebook ou o Instagram, já se devem ter deparado com perfis de pessoas com vidas fantásticas, férias paradisíacas, carros topo de gama ou fotos fofinhas de relacionamentos perfeitos.
Uma pessoa vê estes posts e pensa: “fogo, quem me dera ter a vida da Maria Beatriz ou do João Mário”; mas será que as vida da Maria Beatriz ou do João Mário são mesmo assim tão perfeitas? Será que a vida deles te faz sentir que a tua vida ou as tuas posses têm menos valor? Por norma sim, faz, e esse é um dos maiores males que vejo a atingir a minha geração.
Preocupa-me notar que os jovens não estão preocupados em viver a sua vida mas sim em viver a vida do próximo, e se o próximo seguir a vida do outro próximo e todos formos assim, entramos num loop infinito onde todos estão a tentar viver a vida do próximo e onde todos acabam a viver a vida de ninguém, a falta de individualidade está a fazer da nossa geração uma das mais vazias e sem identidade de sempre.
Parte desta cadeia de partilhas é sobre o declínio galopante da saúde do planeta terra.
A partilha da preocupação com o meio ambiente só tem lados positivos, o aumento da consciencialização sobre o aquecimento global e a poluição contribuiu para que, por exemplo, fosse eleito pela primeira vez um deputado do PAN para o Parlamento Português e Parlamento Europeu.
Por outro lado, sim, é moda preocuparmo-nos com isto, mas também devia ser moda agir, devia ser moda votar, pois a percentagem de jovens que vejo nas urnas não é muito igual à percentagem de jovens que vejo super preocupados (e bem) com o ambiente e outros assuntos nas redes sociais.
O problema da normalização começa em casa e na escola, na educação normativa que muitas vezes é transmitida nestes lugares, que se focam na ideia do “somos todos iguais” quando não somos (ou não devíamos ser), somos todos pessoas com ideias e reflexões diferentes, que podem agir de forma diferente em relação a vários temas diferentes.
Noto uma preocupação muito grande com o “global”, mas então e as nossas terras? As nossas ruas? Os nossos parques florestais? Não são insta-stories e textos de bloggers que vão limpar as praias, não é só a preocupação virtual que vai salvar o mundo real.
Vamos parar de fingir que somos quem não somos, e começar a agir como ainda não agimos ou agimos pouco.
Texto de Ricardo Crato
Aluno do mestrado integrado em Psicologia no ISPA