Entrevista. Pixies: “Dantes, éramos só mais uma banda a tocar em festivais, agora há mais formas de sermos vistos e ouvidos”

por Linda Formiga,    20 Agosto, 2019
Entrevista. Pixies: “Dantes, éramos só mais uma banda a tocar em festivais, agora há mais formas de sermos vistos e ouvidos”
L-R: Joey Santiago, Paz Lenchantin, David Lovering, Black Francis

‘Surfer Rosa’, LP de estreia dos Pixies, foi lançado em 1988, consolidando o que o EP ‘Come on Pilgrim’ havia prometido e assinalando o início do rock alternativo. Com temas intemporais como ‘Gigantic’ ou ‘Where’s my mind’, os Pixies foram influências para algumas das grandes bandas de rock alternativo dos anos 90, desde os Nirvana – Kurt Cobain assumiu a importância de ‘Surfer Rosa’ na composição do ‘Nevermind’ – a PJ Harvey, passando pelos Smashing Pumpkins ou Sonic Youth. Mesmo com alguns conflitos no seio da banda, especialmente entre a icónica Kim Deal, baixista e voz, e Black Francis (ou Frank Black), guitarrista e voz, os Pixies lançaram ainda ‘Doolittle’ em 1989 (onde se pode ouvir ‘Here comes your man’), ‘Bossanova’ e ‘Trompe de Monde’ antes de porem um ponto final à carreira, em 1992.

Os elementos originais da banda voltaram a reunir-se em 2004, tendo passado por Portugal nesse mesmo ano, para gáudio dos fãs portugueses. Em conversa com David Lovering, baterista da banda, a emoção que se fez sentir naquela noite de 2004 no Super Bock Super Rock foi intensa, mas não ultrapassou os primeiros concertos da banda em Portugal em 1991, em que, de acordo com Lovering, “os fãs começaram a correr atrás da carrinha, o que nunca tinha acontecido antes e que, na verdade, não voltou a acontecer desde então”.

L-R: Paz Lenchantin, Black Francis, Joey Santiago, David Lovering

Na segunda vida dos Pixies, a banda disse definitivamente adeus a Kim Deal, deu as boas vindas a Paz Lenchantin (A Perfect Circle, Zwan) e lançou ‘Indie Cindy’ 23 anos depois do último álbum. Nestes 23 anos muito mudou no mundo da música e no mundo em si, mas para Lovering a evolução tecnológica não surtiu alterações, de grosso modo, na forma de criação ou de actuação da banda, com excepção feita “aos festivais, dantes, éramos só mais uma banda a tocar, agora temos ecrãs gigantes e todos estão atentos ao que estamos a fazer. A diferença passa também pela forma como somos ouvidos, agora há muito mais formas, como o YouTube ou as redes sociais, dantes tínhamos de entregar uma cassete à rádio local, agora há muito mais formas de sermos vistos e ouvidos.”

As influências musicais dos Pixies passam pelos Beatles, Iggy Pop, Captain Beefheart, David Bowie ou Talking Heads, e poderíamos questionar se essas referências não mudaram substancialmente desde então, mas para David Lovering, as bandas que porventura terão como influência os Pixies têm servido como “estímulos para criar e novas formas de criar” e não tanto como influências musicais, que acredita estarem bem assentes na sonoridade da banda desde o princípio.

Impulsionados pelas antigas referências e pelas novas formas de criar que as bandas mais recentes ensinaram, pela forma mais rápida de gravar e pelo produtor Tom Dalgety, os Pixies preparam-se para lançar o 7.º álbum de estúdio ‘Beneath the Eyrie” a 13 de Setembro. Pelos singles de avanço, “On Graveyard Hill” e “Catfish Kate”, podemos adivinhar que o imaginário de Black Francis, que outrora escreveu “If the Devil is Six, then God is Seven” (‘Monkey gone to heaven’), volta a estar presente com “Call me devil, call me friend, but call me Black Jack Hooligan” (‘Catfish Kate’). Para David Lovering, que não consegue abstrair-se da melodia, as letras de Black Francis não lhe trazem as emoções que imprimem a milhões de fãs em todo o mundo, mas reconhece que a “melodia e a forma como as músicas são tocadas, num ritmo mais rápido ou com uma bateria mais pesada, são complementares e reflexo de muitas das próprias vivências, estados de vida ou de humor. Mesmo nos concertos, quando se toca ao vivo, o próprio estado de espírito tem impacto na forma como se toca o instrumento.”

E o legado, o peso da História? Para Lovering, o facto de os Pixies terem um punhado de músicas icónicas, presentes em todas as playlists obrigatórias do rock alternativo, não representa qualquer limitação, qualquer peso nem qualquer pressão para lançarem temas igualmente icónicos. Para o baterista, “a música dos Pixies e a sua composição continua a ser relevante para cada um dos elementos da banda, independentemente do que já foi feito”.

Capa do álbum ‘Beneath the Eyrie’ que sairá a 13 de Setembro

Para promoção de ‘Beneath the Eyrie’, os Pixies farão uma digressão europeia que passará por Portugal para um concerto único no Campo Pequeno, a 25 de Outubro. David Lovering refere que “se nunca viste os Pixies, o que podes esperar são 90 minutos de música, sem grandes diálogos com o público”, mas isso não quer dizer que os Pixies sejam uma banda anti-social, mas sim uma banda que quer mostrar “o que faz e o que faz bem, com temas novos e antigos”.

‘Beneath the Eyrie’ sai a 13 de Setembro e os Pixies actuam no Campo Pequeno a 25 de Outubro. Bilhetes disponíveis aqui.

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