O grande capital quer voltar ao poder
Seja através de uma maioria absoluta do Partido Socialista ou do regresso dos partidos da direita ao poder, o grande capital, que se sente órfão desde que a geringonça tomou as rédeas da Assembleia da República, tenta voltar ao poder nestas legislativas. São muitas as faces do grande capital e sombrias as formas de que lança mão para voltar a influenciar a governação do país. Para as Legislativas que se avizinham, o capital lançou mão das máquinas dos seus já habituais aliados para fazer todo o tipo de propostas orelhudas que mais não fariam, na prática, do que beneficiar os grandes senhores deste país.
Há quem já nem sequer tenha pudor em demonstrar de forma explícita a forma promíscua com que se relaciona com os grandes interesses económicos, e sobretudo a forma comprometida como os representa. Quem ouvir as declarações de Assunção Cristas, ou atentar nas propostas do CDS, chega de imediato à conclusão de que estes são um dos porta-voz do capital. São várias as referências ao sector privado e à clara intenção de sangrar o sector público para investir o dinheiro de todos nos negócios de alguns. Exemplo disso é a insistente repetição de uma alternativa para o Serviço Nacional de Saúde, alternativa essa que passaria pela complementaridade com o sector privado e social, ou seja, o dinheiro continuaria sempre a ser público e os benefícios de uma gestão mercantilista da saúde encaminhavam-se direitinhos para os privados. Mas também o PSD se junta à defesa do sector económico quando afirma lograr um sistema nacional de creches, mas ao contrário do que outros partidos sugerem, tal sistema seria num modelo de financiamento público ao sector privado que deveria garantir o acesso às creches. Ora, como a prática nos tem demonstrado, as parcerias público privadas não só são um negócio ruinoso para o país, como não garante a tal melhoria de serviços que estes partidos apregoam.
São muitos os exemplos de medidas propostas para a próxima legislatura por partidos como o CDS, PSD, PS, mas também pelo Iniciativa liberal que visam única e exclusivamente o regresso do grande capital ao poder. O PS insiste em não desdobrar o IRS em mais escalões, CDS e PSD contrapõem uma descida desta contribuição a par com a descida do IRC com o objectivo de descapitalizar a segurança social que também pretendem privada e, por sua vez, o Iniciativa Liberal propõe uma taxa de IRS única, ignorando que dessa forma o esforço contributivo de um milionário seria o mesmo de um pobre.
Se soar a estranho este exercício, e até roce a teoria da conspiração, convido os leitores a verificar quantas pessoas afectas ao grupo Mello Saúde estão ligadas ao CDS, ao PSD e ao PS. Mas não é só na saúde, a promiscuidade entre os grandes grupos económicos e estes partidos é uma realidade demasiado palpável para que não se fale dela nesta campanha. Parece que andamos um pouco esquecidos de quem é que tem saído beneficiado de todas as cedências que desde 1976 têm sido dadas ao sector económico e financeiro. António Saraiva, patrão dos patrões, referiu numa entrevista que se contentava com uma maioria absoluta do PS e não o diz em vão. Di-lo porque não quer que outros partidos com uma outra concepção de sociedade influenciem a governação, deixando as suas pretensões amputadas.
É preciso atenção, não queremos voltar a ser o país que dá quase a título gratuito todas as empresas públicas lucrativas ao privado, não queremos voltar a ser o país dos benefícios e isenções à banca. Queremos ser um país do povo, construído por ele e na vanguarda de uma sociedade mais justa e progressista.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. De momento Advogado estagiário na condição de precário.