Segunda temporada de “Sex Education”: lições importantes para todos
Um ano depois da sua estreia bem sucedida, Sex Education está de volta. A segunda temporada foi lançada no dia 17 de janeiro. A Netflix estreou mais oito episódios da série que tanto brinca com a sexualidade como educa.
Otis (Asa Butterfield) e companhia regressam para mais peripécias. Com poucas adições ao elenco, o mais importante é o desenvolvimento das personagens que já conhecemos. Novas dinâmicas, pedaços do passado que ainda estão por resolver e, claro, mais dilemas sexuais. Há muito para descobrir nestes oito episódios.
Problemas familiares
Sex Education criou um leque tão extenso de personagens importantes em oito episódios que seria muito extenso se recapitulássemos os pontos de partida da segunda temporada. O que os fãs precisam de saber é que o desfecho do ano passado é respeitado, mas as novas dinâmicas colocam desafios a Otis e aos seus restantes colegas.
A série sempre realçou a ligação que existe entre a componente sexual e a emocional. A segunda temporada continua no mesmo caminho e explora as causas e os efeitos dos diferentes problemas que cada um de nós enfrenta. As famílias de todas as personagens têm um papel fundamental na evolução e na confiança sexuais. Somos uma mistura das nossas características únicas e do ambiente que nos rodeia. Sex Education demonstra-o e explica como ultrapassar as dificuldades que podemos encontrar.
Em oito episódios, a segunda temporada consegue fazer com que cada protagonista atravesse mudanças, algumas mais positivas, outras negativas, algumas mais substanciais, outras ligeiras, e que todas sejam justificadas e naturais. As interpretações são um fator essencial, sendo excelentes e superiores à da temporada anterior. A escrita na sua maioria é igualmente ótima, mas tem algumas falhas.
De vez em quando, há um ou outro aspeto que podia ser mais explorado e há uma sensação que certas coisas acontecem só para causar mais intriga e desviar a narrativa do caminho mais previsível. Não obstante, os resultados dessas mudanças compensam sempre.
Existe uma única contradição na história de Sex Education. Não por haver uma falha lógica nos acontecimentos, mas porque há um momento na vida de Otis que não tem o impacto que era antecipado pelas próprias personagens e essa própria ausência de relevância não é referida.
Fora estes pormenores que não incomodam muito e são apenas pequenos solavancos na excelente estrada de acontecimentos, a segunda temporada supera a sua antecessora.
Um pouco de tudo
A série é fiel ao nome. Há muito para aprender com Sex Education. Como na temporada anterior, os novos oito episódios permitem-nos conhecer ou voltar a ouvir falar de diversas componentes da sexualidade humana. Bissexualidade, pansexualidade, assexualidade, fetiches e muito mais. Tudo é abordado de forma bem-humorada e, sobretudo, natural. É essa a grande mensagem da série: a sexualidade é normal e não se tem de ter vergonha da nossa verdadeira identidade.
Mas há mais. Há o prazer feminino, há a violência sexual, há o trauma, há o medo da descoberta pessoal, há o dilema do divórcio. Um pouco de tudo, sempre bem representado e analisado. E para todos também, visto que os adultos na vida dos protagonistas têm narrativas próprias e igualmente importantes.
A honestidade de Sex Education é que a distingue de outras séries sobre um grupo de adolescentes. Não exagera nem desvaloriza componentes essenciais que cada um enfrenta. Não tenta chocar só por chocar, nem se leva demasiado a sério. Fundamentalmente, contém pelo menos uma lição para qualquer espetador, quer seja miúdo ou graúdo.
E não nos podemos esquecer do equilíbrio perfeito entre a comédia e o drama da história. O humor nunca para de resultar, mesmo nas situações mais bizarras. Porém, por cada momento engraçado, existe uma ocasião séria e com impacto emocional. As personagens são todas únicas e interessantes e nenhuma é detestável ou irritante a não ser que seja de forma intencional. Por isso, por muitas gargalhas que Sex Education provoque, nunca deixamos de nos preocupar com os nossos queridos protagonistas.
Ainda há muito para ver
O último episódio da segunda temporada merece um destaque especial. É o mais longo da série, até agora, e culmina muito bem as narrativas que a série estabeleceu, ao mesmo tempo que lança novas a serem exploradas numa terceira temporada. Há momentos que nos provocam imensa alegria e outros que custam e puxam pelas lágrimas. Uma hora de televisão que resume tudo o que faz de Sex Education uma série incrível.
Nunca se pode ter 100% certeza, mas fica a aposta (e o desejo) de que a Netflix renove, dentro dos próximos tempos, a série para mais episódios. Ao contrário de algumas séries no catálogo da empresa de streaming, ainda não se sente desgaste em relação a Sex Education. Ainda há muito para ver e para as personagens resolverem, o que não significa que mais oito episódios não cheguem.
Existe um final idílico à vista, sempre existiu na verdade, mas o momento em que ele se concretiza pode demorar mais ou menos, dependendo da vontade dos criadores. Isto, claro, se a série não surpreender e aproveitar para dar-nos mais algumas lições. Nunca se sabe e essa dúvida para ver o que acontece a seguir é algo a valorizar numa série que vai a caminho da terceira temporada.
Não fiquemos demasiado presos ao futuro. Por agora, o importante é que a segunda temporada de Sex Education é um regresso em grande tanto para a série como para os originais da Netflix. Evolução das personagens, uma abordagem impecável de temas sensíveis e uma mistura precisa entre comédia e drama. Os fãs vão ficar mais do que satisfeitos.
Este texto foi escrito por João Malheiro e foi originalmente publicado em Espalha Factos.