“The Invisible Man”: Elisabeth Moss revolta-se contra o seu abusador neste novo thriller
O novo “The Invisible Man” tem sido indevidamente rotulado de filme de terror. Esclareçamos já de início que este não é tanto um filme de terror, mas sim um thriller, na veia de “Get Out” (2017), ambos produzidos pela Blumhouse Productions.
Neste que é o seu terceiro filme (“Insidious: Chapter 3” e “Upgrade”), o realizador Leigh Whannell conta-nos a história de Cecilia, uma mulher que acredita estar a ser assombrada pelo ex-namorado – quem nunca. “The Invisible Man” é um remake do filme homónimo de 1933, realizado por James Whale. Na verdade, mais do que um remake, esta é uma versão contemporânea do clássico de terror. Whannell não só muda o foco do homem invisível para a sua companheira, como evolui o conceito “imagina o que é ser-se invisível” para algo mais complexo: “imagina seres a única pessoa ciente de alguém invisível”.
Ao trocar o ponto de vista do filme original, Whannell dá destaque à personagem feminina – e quando a actriz que a encarna é Elisabeth Moss, a decisão de trocar é a correcta. A actriz americana, mais conhecida pelos seus papéis nas séries “Mad Men” e “The Handmaid’s Tale”, dá-nos uma interpretação destemida, crua, vulnerável, e física. É fascinante vê-la representar, ver a forma como com um só olhar ou expressão facial nos consegue transmitir o estado emocional da personagem. Moss é uma força da natureza, sem nunca cair em exageros ou histerias. Ao longo de duas horas, é emocionante vê-la encarar os seus fantasmas – literalmente.
Não há filme sem ela, mas “The Insivible Man” é mais do que Elisabeth Moss. Whannell recorre ao uso do espaço negativo (isto é, o vazio) com grande eficácia: o espectador por certo dará por si a percorrer cada centímetro do ecrã, à procura do mais pequeno detalhe ou movimento que lhe indique onde está o homem invisível. Whannell é esperto e sabe que os espectadores o estão a fazer, pelo que são várias as partidas que nos faz com a câmara: ora a gira para o vazio ou mantém-na estática durante longos períodos de tempo, incitando a que procuremos o vilão.
Infelizmente, grande parte da primeira hora do filme é mediana em qualidade, no limite fraca. Whannel prolonga o suspense durante demasiado tempo, até finalmente decidir meter prego a fundo. Ao longo da primeira metade do filme, o argumento cai no erro de fazer longas exposições. Em várias cenas, Cecilia relata à irmã ou ao melhor amigo a relação tóxica que tinha com o ex-namorado. Ora este é um passo em falso que contradiz a opção que o filme toma logo de início de focar-se no futuro, não no passado. Esta é a história de uma relação abusiva, contudo Whannell sabiamente nunca nos mostra o que a agredida sofreu anteriormente nas mãos do agressor. O filme está menos focado na agressão perpetuada do que na história de sobrevivência de Cecilia. Exemplo perfeito disso é a sequência de abertura do filme: com um simples abraço e uma mão que sufocam mais do que acariciam, em poucos segundos percebemos que aquela é uma relação abusiva – e toda a cena de fuga que se segue é eficaz por essa razão. Esta primeira cena diz-nos tudo o que precisamos de saber, pelo que cenas de exposição são desnecessárias e apenas nos chocam para ter pena da heroína, em vez de a admirarmos na sua luta por sobrevivência.
Adicionalmente, somos apresentados a vários cenas irrisórias, um pouco por todo o filme. Por exemplo, o namorado de Cecilia tem uma cave à la caverna do Batman, repleta de gadgets tecnológicos, mas por alguma razão nunca despertou o interesse de Cecilia… até ao momento em que é conveniente que desperte. Noutra cena, o amigo de Cecilia recebe uma carta em sua casa, que bizarramente é endereçada a Cecilia. Os personagens estranham-no durante cinco segundos, antes de o esquecerem por completo. Também um advogado promete tirar uma personagem de um hospício com uma mera assinatura. Enfim, vários momentos implausíveis, para não falar do quão previsíveis são certas cenas, como a entrevista de trabalho de Cecilia, ou o resultado das suas análises médicas.
“The Invisible Man” fica em banho-maria durante a sua primeira metade, mas quando eventualmente regressa aos níveis de adrenalina e suspense que a sequência de abertura nos proporcionara, o filme está no seu melhor. São várias as cenas memoráveis, de destaque a cena do balde de tinta e a cena no restaurante. “The Invisible Man” consegue algo que os grandes filmes de terror e suspense concretizam: pegar numa situação identificável e realista e intensificá-la, elevá-la ao patamar de pesadelo. A sensação de que estamos a ver vigiados (ou mesmo perseguidos) não é estranha a ninguém, pelo que o pânico de Cecilia por não conseguir ver o que a persegue é tanto compreensível como aterrador.