Galgo: lições sobre como se “Parte Chão”
Dentro de quatro paredes, muito se pode fazer. Há quem faça pão e, entre os melómanos, há quem parta chão. Os Galgo apresentam Parte Chão, o seu terceiro disco, que promete agitar os ouvidos de quem ousar ouvir. É o álbum mais consistente dos lisboetas, e no qual se apresentam numa euforia contagiante e, mais uma vez, sem “fórmulas mágicas” que expliquem as nossas reações corporais.
Em 40 minutos, os Galgo trazem-nos sete peças de puro êxtase. O rock efervescente leva a melhor, como já é habitual, no entanto destaco “Murmur” e “Burbur” – as duas pontes que interligam os vários lagos que compõem o disco. Os primeiros acordes de “Muda” soam e um frenesim de synths e guitarras encorpadas invadem os nossos sentidos, até que somos obrigados quase a abanar a cabeça com o crescendo da música, e mergulhamos de corpo inteiro no disco. Cintos apertados, prego a fundo e somos lançados corrente abaixo com “Panca Espalha“, movemo-nos pela densidade inconstante da montanha russa que é o segundo tema, um pára-arranca sem fim.
Eis que chega “Burbur” num jeito pacificador. Podia ter saído facilmente de Stranger Things, com sintetizadores a engolirem-nos lentamente. Mais uma moedinha, mais uma voltinha pelos loucos anos Galgo. As guitarras voltam a conquistar o mundo em “Giga Joga”, mesmo a pedir um mergulho na multidão de camadas espessas de sons que fazem o Galgo cair de tanto mexer. “Garras Dadas” tem a produção de Xinobi e é o voltar ao início dos tempos – recordemos Dromomania – num disco essencialmente mudo, mas que fala por si. Os espasmos das guitarradas efervescentes tornam este sonho psicadélico numa realidade de olhos bem abertos.
“Murmur” é o culminar eletrizante do turbilhão que vivemos nos minutos anteriores. Estão como nunca os vimos (ou ouvimos, neste caso), onde o transe acaba para dar lugar à ressaca hipnotizante. Chegamos, por fim, ao “Grande Roubo“. Acaba-se sempre em grande e com os pés já abatidos de tanto bater no chão. Se há coisa que os Galgo nos dizem com o nome do disco, é que vamos “partir chão”. Mais uma vez acertaram em tudo – desde a exaltação das guitarras efervescentes às passagens calmas, ligeiras, que nos indicam que essa é uma nova fase da banda. No fundo, o que importa é que “a festa é em todo o lado, é onde eu quiser”.