Cátia Domingues: “Quando preciso de inspiração, vou à tasca dos meus pais servir cerveja e copos de vinho”

por Martim Mariano,    14 Maio, 2020
Cátia Domingues: “Quando preciso de inspiração, vou à tasca dos meus pais servir cerveja e copos de vinho”
Cátia Domingues / DR

A minha convidada desta semana trata o escárnio e maledicência por tu. Para além disso é um dos cérebros criativos da equipa que faz o trabalho de bastidores dos programas 5 Para a Meia-Noite e Isto é Gozar com Quem Trabalha, apresentado por um dos maiores humoristas portugueses de todos os tempos. Sim, estou a falar do Ricardo Araújo Pereira.

Tem 33 anos e é uma artista das palavras.
Aproveita para conhecer um pouco mais da Cátia Domingues, aqui mesmo.

Como a todos os outros convidados, pedi à Cátia que me respondesse à pergunta de abertura: “Quem é a Cátia Domingues?”

A resposta apareceu-me assim:

“Cátia Domingues. Colheita de 87. 0+
Nascida em Lisboa, criada entre o Minho e a região saloia.
Guionista, humorista, feminista e outras coisas acabadas em ista, que faz uma das melhores caldeiradas de peixe.
Pessoa que começou a carreira de escrita a escrever as ementas da tasca dos pais.”

Passemos à entrevista.

Recordas-te da primeira vez que conseguiste provocar impacto em alguém com aquilo que escreveste?
Quando escrevia as ementas do restaurante dos meus pais. Promovia muito o consumo.

Há quanto tempo é que te pagam para escrever?
Desde que acabaram os meus estágios curriculares.

Como é que apareceu o teu 1º trabalho a sério?
Todos os meus trabalhos foram a sério. É assim que levo isto. Foi num call-center a vender créditos pessoais. Foi horrível.

Tens alguma “fonte” de inspiração?
Às vezes, quando preciso de escrever e não estou especialmente inspirada, gosto de ver uns episódios de noticiários satíricos para me pôr “no mood”. Se isso não resultar vou até à tasca dos meus pais servir cerveja e copos de vinho a quem passa.

Tiveste algum mentor? Alguém que possas dizer que é a pessoa responsável por hoje ser esta a tua vida?
A memória da Susana Romana, que se lembra sempre de mim nas alturas certas.

Já tiveste vontade de parar de escrever e fazer outra coisa completamente diferente?
Todos os dias em que me custa.

Qual foi o teu melhor trabalho até hoje? Aquele de que mais te orgulhas.
Se calhar, o projecto pelo qual tenho mais carinho, é um chamado “caçadora de mitos”. Porque fez e ainda faz sentir muitas borboletas na barriga.

Tens vergonha de alguma coisa que escreveste?
Há imensas coisas que se fosse hoje não teria escrito da mesma forma. Mas isso faz parte do processo natural de aprendizagem.

O que é que gostas mais de escrever? Que formatos é que te deixam mais confortável?
Ainda não experimentei muitos, mas gosto de escrever para televisão e para imprensa.

Por onde é que começas? Texto ou título?
Depende. A maioria das vezes o título é a última coisa que escrevo. Passo muito tempo a escrever um. Acho que o meu lado da publicidade contribui muito para isto.

Alguma vez fizeste formação para saber/aprender a escrever melhor?
Sim. Tirei um curso da escrever, escrever com a Susana Romana. De resto, é realmente ler, ver, ouvir para ir aprendendo a escrever.

E dar formação a gente que queira aprender a escrever. Faz parte dos teus planos?
De todo. Acho que para ensinar é preciso talento especial.

No dia-a-dia, como é que escreves? Tens alguma rotina, ou escreves quando calha?
Depende. Quando tenho deadlines é acordar cedo, café, televisão em trashtv, só para fazer barulho ao fundo, e computador. Quando me sinto desinspirada ou aborrecida saio de casa. Prefiro trabalhar de dia.

Lidas bem com prazos ou preferes escrever sem pressão?
Lido pessimamente com prazos ao ponto de praticamente tudo se transformar em escrever sob pressão. Procrastino imenso e arrependo-me sempre.

Como é que reages às críticas ao teu trabalho?
Acho que um sinal de maturidade é a forma como se reage às críticas. Sejam elas boas ou más, na verdade. E tento reagir com a distância que elas merecem.

Acreditas que és boa naquilo que fazes?
Na maior parte do tempo não. Sofro bastante da síndrome do impostor.

Tens “bloqueios de escrita”? Se sim, como é que lidas com isso?
Sim. Entro em pânico porque começo a pensar que a língua portuguesa tem imensas palavras e não sei por onde começar. Faço sessões extra de terapia e aceito que não consigo escrever naquele momento. Desbloqueio saindo para fazer outras coisas que me lembrem de mim.

Quem são os teus autores de referência?
Depende. Tenho um woody allen como tenho uma sophia de mello breyner. Um Nelson Rodrigues como um Luiz Pacheco. Um Vilhena como um Saramago ou Raúl Brandão. Um Santos Fernando como um Vergílio Ferreira ou um Primo Levi.

Qual foi a pior coisa que já disseram sobre a tua escrita?
Esta gorda não tem piada. E não foi pelo gorda.

Há alguma coisa que queiras escrever no futuro e que nunca tenhas escrito?
Sim. Quero escrever contos e um doc. É o que tenho planeado para o futuro.

Entrevista de Martim Mariano, originalmente publicada em O Que Dizes Tu?, tendo sido aqui divulgada com a devida autorização.

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