Nunca li tanto em tão pouco tempo como nestes últimos meses

por João Estróia Vieira,    19 Junho, 2020
Nunca li tanto em tão pouco tempo como nestes últimos meses
Slavoj Zizek / Fotografia de Andy Miah – Wikimedia Commons

Em jeito de uma rubrica semanal muito informal, os nossos editores darão recomendações semanais aos nossos apoiantes/patronos sobre filmes, álbuns, livros ou qualquer outra coisa que tenham andado a ver e que gostariam de recomendar. Hoje é a minha vez, João Estróia Vieira, um faz-tudo na CCA, mas sou sobretudo editor na área de Cinema e Séries (não me cingirei unicamente a isso aqui neste artigo). Deixo aqui as minhas sugestões:

— Todos os dias úteis da semana oiço podcasts a caminho do trabalho ou a vir do mesmo. Como demoro ainda perto de uma hora de casa ao trabalho, aproveito para que os podcasts sejam a minha companhia na maior parte do tempo. Tenho sempre este ritual: além de ver sempre as capas dos jornais diários, as primeiras coisas que oiço pela manhã são o Extremamente Desagradável, da Joana Marques, seguido do Tubo de Ensaio, do Bruno Nogueira. É através deles que vou sabendo muito do que se passa da actualidade da forma que eu mais gosto, através da desconstrução de temas através do humor. À noite geralmente nunca vejo televisão, pelo que gosto sempre de ouvir nos dias seguintes à sua transmissão o Eixo do Mal, Circulatura do Quadrado e ainda o Governo Sombra.

— Quanto a séries, tenho andado a ver Watchmen. Tinha deixado para trás e muito por culpa dos tempos tumultuosos que vivemos, decidi que seria uma excelente série para consumir agora. Além de estar muito bem conseguida, tem ainda na banda sonora Trent Reznor e o Atticus Ross (o Trent Reznor é um dos meus heróis musicais a par do James Maynard Keenan). Amiúde vou também revendo Community, por ser mais leve e com episódios curtos que consigo encaixar nalguns tempos mortos. Antes de Watchmen estive a ver Devs que é também uma série que recomendo muito.

— Nos filmes este foi um período difícil para mim. Antes da pandemia — e de há muitos anos para cá — ia pelo menos duas vezes ao cinema por mês. Já voltei a ir ao cinema entretanto, e para ver Mosquito, o fabuloso filme de João Nuno Pinto. É, sem dúvida, dos melhores filmes portugueses que já vi. Por casa tenho vários dvd’s de filmes que nunca vi, mas que por uma razão ou outra conheço da sua qualidade. Um desses casos era Lazzaro Felice (título original), ou, se preferirem, Feliz como Lázaro, em português. É um filme lindíssimo, que mistura drama com fantasia e tem também uma interpretação fascinante de Adriano Tardiolo como Lazzaro. Um filme imperdível nos tempos que correm, onde a bondade e a pureza da ingenuidade estão esquecidas. Por último, faço uma recomendação constante da minha parte: Rams, filme de Grímur Hákonarson.

— Na música sou completamente anárquico. Não tenho qualquer critério sobre o que ando a ouvir e depende unicamente do estado de espírito, do sítio, da situação, etc. O álbum que saiu recentemente e ando a ouvir mais é Alfredo, do Freddie Gibbs e The Alchemist, mas o hip hop não é o estilo onde tenho mais preferências como devem ter percebido pela referência que tenho no Trent e no Maynard. No metal, os últimos álbuns que ouvi com maior recorrência foram City Burials, dos Katatonia (uma banda fabulosa, que já cá esteve há pouco tempo) e The Nothing, dos Korn (sim, ainda oiço Korn e sim, ainda existem). Se acharam passar de Freddie Gibbs para metal aleatório, não quero saber o que pensam quando vos disser que ando viciado em ouvir as músicas All Fired Up e Rest My Chemistry, do álbum Our Love To Admire, de 2007, dos Interpol e que a discografia que mais me acompanhou durante o estado de emergência foi a dos Beatles…

— Possivelmente nunca li tanto em tão pouco tempo como nestes últimos meses. Tive uma dificuldade inicial de concentração nos primeiros tempos de pandemia, mas combati-a e forcei-me a dedicar parte do meu tempo à leitura. Tenho andado a ler compulsivamente um autor que vos recomendo muito: José Carlos Fernandes. Por ignorância ou por nunca ter lido muita BD, desconhecia que o José Carlos Fernandes era uma das nossas referências literárias em Portugal, e comprovo a sua qualidade. Estou neste momento a ler a sua obra mais conhecida A Pior Banda do Mundo, mas recomendo imenso Um Catálogo de Sonhos. Outro livro (também BD) que me arrebatou e marcou de forma indelével para sempre foi o Cinco Mil Quilómetros Por Segundo de Manuele Fior. Nunca fui de BD, mas por influência de alguém que estimo muito, com muito bom gosto e cultura, comecei. Ando a alternar isto com a leitura do Violência, de Slavoj Zizek, mas como ainda não terminei seria intelectualmente desonesto recomendá-lo já. Os últimos livros que li e recomendo muito são o Fernanda, do Ernesto Sampaio (é um dos livros que mais me marcou, sendo uma compilação de vários textos de Ernesto Sampaio sobre o que significou para si a morte da sua mulher) e Uma Solidão Demasiado Ruidosa, de Bohumil Hrabal.

Despeço-me com mais duas recomendações:

— A primeira, um artigo do El País. Uma reflexão sobre a ascensão de pessoas medíocres a cargos de chefia:

— A segunda e última recomendação são os directos ao piano do Hugo Oliveira, pianista português, e que são um momento muito bonito dos meus dias, onde aproveito um pouco para ler enquanto o oiço. Toca geralmente pelas 22h30 (e às vezes novamente mais à noite, ainda, quando lhe apetece voltar aos directos) na sua página de Instagram.

Até à próxima!

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