Sessões especiais de cinema “A Propósito do Racismo e da Escravatura”, em Lisboa
Sessões especiais de cinema “A Propósito do Racismo e da Escravatura”, em Lisboa“, no Cinema Nimas, de 11 de Julho a 3 de Agosto.
Finais de Maio, 2020. Nos Estados Unidos, um homem negro é brutalmente assassinado por um agente da polícia de Minneapolis no decorrer de uma detenção. O registo vídeo desse momento torna-se viral nas redes sociais, e os protestos de apoio às comunidades afro-descendentes eclodem por todo mundo. Ecoando um canto global de repúdio contra o racismo sistémico, os manifestantes voltam a pôr em cima da mesa o tema da violência policial, do privilégio branco, da segregação racial e do legado colonial que muitas vezes o enferma. Por cá, depois das manifestações de protesto em consonância com muitas cidades europeias, que juntaram vários milhares de pessoas, a vandalização da polémica estátua do Padre António Vieira suscitou as mais inflamadas paixões, à medida que a problemática da memória histórica e colectiva se revelava um questão-chave e polarizadora.
Reconhecendo e reivindicando desde sempre a necessidade de construir uma sociedade livre do preconceito racista, propomos ao longo das próximas semanas a reflexão sobre estas questões a partir do cinema de ficção, dos anos 50 aos nossos dias, com a programação de um ciclo pensado a propósito de dois eixos fundamentais (e indissociáveis) de discussão: o racismo e a escravatura, já que “a hierarquia racial de hoje é herdeira do sistema esclavagista”. Serão 10 filmes (outros poderiam juntar-se), de 10 “autores”, que abordam estas questões a partir de diversos ângulos e olhares. E se os filmes dos anos 50 e 60, lutando contra as contingências e circunstâncias das suas épocas — nos EUA, as proibições do código Hays que era preciso iludir, como acontece em contexto de censura —, serviram de fortes catalisadores de alargadas e acesas discussões e controvérsias, nos nossos tempos outros autores vieram potenciar uma re-perspectivação e uma pluralidade de abordagens.
George Moses Horton, um escravo de uma plantação de tabaco no início do século XIX, que compunha os seus poemas de memória, gritava no poema “On Liberty and Slavery”: “Oh, Liberty! thou golden prize,/ So often sought by blood”. Essa Liberdade de direito, continua por concretizar, e a fazer as suas vítimas. E o sonho de homens como Martin Luther King Jr., o do seu famoso discurso na Marcha de Washington, que fará 67 anos em Agosto próximo, continua por realizar. E, como deduzimos do poema de Langston Hughes em epígrafe, o “sonho adiado” pela discriminação e repressão, “explodirá”. Está a explodir…
Falando ao contexto português, a Medeia Filmes apresenta ainda a história de vida e obra do Padre António Vieira, contada por Manoel de Oliveira no filme “Palavra e Utopia” (2000). Homem visionário, crítico, muitas vezes incompreendido pela própria Igreja, um dos maiores vultos da nossa literatura (Pessoa chama-lhe “o Imperador da Língua Portuguesa”), e uma figura incontornável da história de Portugal, Vieira continua a suscitar o debate, e nas últimas semanas muita tinta fez correr na nossa imprensa. Vamos debatê-lo também, numa conversa a seguir à projecção do filme.
PROGRAMAÇÃO:
DJANGO LIBERTADO, de Quentin Tarantino
Sábado, 11 de Julho, 21h00
Sábado, 25 de Julho, 21h00
O SARGENTO NEGRO, de John Ford
Segunda-feira, 13 de Julho, 19h00
Segunda-feira, 3 de Agosto, 19h00
PALAVRA E UTOPIA, de Manoel de Oliveira
Quarta-feira, 15 de Julho, 21h00 – Projecção Seguida de Debate
MALCOLM X, de Spike Lee
Sexta-feira, 17 de Julho, 15h30
12 ANOS ESCRAVO, de Steve McQueen
Domingo, 19 de Julho, 21h15
Domingo, 2 de Agosto, 21h00
SEMENTES DE VIOLÊNCIA, de Richard Brooks
Terça-feira, 21 de Julho, 19h00 – Sessão com Apresentação
Sábado, 1 de Agosto, 16h00
A ESCRAVA, de Raoul Walsh
Quarta-feira, 22 de Julho, 21h30
Sexta-feira, 31 de Julho, 19h00
AMADA, de Jonathan Demme
Domingo, 26 de Julho, 21h00 – Sessão com Apresentação
NA SOMBRA E NO SILÊNCIO, de Robert Mulligan
Quarta-feira, 29 de Julho, 21h30
O INCERTO AMANHÃ, de Otto Preminger
Quarta-feira, 5 de Agosto, 21h30