O percurso de uma indecisa
Para grande espanto dos meus pais, aos 7 meses já folheava o Diário de Notícias, com a calma e concentração de um indivíduo de meia idade, aos 3 anos já sabia ler melhor que muitas crianças do 1.º ou 2.º anos e aos 7 anos já lia livros com uma rapidez que espantaria qualquer um.
Atualmente continuo a gostar bastante de ler e leio com relativa rapidez, mas vim a tornar-me numa jovem de 19 anos tão normal (seja lá o que isso for) como qualquer outra. Não tenho um QI de 200 pontos nem sou um prodígio a tocar um instrumento musical. Quanto muito posso dizer que vejo séries com a rapidez de poucos.
Também não sou brilhante a matemática, história ou geografia. Sempre fui boa a praticamente tudo, mas raramente me distingui numa área ou disciplina concreta. Até no 1.º Ciclo de escolaridade era provavelmente a única da turma que não tinha uma disciplina preferida, num mês era matemática, no outro era estudo do meio, e por aí adiante. Talvez tenha sido por isso que foi tão difícil para mim decidir que área seguir no 10.º de escolaridade, já que gostava um pouco de tudo (exceto artes, que o meu jeito para desenhar sempre deixou muito a desejar). Após dois testes psicotécnicos, muita indecisão e algumas listas de prós e contras decidi-me por Línguas e Humanidades, e mesmo ao longo dos três anos do Ensino Secundário, apesar de ter adorado a área que escolhi, muitas foram as vezes em que questionei se teria de facto feito a escolha mais acertada, tendo inúmeras vezes ponderado mudar para Ciências e Tecnologias (apesar de ter seguido Humanidade tinha o sonho de seguir Medicina e vir a ser pediatra imaginem).
Mas o pior vejo depois… Se foi o que foi para escolher uma simples área no secundário (não desvalorizando a importância desta escolha), podem imaginar o quão difícil foi para mim decidir que curso seguir no Ensino Superior. Durante bastante tempo imaginei-me a seguir Direito e a ser juíza, já que era um sonho que acalentava há alguns anos. Mas chegou uma altura, diria que no fim do 10.º ano, em que comecei a ficar com algumas dúvidas e, após bastante reflexão conclui que o curso de Direito não era para mim, por mais que interesse que em mim despertasse. Sendo que até aí tinha já a minha carreira profissional quase que delineada na minha cabeça seguiu-se um período de grande incerteza. Encontrava-me subitamente num mar de dúvidas e receios, não me via em curso nenhum, quanto mais a exercer uma profissão. Comecei então a fazer uma pesquisa sobre os diferentes cursos que podia seguir estando na área de Humanidades. Destacaram-se três cursos, nos quais não tinha realmente pensado até então, sendo esses os cursos de Ciências da Comunicação, Psicologia e Relações Internacionais. Um ano e alguns meses depois tinha já descartado Psicologia e encontrava-me dividida entre Ciências da Comunicação e Relações Internacionais, apesar de estar um pouco mais inclinada para Ciências da Comunicação, por ser um curso bastante geral e com várias vertentes muito interessantes (Jornalismo; Cinema e Televisão; Marketing e Comunicação, Cultura e Arte).
Encontro-me agora a frequentar a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, portanto podem imaginar qual o curso pelo qual optei. Um ano depois, com 1 de 3 anos da licenciatura concluídos, e com o desejo de me vir a tornar jornalista, continuo a sentir-me um pouco indecisa em relação ao meu percurso académico e profissional mas sinto-me muito grata pelas escolhas que fiz ao longo destes últimos anos. Se me contassem este meu conturbado percurso teria dificuldade em acreditar, mas a verdade é que não o trocaria nem por nada. Não sei de facto o que me reserva o futuro, mas será garantidamente uma aventura e, honestamente, mal posso esperar.
Crónica de Liliana Marques
A Liliana Marques é estudante de Ciências da Comunicação na NOVA FCSH.