Por fim, Cabrita
Com 30 anos de carreira, o saxofonista João Cabrita lança o seu primeiro disco a solo esta quinta-feira, Dia Internacional da Música.
“O que há de comum entre Sitiados, Kussundulola, Legendary Tigerman, Dead Combo, Caetano Veloso, Sérgio Godinho, Cais Sodré Funk Connection ou Orelha Negra? João Cabrita.” O nome pode não ser facilmente identificável pelo público, mas a verdade é que o saxofonista é um nome incontornável na cena musical portuguesa. Ao longo de 30 anos, percorreu os caminhos entre o rock e o funk, entre o jazz e a pop, colaborando com dezenas de músicos e em dezenas de discos.
Agora, finalmente edita o seu primeiro disco a solo, Cabrita. Com o selo da Omnichord Records e lançado em Dia Internacional da Música, o disco está disponível a partir de hoje, 1 de outubro, em formato digital e em CD. Ainda, a 6 de novembro será lançado em formato vinil duplo, juntamente com os temas das Quarantine Sessions que o músico foi gravando em casa ao longo dos meses do isolamento provocado pela pandemia da covid-19.
Mesmo sendo a solo, o disco é uma festa de colaborações (não seria Cabrita se não fosse assim). Ondulando pelas fronteiras dos vários genres, agora é a vez de o saxofonista natural de Lisboa convidar os seus amigos e parceiros de estrada a colaborarem no seu trabalho. O tema de abertura, “Whatever Blues”, é partilhado com Gui (Xutos e Pontapés). No segundo, “Snake Eyes”, surge Ivo Costa. David Pessoa (Cais Sodré Funk Connection, Fogo Fogo), Hélio Morais (Linda Martini, Paus) e João Gomes (Cais Sodré Funk Connection) juntam-se para “Afronaut’s Lament”. “Caravan” é construída a meias com Paulo Furtado (The Legendary Tigerman).
A guitarra inconfundível de Tó Trips (Dead Combo) surge em “Dancing With Bullets”. “Desperado” conta com Sandra Baptista e João Marques. Sam The Kid é a outra metade de “SOS”, Selma Uamusse é a de “We Andrea” e Milton Gulli (Cacique’97) a de “Farai”. Para terminar em grande, a última canção junta todos os músicos convidados: “Never Gonna Give It Up” é a única em que vozes soam – e combinam de tal forma que soam até apenas de uma se tratarem. Apesar de provavelmente só o próprio conseguir identificar todos os músicos envolvidos neste Cabrita, entre os citados também estão Rui Alves, Tamin e Silk dos Cais Sodré Funk Connection, Sérgio Nascimento, Jorge Ribeiro e Susana Félix.
Em jeito de antecipação do disco, Cabrita participou numa das Casota Sessions com “Whatever Blues” e já lançou dois dos quatro vídeos que acompanham o álbum (uma espécie de curta-metragem escrita e realizada por Miguel Leão): “Dancing With Bullets” e “Afronaut’s Lament”.
Cabrita é uma viagem numa montanha-russa em formato sonoro. Sentimo-nos no faroeste americano com “Caravan”, sofremos em “Desperado” e dançamos energeticamente com “We Andrea”. A mestria com os instrumentos é tal que transparece a sensação de que cada nota musical nasceu precisamente para integrar este conjunto de canções. Tudo está no sítio certo e a cada audição descobrimos algo novo.
João é um dos bons músicos que vivem para demonstrar que em Portugal há espaço para os mais diversos géneros musicais – e que estes universos estão cheios de talento e de qualidade. É a prova viva de que é possível construir uma carreira na música e, talvez ainda mais importante no mundo em que vivemos, de que aprender meia dúzia de acordes de guitarra, combinar umas frases a rimar e ter estilo não é tudo. Há muito para lá disso. E Cabrita diz mais do que muitos sem recorrer a uma única palavra – as notas musicais falam por si.
Antes de visualizarem os mil cenários cinemáticos com que acompanhariam estas músicas – algo bem próximo da música instrumental -, simplesmente desfrutem. Sim, adequa-se a sequências frenéticas de vários estilos de filmes de ação, mas também é perfeito para uma simples tarde passada a apanhar sol na relva. Cabrita pode, quem sabe, ser a banda sonora da vida de cada um de nós.