Cinco clássicos eróticos e pornográficos

por Cláudia Lucas Chéu,    3 Outubro, 2020
Cinco clássicos eróticos e pornográficos
Cláudia Lucas Chéu / Fotografia de Vitorino Coragem

Como sabemos, existe imenso material erótico e pornográfico na história da literatura universal. Em termos de popularidade, começamos desde logo no séc. III com o célebre guia indiano do sexo: o Kama Sutra, de Vatsyayana. Embora a explosão do mercado literário na área do erotismo/pornografia tenha surgido apenas no séc. XIX, as editoras de literatura erótica e pornográfica proliferaram em Londres e rapidamente se tornaram alvos a abater pela polícia e pelas organizações religiosas, que apreendiam e destruíam as suas publicações. A verdade é que este tipo de literatura sobrevive, independente das épocas que, com maior ou menor veemência, vão censurando ou endeusando os diversos materiais literários. A maior parte dos textos permanece devido à sua inquestionável qualidade literária, que pouco ou nada tem que ver com os recentes fenómenos de best-sellers, cujo erotismo serve apenas a experiência comercial. A lista que se segue centra-se em referências clássicas: o erotismo e/ou a pornografia são tratados com densidade, conferindo-lhes uma justa dimensão perene. 

1.
História do Olho de Georges Bataille, editado por Quidnovi, em 2015.

Admirado por grandes nomes da literatura, como Roland Barthes e Julio Cortázar, Bataille foi publicado originalmente em 1928, sob o pseudónimo de Lord Auch. A História do Olho, é considerada uma narrativa sui generis e inaugura a obra literária e filosófica do autor, que conjuga de forma ímpar, no séc. XX, o erótico e o sagrado.
A narrativa centra-se na experiência erótica e progressivamente sádica de dois adolescentes — o narrador e sua amiga Simone —, numa atmosfera onírica e fantasmagórica. Um percurso que se inicia de um modo quase inocente, numa praia em França, e culmina em crime e perversão na ensolarada Andaluzia.

2. 
Trópico de Câncer de Henry Miller, editado por Editorial Presença, em 2008.

Trópico de Câncer é, ao lado de Trópico de Capricórnio, um clássico da literatura erótica mundial. Com uma linguagem sexual explícita, chegou a ser banido dos Estados Unidos à época da sua publicação, em 1934, só voltando ao mercado na década de 1960. Trópico de Câncer é uma narrativa na primeira pessoa, mostrando as (des)aventuras de um escritor norte-americano desconhecido, através da sua errância por Paris, não poupando o leitor aos pormenores sexuais e à escatologia. Convivem no estilo ousado de Miller termos eruditos, mas também coloquialismos, metáforas arrojadas, expressões poéticas e cruezas narrativas extremas.

3.
História d`O de Anne Desclos, editado por Editora Asa, em 2012.

Pauline Réage foi o pseudónimo usado por Anne Desclos, jornalista e escritora francesa, para assinar a autoria desta obra. A História d’O, publicado originalmente em 1954, causou grande controvérsia e especulação em relação à verdadeira identidade da autora. Na sua génese esteve o desafio lançado pelo editor Jean Paulhan, que afirmou não acreditar na capacidade de uma mulher para escrever um romance erótico. Anne Desclos admitiu a sua autoria apenas quarenta anos após a publicação. O sadomasoquismo é o tema recorrente nesta narrativa de Desclos. “O” é uma mulher independente, que se torna escrava sexual de seu amante e de outros homens, descobrindo o prazer pela submissão e castigos físicos. História d’O foi adaptado para o cinema em 1975 por Just Jaeckin.

4. 
Os Cento e Vinte Dias de Sodoma de Marquês de Sade, editado por Antígona, em 2002.

Há quem se apaixone pela literatura de Sade e quem o considere absolutamente repulsivo, por trazer à tona tabus ainda pouco discutidos na sociedade, como o sadismo – termo inspirado no sobrenome do autor. Em Cento e Vinte Dias de Sodoma, Sade narra a história de quatro homens que decidem experimentar orgias sexuais enquanto trancados num castelo. Violência e humor negro permeiam a obra, escrita enquanto o autor estava preso na Bastilha. 

5. 
Delta de Vénus de Anaïs Nin, editado por Bico de Pena, em 2006.

Escreveu a sua obra erótica “acima de tudo, para se divertir”, disse a autora. Instigada por um cliente que pretendia que deixasse a poesia de lado. Anaïs afirmou: “O cliente julgava que o meu estilo era mais ou menos copiado das obras sobre o assunto, escritas por homens. Pareceu-me, por isso, durante muito tempo, que comprometera a minha verdadeira feminilidade com esses textos. E assim pu-los de lado. Ao relê-los, muitos anos mais tarde, dou-me conta de que a minha própria voz não foi completamente abafada.” A autora afirmou também, acerca destes textos, que representavam o esforço de uma mulher para entrar num domínio exclusivo dos homens. Delta de Vénus é um livro de contos onde são descritas relações de carácter sexual: orgias e triângulos amorosos; prostitutas a satisfazerem as mais diversas fantasias de clientes. 

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