O Estranho Mundo de Jack ou como o Halloween roubou o Natal

por J.B. Martins,    31 Outubro, 2020
O Estranho Mundo de Jack ou como o Halloween roubou o Natal
O Estranho Mundo de Jack é um dos projetos mais pessoais de Tim Burton

É um dos filmes mais conhecidos de Tim Burton (embora não tenha sido realizado pelo próprio, foi realizado por Henry Selick) e ninguém sabe ao certo se o deve catalogar como filme de Natal ou de Halloween.

O Estranho Mundo de Jack (ou Nightmare Before Christmas na versão original) chegou às salas de todo o mundo em 1993 e, passados todos estes anos, continua a fascinar pela utilização exemplar do stop motion e pela riqueza das emoções que consegue transmitir em cada pormenor.

Em pouco mais de 70 minutos, é um reflexão única sobre a identidade e o desejo de mudar e de ser melhor. Ao contrapor o Natal com o Halloween, Tim Burton criou um equilíbrio raro entre a técnica e o conteúdo, o amor e o terror, o macabro e a comédia e o bizarro e o belo que ficará para sempre na memória de todos.

Neste vídeo viajamos às origens do filme que viria a unir para sempre o Halloween e o Natal.

A ideia surgiu a Burton cerca de 10 anos antes de chegar aos cinemas, quando o realizador era ainda apenas um promissor estagiário no departamento de animação da Disney. Na altura tinha acabado de realizar a sua primeira curta, Vincent, precisamente um filme em stop motion de seis minutos sobre uma criança de 7 anos que queria ser como Vincent Price.

Inspirado pelos seus especiais de Natal favoritos e pelos contos do Dr. Seuss, o então jovem realizador teve a ideia de fazer um poema sobre uma espécie de “Grinch ao contrário”, alguém que descobriu o Natal e ficou fascinado ao ponto de querer recriá-lo e fazê-lo seu.

A ideia inicial era transformar este projeto num especial de 30 minutos para televisão, mas a Disney achou a ideia demasiado estranha. Pelo menos por enquanto.

O realizador deixou a casa do Rato Mickey em 1984 e começou a colecionar sucessos atrás de sucessos, o que fez dele uma das caras mais carismáticas e acarinhadas do momento. No entanto, nunca esqueceu a ideia do tal esqueleto incompreendido obcecado pelo Natal.

No início dos anos 90 voltou à carga e descobriu que os direitos da sua pequena história ainda pertenciam à Disney, que desta vez se mostrou bastante recetiva à ideia de voltar a trabalhar com Burton (afinal de contas era um dos ativos mais valiosos de Hollywood).

Como o Burton tinha outros projetos em mãos (nomeadamente o Batman Returns e o Ed Wood) pediu a Henry Sellick, um antigo colega na Disney especialista em stop motion, para dar vida à sua visão, dando-lhe todas as liberdades criativas. Para levar este projeto a bom porto, Sellick criou o Skellington Productions, um estúdio de animação altamente especializado que empregou mais de 120 dos melhores profissionais da área, desde animadores a carpinteiros. O projeto demorou cerca de três anos a estar concluído e na altura foi o mais ambicioso filme de stop-motion de sempre.

Assegurada a parte técnica, Tim Burton foi então convencido por Michael McDowell, um argumentista e escritor com quem tinha trabalhado em Beetlejuice, a transformar o seu filme num musical. E todos sabemos que Música + Burton é igual a Danny Elfman.

O compositor foi convidado para se juntar à equipa e mostrou-se entusiasmado com o projeto desde o início. Ainda antes de existir um guião final, já Elfman tinha composto mais de metade das canções do filme.

O Estranho Mundo de Jack acabaria por chegar às salas em 1993. A ideia inicial era ser o 32.º filme animado da série de clássicos Disney, entre o Aladdin e o Rei Leão, mas acabou por passar para as mãos da Touchstone, a subsidiária mais adulta da Disney, com receio de ser demasiado assustador para crianças.

Não foi um sucesso estrondoso de bilheteira mas como acontece com os grandes clássicos, a sua força viria com o tempo. Até ao momento, Tim Burton tem conseguido impedir a Disney de produzir uma sequela mas nos últimos anos os rumores de um eventual remake live action têm se tornado cada vez mais fortes e parece ser apenas uma questão de tempo até voltarmos a termos o Jack Skellington de volta.

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