A Praça é de todos
É quinta-feira ao final da tarde, em Bruxelas, entre copos e brincadeira, sem gravata nem pudor, os fãs incondicionais de assuntos europeus e os profissionais dos edifícios de vidro, encontram-se para trocar ideias sobre a União e os eventos da baila. É um ritual com vários anos e a Praça do Luxemburgo, mesmo em frente ao Parlamento Europeu, é a sua casa.
Na verdade, era, porque a pandemia da COVID-19 deixou a maioria de pijama num T0 em Ambiorix ou no quarto dos pais na margem sul de Lisboa. Deixou-nos sem as ideias que corriam com umas Jupiler, sem sorrisos entre cigarros, sem as amizades interpartidárias e os debates acesos por convicção. Chegou o tempo do digital, sem abraços nem aquele sentimento da selva política em que sentíamos o impasse dos adversários no soluço do discurso.
A verdadeira política faz-se de argumentos e argumentações, conflituantes, concordantes, impactantes e disruptivas. Faz-se do progresso que estas geram. Um ano sem a Praça junto à estação do Luxemburgo deu uma nova Praça no mundo digital e nela tentámos reinventar o tirar da gravata para se juntar amigos e amigos de amigos, políticos e jornalistas a trocar provocações sem malícia e conversas sobre a política europeia.
Passou um ano e se a Praça real continua com o Grapevine e o Pullman fechados, a digital continua aberta e aqui, convosco, vamos espreitando o contexto, a espuma dos dias, as feridas profundas e as vitórias esperançosas dos edifícios de vidro a que chamamos União Europeia.
Entre novos e velhos amigos, cabeças que pensam à esquerda, ao centro e à direita, conhecemos e vivemos os principais momentos deste último ano em conjunto: a pandemia, o pacote de recuperação, o braço-de-ferro com regimes antidemocráticos, as vacinas, as relações tensas com a China, a Turquia ou a Rússia, e até uma pequena incursão aos EUA quando fizemos votos para que fosse um homo sapiens a ganhar as eleições Presidenciais.
Nas mesas da Praça, o olhar é tendencialmente europeísta, crítico e construtivo. Assim, relembrar a nossa origem, abril de 2020, é perceber que a UE conseguiu reagir melhor à crise do que era esperado, mas também reconhecer que há ânsias à espera duma resposta consequente e convincente. “Sobretudo para os paraísos fiscais”, grita alguém em desespero lá na mesa do fundo.
Chegamos a hoje com a certeza que a Europa não se faz numa mesa tripartida de Conferências sobre o futuro da Europa, e muito menos por sofás em Ankara. Por isso ouvimos chamar de brutamontes ao Presidente do Conselho, mas alguém logo dispara “Antes Michel que Spitzenkandidat (que mais ouviremos falar por aqui), ao menos ele ainda está vivo!”, e outros rebatem”…antes Úrsula que Weber!”. No fim, preferimos sempre o que não temos, mas uma coisa é certa: é melhor que sejamos nós a saber que errámos nas nossas escolhas do que, perdidos na culpa da escolha dos outros, pormos em causa o Futuro da União.
Fiquem por aí, que a primeira rodada pagamos nós. Na Praça todos têm o direito a falar, e pelo nosso espaço comum com a Comunidade Cultura e Arte não será diferente.
Crónica da autoria de David Ferreira da Silva, Milton Nunes e David Gil Gonçalves
(Se quiseres partilhar a tua opinião sobre assuntos europeus com a Praça do Luxemburgo e a Comunidade Cultura e Arte, contacta-nos em: pracadoluxemburgo@gmail.com)