Entrevista. A Lake by the mõõn, o jovem músico que compilou música, ativismo e natureza numa só peça
Depois de dois EP’s lançados nos últimos anos, A Lake by the mõõn estreou-se em álbuns com Life in Warp, um grito electro-experimental de cariz climático, que nos assola e nos impele a reflectir sobre a alarmante tendência de extinção das espécies na Terra. Lançado recentemente nas plataformas digitais, o trabalho é ainda acompanhado por um clip de Eduardo Duarte, onde a distorção dos ecossistemas é patente e acaba por seguir o mote do título do disco. A Comunidade Cultura e Arte conduziu uma breve entrevista ao autor.
Como é que surge o teu álbum de estreia?
Sempre quis fazer música sobre a crise climática que não fosse só música com guitarra e umas letras por cima a falar do planeta. Depois de desistir do curso de Engenharia do Ambiente, percebi que queria mesmo dar-me uma oportunidade de seguir música a sério, e então fui estudar produção e este foi o meu projeto final desse curso. A maior parte do álbum já foi feito em contexto de pandemia global. Mesmo com todos os percalços, tinha a certeza que a mensagem do Life in Warp continuava tão ou mais importante do que o era antes da pandemia.
De que forma é que o avalias?
O simples facto de ter acabado isto deixa-me mesmo satisfeito, porque é algo que raramente acontece com as coisas que faço. Não podia estar mais contente de ter conseguido juntar das maiores esferas da minha vida — música, ativismo e natureza — numa só peça. Nunca teria imaginado o meu álbum de estreia assim (ou sequer imaginar-me a concluir um álbum), mas acho que só mesmo eu para fazer um disco apenas com sons de animais em vias de extinção.
Em termos de sonoridades, no que é que este trabalho mais se distingue em relação aos demais?
Sinto agora que as minhas outras brincadeiras [musicais] nunca tiveram bem uma mensagem e isso é o que realmente diferencia esta nova das outras. Em termos de sonoridades, comecei a minha viagem musical no dubstep com 15 anos e aqui estou, com 23, a fazer um álbum só com sons de animais em vias de extinção. Acho que o Life in Warp tem mesmo uma linguagem muito própria que não vale a pena comparar.
No estado climático, económico ou social em que se encontra o mundo, até que ponto é que, mais do que nunca, o artista deve também ser um ativista?
Quando a nossa casa está a arder, paramos tudo o que estamos a fazer para apagar o fogo. A nossa casa está literalmente em chamas. A cada ano que passa atingimos novos recordes de temperaturas, todos os anos milhões de pessoas morrem ou migram devido às alterações climáticas. Isto não é um problema longínquo, isto está a acontecer agora.
A arte sempre foi um veículo de transformação social, muitas vezes até o primeiro, mas, perante a crise climática, não podia estar a falhar mais. É surreal a quantidade minúscula de artistas que está a fazer soar o alarme. É impossível enfrentarmos um problema destes sem sentirmos as nossas emoções sobre o tema representadas, sem vermos a partilha e comunhão desses sentimentos, sem um imaginário coletivo de um futuro e presente dignos. E é aqui que entra a cultura.
O nosso lar está a arder, temos que sair rapidamente das galerias, museus, teatros e clubs, e juntar-nos em conjunto com os outros setores da sociedade em grandes ações de luta social pela vida. Se falharmos e continuarmos este caminho, o destino é um aquecimento global de +7ºC, o que significa a extinção de toda a vida na Terra, para sempre. Isto é uma emergência, a maior de sempre, e o relógio está a contar.
Que caminhos musicais te vês a percorrer daqui em diante?
O meu caminho musical é a destruição do capitalismo.