É criada campanha de apoio financeiro para finalizar documentário sobre Alcindo Monteiro
Este trabalho documental nasce do projeto de mestrado de Miguel Dores em Antropologia Visual. Com o tempo, a importância de contar esta história transformou este projeto de mestrado numa longa-metragem documental com pretensões maiores do que uma publicação académica.
“Alcindo” encontra-se agora em fase de pós-produção, que necessita de uma série de trabalhos técnicos: coloração, grafismo, sonoplastia, mistura de som, direitos de imagem, entre outros. E para poder ver a luz do dia, todo este esforço requer apoio financeiro.
“Contar e manter viva a história de Alcindo Monteiro e de todas as vítimas do racismo em Portugal”, é esta uma das premissas que leva a SOS Racismo a associar-se e a apoiar esta iniciativa.
Hoje, a 25 anos de distância do caso Alcindo Monteiro, no país com a mais longa tradição colonial da Europa, os conflitos raciais parecem não perder a sua plena atualidade — os casos do Kuku, da esquadra de Alfragide, do Bairro da Jamaica, do Giovanni, da Cláudia Simões, Bruno Candé —, são apenas exemplos de uma conta não saldada.
O discurso comum pende, ainda assim, para o velho mito “dos brandos costumes”. A expressão máxima dessa continuidade é o próprio dia 10 de Junho, o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, incluído num sistema de revisitação solar do colonialismo e da vocação ecuménica de Portugal. Por isso o documentário trabalha este evento genocida não como um espontaneísmo apolítico, ou um fenómeno hooligan importado da Europa, mas como consequência de um processo social.
“A 10 de Junho de 1995, sob o pretexto múltiplo de celebrar o Dia da Raça e a vitória para a Taça de Portugal do Sporting, um grupo volumoso de etno-nacionalistas portugueses sai às ruas do Bairro Alto para espancar pessoas negras que encontra pelo caminho. O resultado oficial foram 11 vítimas, uma delas mortal, cuja trágica morte na Rua Garret atribui o nome ao processo de tribunal — o caso Alcindo Monteiro. Este é um documentário sobre uma noite longa — uma noite do tamanho de um país”, sinopse do filme.
O documentário aproxima-se deste evento a partir de vários camadas de memória, às quais correspondem diferentes dispositivos de produção documental:
— memórias de entes-queridos de Alcindo;
— memórias e problematizações de jovens negros/as sobre racismo em Portugal nos anos 90;
— arquivos audiovisuais, imprensa escrita e gráfica sobre violência racial nos anos 90, vídeos caseiros, panfletos, documentos judiciais, revistas políticas;
— entrevistas e performances de militâncias dos movimentos anti-racista e anti-fascista;
— observação de matrizes coloniais presentes na geografia da cidade de Lisboa;
— observação de mobilizações sociais contemporâneas.
O documentário Alcindo não possui qualquer intenção de ser relato persecutório centrado na violência neo-nazi. Pelo contrário, o filme procura antes de tudo ser uma homenagem àqueles que resistem e àqueles que caem, e que nessa homenagem ilustra a estruturalidade de um conflito.
Todos os interlocutores do filme são escolhidos pela sua relação orgânica com o caso Alcindo Monteiro (familiares, advogados, colegas de trabalho de Alcindo, amigos, pessoas que estavam no Bairro Alto nesse dia, pessoas que começaram a participar na política neste momento, etc) e constituirão os seus depoimentos em torno da sua trajetória de vida.
Quem puder e quiser apoiar este projeto pode fazê-lo por aqui.