‘Good Time’: Um policial à maneira antiga
Numa altura em que faltam já poucos filmes da seleção oficial para a Palma de Ouro, cresce a interrogação sobre os potenciais candidatos e o desejo de encontrar algum que nos possa encher as medidas. Algo que ainda não sucedeu. Isto apesar da bomba dos manos Benny e Josh Safdie com o título sugestivo e ilusório Good Time, ter deixado uma boa impressão, e ter ainda a particularidade de nos mostrar um Robert Pattinson alucinado e completamente fora do seu lugar seguro. Um policial à maneira antiga com um delirante design musical e estética vertiginosa para o presidente do júri Pedro Almodóvar e os seus pares digerirem devagar.
Bem-vindos às ruas de Nova Iorque, ao ambiente viscoso, às personagens sem eira nem beira de mais um filme de género dos Safdie que tem, pelo menos, o condão de oferecer a Robert Pattinson a possibilidade de dizer adeus ao seu look Twilight, numa verdadeira descida aos abismos da noite, naquela que é também a prestação capaz de mudar o rumo da sua história como ator. Pense-se em Taxi Driver, Pânico em Needle Park ou em Serpico, mas com uma batida que nos faz aumentar ainda mais a pulsação. Um pouco como se o ambiente estonteante de Gaspard Noé fosse atravessado por um filme de Abel Ferrara.
Após um original assalto a um banco que acaba por correr mal, os irmão Connie (Parttinson) e o instável e um pouco diminuído Nick (Benny Safdie) avançam numa vertiginosa trip nocturna carregada de adrenalina e personagens vistosas. Entre elas, uma Jennifer Jason Leigh em mais um papel garrido e, em particular, uma surpreendentemente cínica e sedutora jovem adolescente negra (Taliah Webster) vestida e rosa e com uma flor no cabelo.
Frenético e absorvente em doses iguais, ainda que algo disperso numa trama mais interessada em marcar o ritmo vibrante da noite policial. No final, teve palmas. Mas não serão de ouro.
Artigo escrito por Paulo Portugal, publicado no nosso parceiro Insider Film