‘Hug Of Thunder’, dos Broken Social Scene, no equilíbrio entre a melodia e a vivência
Os Broken Social Scene, banda canadiana de indie conceptual que persiste desde 1999, são formados por um conjunto de doze músicos, entre os quais os membros fundadores Kevin Drew e Brendan Canning.
Em 2001 lançam o seu primeiro álbum, “Feel Good Lost”, gravado quase inteiramente por Kevin e Brendan, embora com alguns apontamentos de voz de outros músicos. A obra inaugural junta diversos estilos, vozes, e composições, formando um álbum que quebra com a monotonia das situações. Traz consigo alguma descontracção, ao mesmo tempo que tende a permanecer no espaço íntimo de quem o ouve. Ao ouvimo-lo sentimos um estranho agrado, pela genialidade melancólica que nos causa uma sensação de familiaridade.
Broken Social Scene estreou-se como apenas mais uma banda instrumental do pós-rock canadiano; mas com o decorrer da sua carreira, e após a edição do aclamado ‘You Forgot It in People’, a banda começou a ver o seu trabalho reconhecido de outra forma. As composições respiram um laço complexo entre o ser humano e as suas sensações mais improváveis. A música do colectivo chega até nós como algo afável, que não aborrece, e que por vezes nos deslumbra de forma contagiante.
Lançam agora em 2017 um novo álbum, intitulado “Hug Of Thunder”, sete anos depois do seu último trabalho, ‘Forgiveness Rock Record‘. Em ‘Hug of Thunder’ encontra-se, quase que de imediato, as parecenças com os álbuns anteriores; não porque o som seja inteiramente semelhante, mas porque o espectro de sensações que nos deixa é exactamente o mesmo. Atingem-nos os vocais enamorados, viajados e viajantes, com um registo despreocupado e expansivo. O álbum também nos envolve numa atmosfera sonhadora ao mesmo tempo que nos leva a provar uma desconfortável realidade.
Com este novo trabalho a banda procura manter a sua essência, e ao mesmo tempo a renová-la, apresentando algo de resplandecente. Este colectivo utópico criou um álbum íntimo, mas extrovertido. Traz “Sol Luna” como a primeira das doze faixas, uma música instrumental que consegue renovar-nos, transportando consigo o acordar com o nascer do sol, num banho de esperança que nos descansa e nos prepara.
Conforme vamos ouvindo as músicas, entendemos que existe um crescendo dramático nelas. A segunda faixa, “Halfway Home”, leva-nos a um abismo irrespirável, e quando conseguimos entender-lhe a essência, estamos já em “Protest Song”; aí sim, ficamos inteiramente nus, a cair de um céu desconhecido. Entramos naquele mundo extrovertido, sem sabermos se se trata da repetição de um sonho, com um coro que nos embala com o seu protesto político. “Skyline” é a música mais prestigiante do álbum; não é repetitiva, e fala-nos do complexo mundo das expectativas. “Stay Happy”, música que nos chama à terra, é a manta da realidade do álbum.
“Hug of Thunder” consegue ser um álbum equilibrado, com a melodia hábil e a suavidade estrutural, esculpe-se com um coro amante, transporta dinamismo e uma esperança moderada. Permanece na maturidade dos sons e torna-se o trabalho mais aconchegante, e talvez mais próximo, dos músicos e do seu público. À medida que o álbum avança, fica-nos a sensação de uma nostalgia permanente, de quem vive uma vida rápida mergulhado na melancolia.