‘A Deeper Understanding’ apela ao ecleticismo sonoro de The War on Drugs
Formados em 2005, por iniciativa de Adam Granduciel e Kurt Vile – que saiu da banda sem qualquer inanimosidade para seguir a sua carreira a solo, poucos anos depois – The War on Drugs lançam agora o seu quarto LP, A Deeper Understanding; uma continuação da revolução sónica que iniciaram com o antecessor Lost in the Dream, um dos melhores álbuns de 2014. O grupo afirma-se como o futuro do rock, na sua fuga aos convencionalismos do mesmo: desconstroem-no, entrelaçam-no com blues e folk, e adicionam-lhe elementos que nos transportam, simultaneamente, para um paradigma futurista e um passado histórico musical.
O álbum inicia-se com “Up All Night”, mais upbeat que muitos dos restantes temas do álbum, com uma composição focada no dream pop: transmitida pela simples linha de teclado, que se vai preenchendo com o decorrer da música, e pela vaga e etérea retórica. O single “Holding On” fá-lo da mesma forma, iterando os motivos que atraem a audiência ao som da banda, e remetendo para temas como “Under Pressure” ou “An Ocean in Between the Waves”, com mais distorção. Mas se as faixas supracitadas se apresentam aéreas tematicamente, “Pain” revela-se de maior consistência em todas as vertentes: melódica, rítmica e lírica. Granduciel aborda o tema da dor, entrelaçando as palavras com os acordes sobressalientes no mar de instrumentação da canção.
“Strangest Thing” realça o lado mais blues da banda. Morosa e arrojada, a música assenta fundamentalmente sobre o arrasto das cordas acústicas, bem como das enunciações de Granduciel, ainda que de muito mais elementos seja composta. O refrão, isento de palavras, enche-se de sintetizadores, que teriam feito da música uma baladona nos anos 80. Também “Knocked Down” é triste e nostálgica, mas não assenta na mesma tradicionalidade instrumental da anterior; desde o seu início, a linha de sintetizador afirma-se como a principal condutora do tema, apresentando uma das mais marcantes melodias do álbum.
Revolvendo todos os temas em torno do amor, é talvez “Thinking of a Place” o que mais concretiza a mensagem transmitida ao longo do álbum. Uma apresentação, uma descrição espacial, a perda e o subsequente reencontro. E, mesmo recorrendo a elementos visuais vulgares – como a escuridão, a noite ou a lua – há uma harmonia que transparece e comove. Numa ponte final, “See it through through my eyes / Walk me to the water / Hold my hand as something turns to me / Love me every night / Drown me in the water / Hold my hand as something turning me / See it through my eyes / Love me like no / other / And hold my hand as something turns to me / And turns me into you”, a repetição impõe-se e incita a empatia. Por sua vez, “You Don’t Have to Go” termina o álbum timidamente, contrastando com o início tumultuoso e agitado, ainda crescendo num final invocativo de esperança.
Os The War on Drugs não se estabeleceram para reproduzir tendências, mas sim para gerar sentimentos, criando melodias únicas; e é isso que os faz triunfar numa indústria incessantemente bombardeada por novo material. Com mais um lançamento sólido, em que a técnica se encontra com a criatividade, Granduciel e companhia deixam-nos de coração cheio e com a emoção à flor da pele, neste que será certamente um dos grandes álbuns deste ano.