Migração de substituição: realidade ou mito?
Nas últimas semanas, muito se tem falado sobre tema da migração, nomeadamente «migração de substituição». Mas será esta uma realidade ou um mito? Será prejudicial?
Na última década, a Europa tem enfrentado crescentes de fluxos migratórios, maioritariamente de migrantes vindos do Médio Oriente, que chegam à Europa através do Mediterrâneo. Os media deram a estes crescentes fluxos o nome de «crise dos refugiados» ou «crise migratória», com início no ano de 2015. Mas, historicamente, a Europa, bem como Portugal, têm sido palco de ligações multiculturais entre diversos povos, sendo a afirmação de que, nos dias de hoje, enfrentamos uma «grande substituição» cultural no nosso continente, falsa.
Não existe uma substituição, mas sim uma ligação entre várias culturas que, ao contrário daquele que é o discurso da extrema-direita, é benéfica, não só para a cultura europeia, como para qualquer outra cultura. O contacto entre várias culturas é socialmente enriquecedor e devemos olhar para ele como um benefício, na medida em que cada cultura tem diferentes características e especificidades que, em contacto com culturas diferentes, se completam. É errado ver a realidade atual como uma ameaça quando o contacto entre indivíduos de diferentes origens é propício à criação de novos costumes e hábitos, mantendo os costumes antigos e, muitas vezes, contribuindo para a evolução dos mesmos.
Imaginemos, por exemplo, uma família chinesa a viver em Portugal há 50 anos. Esta família já terá cerca de três gerações a viver em Portugal, sendo a geração mais nova de nacionalidade portuguesa, ou dupla nacionalidade, falando a língua portuguesa e também o mandarim, podem praticar a cultura europeia, podem festejar as mesmas tradições, por exemplo, o Ano Novo a 31 de dezembro e também o ano novo chinês mais tarde. A cultura portuguesa estará sempre presente nestes jovens que nasceram e cresceram em Portugal, influenciados pela cultura portuguesa nas escolas, junto dos amigos e na sociedade. A cultura portuguesa não é substituída, pelo contrário, transforma-se e evoluí.
Outro fator importante é o crescimento populacional em países como Portugal, cujo rejuvenescimento e crescimento está comprometido. A migração, nomeadamente de indivíduos em idade fértil, é um grande contributo para o crescimento populacional. As famílias migrantes que iniciam uma nova vida num novo país, com as devidas condições socioeconómicas, são um contributo fundamental para a taxa de natalidade. Algumas culturas tendem até a ter um número mais elevado de filhos comparativamente aos portugueses, o que pode ser ainda um maior contributo. É importante perceber que as novas gerações, fruto do fenómeno que é a migração, irão crescer num país e cultura diferentes daquele em que os seus pais cresceram. Estas crianças e jovens serão uma mais-valia para qualquer país e, como tal, devem ser respeitadas e vistas como iguais em vez de substitutos culturais.
É importante esclarecer que a ameaça não é a migração, mas sim o discurso populista de extrema-direita que mancha a diversidade cultural, caracterizando-a como um perigo para os europeus e suas culturas.
Crónica de Rafael Pestana.
O Rafael é licenciado em História Moderna e Contemporânea e estudante de mestrado em Estudos Internacionais, com especial interesse em Direitos Humanos e Movimentos Migratórios.