O futuro do planeta está nas cidades
Vivemos um dos verões mais quentes de sempre, as temperaturas na Europa batem recordes e os incêndios devastam hectares e hectares de floresta. É a nova temporada da série “as alterações climáticas estão aí”, desta vez com um desfecho ainda mais dramático, semelhantes aqueles filmes sobre o fim da humanidade. O mais assustador no meio deste drama é que o atual verão com temperaturas a ultrapassar os 40 graus pode ser o verão mais fresco do resto das nossas vidas.
As cidades albergam cerca de 50% da população mundial e a ONU prevê que a população urbana do nosso planeta passe para os 70% já em 2050. Para além de acolherem metade de toda a população do planeta, são também responsáveis por 70% do dióxido de carbono mundial. Estes dados são de extrema relevância quando pretendemos planear políticas para o combate às alterações climáticas e a todas as consequências que essa crise arrasta consigo. Os diversos debates que surgem sobre o futuro das cidades alertam-nos para a necessidade de que estas sejam verdes, todavia, o que falha neste debate e na aplicação das medidas é a falta de consciência de classe que esvazia a obra de esperança do eco-capitalismo. Ou seja, a transição energética e a adaptação das cidades a uma nova realidade sustentável não pode ser insustentável para as classes socais mais baixas que querem lá viver.
Um dos exemplos dessa insustentabilidade social que o neoliberalismo verde pretende vender-nos é a ideia de que o futuro da mobilidade passará por carros elétricos, onde cada um e cada qual possa deslocar-se pelos diversos espaços da cidade no seu automóvel ligeiro. Todavia, os Elon Musk desta vida, obliteram a quantidade de CO2 que é libertada na produção das baterias e das componentes dos carros elétricos. O futuro, contudo, não passa por parar de produzir, passa sim para produzir com pés e cabeça, sem as massificações tresloucadas que o mercado selvagem quer, mas com a produção diretamente relacionada com a necessidade de cada comunidade e não de cada indivíduo. Isto, para concluir que é uma necessidade urgente a aplicação de políticas públicas para a mobilidade coletiva inter e intraurbana, sendo que esta solução será a única que permitirá manter uma verdadeira mobilidade zero. Aliado a estas políticas de mobilidades, é imprescindível a criação de mais espaços verdes que irão equilibrar as emissões de CO2, ao mesmo tempo que manterão as ruas e avenidas com uma temperatura mais controlada.
Para isso, é importante coletivizar o combate e, mais uma vez, os grandes núcleos urbanos sobressaem-se pela grande densidade populacional capaz de agregar as mais diversas culturas e pessoas. Essa força agregadora é potenciadora de um espírito de comunidade que deverá ser catapultado para melhor aplicar as políticas públicas e melhorar a cooperação entre os seus habitantes. A manutenção das elites e das classes sociais nunca nos levará a combater as alterações climáticas, isto porque, enquanto uns lutam para proteger e aumentar o seu lucro, outros trabalham para comer e ter uma casa para viver. São realidades distintas e que, por essa razão, dividem e não permitem às classes mais baixas priorizar o combate às alterações climáticas.
O futuro do planeta passa pela cidade, é um facto, contudo, a cidade que nós precisamos para combater o aquecimento global e a crise climática é uma cidade sustentável ambientalmente e socialmente. Só assim iremos vencer a batalha das nossas vidas e mudar o rumo da história.
Crónica de António Soares.
Estudante universitário e ativista estudantil.