Chama o castor
Incêndios? Secas? Cheias? O Castor resolve.
O castor, famoso arquiteto de barragens. Bicho gorducho, patas pequenas, dentes grandes e cauda espalmada. O castor europeu (castor fiber), para surpresa de muitos, é nativo de Portugal. Registos fósseis, toponímia e até crónicas romanas comprovam a presença deste roedor na península Ibérica. Contudo, devido à caça e destruição de habitat, está extinto desde a Idade Média e, pouco a pouco, foi esquecido.
O castor é um animal especial, único e importante. É considerado um engenheiro de ecossistemas, por adaptar o habitat às suas necessidades e uma espécie chave pelo seu papel no ecossistema.
O comportamento do castor ao cortar árvores e arbustos e, ao construir barragens e pequenos canais, armazena água na paisagem o que reduz o impacto das secas, regula os caudais de rios e ribeiros, minimizando o impacto das cheias e, ao restaurar zonas húmidas na paisagem cria refúgios para a vida animal mitigando o risco de incêndios florestais.
Mas ainda outros benefícios, as zonas húmidas criadas pelo castor são oásis para a vida selvagem (plantas, peixes, anfíbios, insetos, répteis e mamíferos), retêm sedimentos, o que previne a erosão dos solos, filtra poluentes agrícolas e pode criar novas oportunidades para o desenvolvimento económico local através do turismo de natureza.
A nível económico, são um bom investimento, já que o castor é uma peça fundamental no restauro de rios e ribeiras, mais eficaz e mais barata do que as ações de restauro fluvial feitas pelo ser humano e são uma solução a longo prazo, pois completam o ecossistema. O castor não precisa de manutenção, ao contrário dos programas desenvolvidos pelo ser humano, dado que o número de quilómetros intervencionados cresce com o tempo à medida que a população se expande; e programas de reintrodução e medidas de coexistência são baratos. São uma solução verdadeiramente de base natural, com bons resultados, com um custo eficiente e em harmonia com a natureza.
Pela mão do homem foi extinto na Idade Média; hoje, com o abandono rural e agrícola, existem várias zonas em Portugal onde pode regressar. O castor, apesar de ser normalmente associado a zonas frescas e húmidas de latitudes mais a norte, é surpreendentemente resiliente e adaptável. Nos Estados Unidos há castores em pequenos riachos no deserto ou em zonas semi áridas da Califórnia, em Espanha, habita a bacia hidrográfica do Rio Ebro e já chegou ao Rio Douro e, em França habita o delta do Rhône banhado pelas águas quentes do Mediterrâneo.
O castor é uma solução para as alterações climáticas, perda de biodiversidade e bioabundância. Pode ajudar a recuperar populações de peixes, como a de salmão do rio Minho e Lima. Prevenir cheias em cidades como Chaves. Criar corta fogos no centro de Portugal. Aumentar a retenção de água em montanhas como na Serra da Estrela. Filtrar poluentes agrícolas em Santarém. Reter água nas ribeiras temperamentais do Alentejo. Talvez até controlar plantas invasoras como o jacinto de água, as canas ou acácias.
O castor não é só “engenheiro”, é “canalizador” e ainda “bombeiro”.
“Castor regressa a Portugal depois de uma ausência de centenas de anos, devolvendo vida aos rios e ribeiros, esperança à natureza e tranquilidade ao ser humano”, quão bonito seria este título?
Crónica de Daniel Veríssimo.
O Daniel é economista apaixonado pela natureza. Leitor de artigos e escritor nas horas vagas. Membro da rede internacional Rethinking Economics. Técnico de empreedendorismo na Rewilding Portugal