Protesto em Lisboa pela libertação de Alaa Abd El-Fattah, activista egípcio em greve de fome há mais de 150 dias

por Comunidade Cultura e Arte,    2 Setembro, 2022
Protesto em Lisboa pela libertação de Alaa Abd El-Fattah, activista egípcio em greve de fome há mais de 150 dias
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Mais de 150 subscritores já assinaram uma carta aberta, em português, inglês e árabe, que apela também ao boicote à COP 27 estão a Ana Gomes, Marisa Matias, Francisco Teixeira da Mota, Pedro A. Neto (diretor executivo da Amnistia Internacional), vários jornalistas – Sedrick de Carvalho, Paulo Pena, Fernanda Câncio e Alexandra Lucas Coelho.

Recentemente um grupo de pessoas juntou-se para organizar um protesto em solidariedade com o escritor e ativista egípcio-britânico Alaa Abd El-Fattah, desde abril em greve de fome. Alaa é um dos mais de 60 mil presos políticos no Egito, o país que acolhe em novembro a COP27. Numa tentativa de ajudar a divulgar o pensamento de Alaa em português traduzimos dois excertos de uma carta do livro “You Have Not Yet Been Defeated“, que reúne várias cartas, discursos e testemunhos escritos entre 2011 e 2021, recolhidos por familiares e amigos.

Alaa Abd El-Fattah é escritor, ativista, programador de software, cidadão egípcio-britânico, e um dos mais de 60 mil presos políticos no Egito. Encarcerado ilegalmente, sujeito a maus tratos e tortura, está em greve de fome desde 2 de abril de 2022.

Alaa passou a maior parte da última década atrás das grades e foi condenado, em dezembro de 2021, a cinco anos de prisão sob acusações de disseminar notícias falsas. Não é caso único: o regime autoritário de Abdul Fatah Al-Sisi detém, prende e tortura, de forma sistemática, milhares de pessoas que contestam a repressão. Estima-se que o Egito tenha, neste momento, mais de 60 mil presos políticos, e é o terceiro país do mundo que mais prende jornalistas.

Desde os anos 2000, Alaa documentou, juntamente com a companheira Manal Bahey El-Din Hassan, os abusos da ditadura egípcia, tornando-se uma figura central do ativismo político no país. A partir da Primavera Árabe e da Revolução da Praça Tahrir, as autoridades egípcias tentaram silenciá-lo, à sua família e dezenas de milhares de outros ativistas com prisões ilegais, em condições desumanas.

Durante anos, Alaa não pôde sair da cela, saber as horas, ou ter acesso a qualquer informação do mundo exterior, incluindo ao seu filho, Khaled, com 10 anos. “O crime dele, como o de milhões de jovens no Egito e noutros lugares, foi acreditar que um outro mundo era possível. Ele teve a coragem de o tentar tornar possível”, escreveu Laila Soueif, mãe de Alaa, matemática, professora universitária e ativista.

Há mais de quatro meses em greve de fome, o estado de saúde de Alaa tem-se deteriorado rapidamente, estando a sua vida em risco. Na carta aberta, que já foi assinada por mais de 150 pessoas, é exigido, de acordo com as reivindicações de Alaa Abd El-Fattah, os seguintes pontos:

1 – Libertação de todas as pessoas presas nas prisões da Agência de Segurança Nacional ou na sua sede;
2 – Libertação de todas as pessoas que excederam o período de prisão preventiva: 6 meses para aquelas acusadas de contra-ordenações, 18 meses para aquelas acusadas de crimes, e 24 meses para aquelas que podem enfrentar prisão perpétua ou pena de morte;
3 – Libertação de todas as pessoas que foram sentenciadas inconstitucionalmente (de acordo com a nova Constituição), como aquelas que foram acusadas de publicar conteúdo ilegal, ou acusadas em tribunais de emergência;
4 – Absolvição ou liberdade condicional para todas as pessoas condenadas em casos onde não haja vítimas. 

O Egito será também o palco da COP27 (Conference of the Parties), onde representantes políticos de todo o mundo se reunirão para discutir a crise climática e o futuro da humanidade. Tal como aconteceu em edições passadas, a conferência tem servido para adiar a tomada de decisões que resolvam a crise em que nos encontramos, distraindo-nos com pequenas insignificantes propostas. Enquanto isso, o regime de Sisi utiliza esta conferência para se vangloriar pelo seu papel ambientalista: “Acredito profundamente que a COP27 é uma oportunidade para demonstrar a nossa união contra uma ameaça existencial que apenas podemos ultrapassar através de uma ação concertada e a sua implementação efectiva”, escreve o presidente do Egito no site da COP27. “Por tudo isto, exigimos também o boicote à COP27 de novembro.”, é exigido ainda na mesma carta.

Ao 157º dia de greve de fome de Alaa Abd El-Fattah, centenas de pessoas convocam uma concentração para segunda-feira, 5 de setembro às 18h30, no Largo do Intendente.

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