“O Diário de Anne Frank – Diário Gráfico”: uma obra de elevada qualidade que mostra a maturidade de Anne

por José Moreira,    25 Outubro, 2022
“O Diário de Anne Frank – Diário Gráfico”: uma obra de elevada qualidade que mostra a maturidade de Anne
“O Diário de Anne Frank – Diário Gráfico”, de Ari Folman, David Polonsky e Anne Frank (ed. Porto Editora)

A maturidade com que Anne descreve a sua provação ultrapassa largamente a sua idade e experiência de vida. É por isso que o seu diário se estabeleceu como um quintessencial testemunho do holocausto.

Esta primeira adaptação oficial de “O Diário de Anne Frank” a novela gráfica foi publicada em 2017, o texto foi adaptado pelo argumentista e realizador Ari Folman (que realizou o filme de animação “À Procura de Anne Frank” (2021)). A execução artística da novela gráfica ficou a cargo do ilustrador David Polonsky. Esta dupla abraçou o desafio de transpor estas memórias escritas para um formato físico, que nos “transporte” visualmente para o anexo onde Anne esteve escondida com a família, de Junho de 1942 a Agosto de 1944. Os autores prestaram grande atenção à expressividade e emoção com que retratam as memórias de Anne. As excelentes ilustrações de Polonsky trazem os seus pensamentos ao mundo das imagens.

A família Frank, judaica de origem alemã, refugiou-se em Amsterdão após a subida dos Nazis ao poder. Anos mais tarde com a invasão alemã nos Países Baixos, encontram-se na situação da qual tinham fugido inicialmente. Perseguidos e discriminados diariamente, acabam escondidos num anexo adjacente à empresa do pai. Com o sufoco do confinamento total, as relações familiares de Anne Frank deterioram-se e reforçam-se alternadamente ao longo da estadia no anexo, essa dinâmica é particularmente evidente na relação com a irmã Margot, indo do ciúme e frustração, ao amor incondicional. Anne revela-se distante da mãe Edith, mas deixa clara que existe uma constante admiração, ternura e amor pelo pai Otto Frank.

Vemos retratados os conflitos e tensões com os restantes refugiados no anexo: a família van Daan e o seu inesperado colega de quarto, Dr. Dussel. Estes eventos possuem, por vezes, um humor intrínseco que alivia essa tensão emocional, do peso da barbárie que pairava sobre eles. Destaco a curiosa relação afectiva que desenvolve com Peter, filho dos Van Daan, que apesar de ser praticamente da idade de Margot, é com Anne que ganha maior à vontade e uma ligação mais próxima.

A última entrada no diário, dirigida à sua “Querida Kitty”, ocorre a 1 de Agosto de 1944, 3 dias antes do grupo ser descoberto, preso e deportado para o campo de concentração de Bergen-Belsen. Anne Frank e a maioria dos que se esconderam morrem pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial. Otto Frank viria a ser o único sobrevivente dos ocupantes do anexo, e o principal responsável pela publicação dos Diários da sua filha mais nova e pela criação da Fundação Anne Frank, entidade pioneira na luta contra o racismo e antissemitismo.

A maturidade com que Anne descreve a sua provação ultrapassa largamente a sua idade e experiência de vida, é por isso que o seu diário se estabeleceu como um quintessencial testemunho do holocausto. A qualidade artística do trabalho gráfico de Polonsky e a selecção de conteúdo/adaptação de Folman culminam numa obra de elevada qualidade e numa experiência de leitura fascinante e emocionante, quer como leitura de apoio (como no meu caso), quer como leitura isolada. Tendo apenas conhecimento superficial da história de Anne Frank, li esta novela gráfica para ter uma noção mais aprofundada da sua vida, isto antes de ir ver a excelente adaptação em cena no Teatro Trindade (na qual revi elementos visuais do diário gráfico).

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