‘Seja Parisiense Onde Quer Que Esteja’: um retrato da mulher parisiense

por Cátia Vieira,    5 Novembro, 2017
‘Seja Parisiense Onde Quer Que Esteja’: um retrato da mulher parisiense

Em Seja Parisiense Onde Quer Que Esteja: Amor; estilo… e maus hábitos, escrito por Anne Berest, Audrey Diwan, Caroline de Maigret e Sophie Mas, nasce um retrato da mulher parisiense. Alicerçando-se num design moderno, límpido e sóbrio, as quatro autoras lançar-se-ão às questões do amor, da atitude, da moda, do sexo, da cultura e da experiência parisiense.

Relativamente ao estilo – que talvez seja uma das dimensões mais abordadas neste livro -, as autoras descodificam e revelam o armário de uma parisiense: sapatos de meio salto e logótipos são absolutamente proibidos. Por outro lado, torna-se impreterível a presença do que apelidam de ‘peça nobre’ e das peças básicas, que englobam uma camisa branca, uma gabardina comprida, uma camisa larga, etc.

A par do estilo, as quatro mulheres francesas destacaram a identidade parisiense. Nas suas palavras, ser parisiense é ser melancólica, existindo uma simbiose entre este estado de espírito e as cores que dominam a cidade. Ser parisiense é aceitar-se como mãe imperfeita, porque afinal “o que se passa na vida de uma mulher que não renuncia a nada? (…) desordem, muita desordem”. Ser parisiense é sentar num banco de rua e ser vista, ser admirada. Mais importante, ser-se inteiramente parisiense acarreta paradoxos que deverão ser aceites (e até exibidos): ela “fuma como uma chaminé a caminho do campo, para onde vai à procura do ar puro”.

No campo da cultura, as autoras elaboram uma lista de leituras obrigatórias. Nela, constam escritores e filósofos como Albert Camus, Michel Houellebecq, Françoise Sagan, Vladimir Nabokov e Charles Baudelaire. Aludem ainda às três ‘Simones’ que habitam a memória de todas as parisienses. Algumas mulheres identificar-se-ão com a Simone Veil, outras com a Simone de Beauvoir e, por fim, resta-nos a Simone Signoret.

Assim, ao longo do livro, as autoras tentam ensinar-nos a seguir o estereótipo parisiense, instruindo-nos sobre a indumentária, a maquilhagem, a postura, etc. Escolhemos o verbo ‘tentar’, porque elas falharam de certa forma. Berest, Diwan, Mas e Maigret não escreveram a ‘mulher parisiense’, mas uma mulher moderna e em voga. Alexa Chung – na sua obra intitulada It – retrata a mesma mulher – e ela é inglesa. Este livro descreve sobretudo uma mulher que se exprime através do sarcasmo, se interessa por moda e se rege pelo egocentrismo e pela rebeldia.

À medida que vamos avançando na leitura, apercebemo-nos que não podemos confiar cegamente nas palavras. Assim, os textos deverão ser questionados, lendo-os à luz da ironia. Se deixarmos a seriedade fora da leitura, conseguiremos soltar uma gargalhada e até descobrir novos conceitos e ideias. Por exemplo, as autoras reuniram vários títulos de filmes que usam Paris como o seu pano de fundo, assumindo uma extrema importância na narrativa cinematográfica. Ademais, as quatro autoras partilham espaços secretos ou singulares da capital francesa onde podemos respirar ou sentirmo-nos realmente parisienses.

É uma leitura leve que se mescla com uma fotografia e um design interessantes. O segredo para apreciar o livro é lembrarmo-nos que se trata de um mero estereótipo. As parisienses que o digam.

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