‘The Dusk In Us’: a resposta reaccionária dos Converge
No ano de 1990, as extremidades do metal começaram a delinear-se. O surgimento do grunge fora também determinante, género que assumiu uma zona mais ‘fronteiriça’. Muitas bandas destacaram-se ao longo dessa década, principalmente na exploração de novas sonoridades e métodos de composição – e é aqui que entram os Converge.
Vinte e sete anos depois, os Converge atingiram um patamar monstruoso, e são hoje uma instituição da música extrema. Os “arquitectos do metal” – como foram apelidados pela revista Rolling Stone – acabam de editar um novo álbum de estúdio, The Dusk In Us.
Em 2001, os Converge afirmaram-se com estrondo, através da edição de Jane Doe, o quinto disco da sua carreira. Chegam a 2017 com a bagagem carregada. Os quase 30 anos de existência já antecipavam uma possível rendição às sonoridades extremas. Porém, se olharmos para a restante discografia dos Converge, The Dusk In Us afasta-se dos descarregamentos beligerantes de outrora. No entanto, apesar de apaziguador e menos agressivo, a intensidade mantém-se irrequieta.
Os singles previamente lançados, “A Single Tear” e “I Can Tell You About Pain” anunciavam cuidados redobrados, principalmente com a sonoridade da guitarra e da voz. A sujidade impressa nas canções de outros tempos até se pode ter dissipado; contudo, a brutalidade lírica continua intocável: “Born into such a cruel, cruel world / Survival can be such a cruel, cruel curse”. Para além das letras, os berros grotescos incutem maior profundidade raivosa. “Under Duress” e “Wildfire” são exemplos flagrantes, um par de cantigas onde a esquizofrenia métrica se vai confundindo com versos combativos.
O clima guerrilheiro que os envolve assume proporções gigantes em palco, com actuações absolutamente desgastantes. Neste álbum não prometem paz, mas propõem um cessar-fogo, uma pausa na agressividade imposta pelas arritmias do passado. A faixa homónima de The Dusk In Us é uma canção melancólica, negra e imperturbável, reflectindo parte daquilo que Jacob Bannon e companhia tencionam transmitir: “Just bide your time and try to stay alive / Revenge will come with the rising sun” .
No entanto, “Broken By Light” e “Cannibals” fazem renascer os bons monstros do passado. Estas malhas espelham o género que a banda ajudou a cimentar; ora pela sua curta duração, ora pelos compassos frenéticos e aparentemente descontrolados.
Nos dias que correm, não se esperava outra coisa dos Converge. Solidificam o seu estatuto inabalável com um álbum reivindicativo, onde as palavras se erguem perante os baixos violentos e as guitarras hostis. The Dusk In Us é a resposta da banda às adversidades mais actuais da nossa sociedade. Não se trata de um disco guerreiro, trata-se de um disco reaccionário.