Os nossos 40 melhores álbuns do ano

por Comunidade Cultura e Arte,    29 Dezembro, 2017
Os nossos 40 melhores álbuns do ano

A equipa da vossa Comunidade Cultura e Arte dedicou este ano de 2017 a uma cobertura extensiva do que melhor se fez na música, tanto cá dentro como lá fora. Com mais de 150 críticas a álbuns, e reportagens de variadíssimos concertos e festivais, este foi um ano recheado de música na CCA. Nesta altura de final de ano, consideramos importante fazer um balanço daquilo que mais nos marcou ao longo de 2017; tanto por nós como por aqueles que nos lêem e contribuem para o nosso crescimento. Hoje, listamos os 40 álbuns que nos impressionaram ao longo do ano, quer internacionais, quer portugueses.

40. Arca – Arca
39. Perfume Genius – No Shape
38. Kelela – Take Me Apart 
37. Big Thief – Capacity 
36. Joey Bada$$ – ALL-AMERIKKKAN BADASS

35. Mac DeMarco – This Old Dog
34. Dirty Projectors – Dirty Projectors
33. King Gizzard and the Lizard Wizard – Flying Microtonal Banana
32. Chelsea Wolfe – Hiss Spun
31. Moses Sumney – Aromanticism

30. Four Tet – New Energy
29. The War on Drugs – A Deeper Understanding
28. Slowdive – Slowdive 
27. Queens of the Stone Age – Villains
26. Mount Eerie – A Crow Looked at Me

25. Thundercat – Drunk
24. Vince Staples – Big Fish Theory
23. Primeira Dama – Primeira Dama
22. Sampha – Process
21. Ermo – Lo-Fi Moda

20. Angel Olsen – Phases
19. Slow J – The Art of Slowing Down
18. Orelha Negra – Orelha Negra III
17. Lana del Rey – Lust for Life
16. Björk – Utopia

15. King Krule – The OOZ
14. The xx – I See You 
13. Surma – Antwerpen 
12. Cigarettes After Sex – Cigarettes After Sex 
11. LCD Soundsystem – American Dream 

10. SZA – CTRL

A reinvenção do R&B não é algo propriamente novo; tem havido particularmente nesta presente década um distanciamento daquilo que foi este estilo de música nos anos 90, e uma procura por uma sonoridade contemporânea por parte dos artistas, que os permita destacar-se num universo tão preenchido como aquele que é o musical. SZA, que ainda não havia conseguido deixar a sua marca, entregou-nos este ano um álbum que o faz de uma forma tão suave e elegante, que será certamente ouvido por muitos anos que virão. CTRL, não sendo o álbum de estreia de SZA, foi aquele que lhe permitiu encontrar a sua voz; à semelhança do que Frank Ocean nos ensinou, SZA conta-nos histórias, de tom aparentemente desmoralizado e de registo mais baixo, histórias simples e pessoais, que inevitavelmente ficam gravadas na nossa memória. Associadas ao seu flow, SZA consegue não só fazer funcionar mas tornar viciantes temas quer instrumentalmente mais simples, como “Supermodel”, em que se faz acompanhar somente de guitarra, quer temas com elevada produção e utilização de samples, como “The Weekend”. SZA chegou e consigo trouxe muito mais que mum jeans, tacos e Narcos; trouxe um relato narrativo invejável que enriqueceu irrevogavelmente o catálogo musical de 2017.

9. Arcade Fire – Everything Now

Ao quinto álbum de originais, os Arcade Fire regressaram ainda mais diferentes do género que os viu crescer à escala planetária, e, com Everything Now, foram ainda mais longe que no anterior, Reflektor, na vontade de mergulhar no mundo da Pop disco. Com a ajuda na produção de Thomas Bangalter, dos Daft Punk, e Steve Mackey, baixista dos Pulp, trouxeram-nos um álbum construído à volta da estupefação perante o absurdo da realidade, o consumismo, e a nossa necessidade de ter tudo no momento. O álbum pode não ser o melhor da discografia dos canadianos, mas, mesmo quando descem um patamar, os Arcade Fire continuam a ser grandes, e a fazer músicas de encher os ouvidos e, acima de tudo, salas. Ao vivo, tudo o que cantem é hino rock, para gritar ou dançar a plenos pulmões.

8. Tyler, The Creator – Flower Boy

Há oito anos atrás, o jovem Tyler, the Creator mandava o mundo à fava – claramente um eufemismo – com a sua mixtape Bastard. Hoje, o homem Tyler presenteia o mundo com um projecto maduro, de cores vivas e sons açucarados. Em Flower Boy, todas as virtudes do artista são enaltecidas, os melhores aspectos da sua caminhada musical estão concentrados e cingem-se aos elementos indispensáveis: a sua entrega (por vezes) visceral, a sua mestria na mesa de produção e os seus versos confessionais que clamam por uma empatia fácil de assentir. Há uma estética instrumental e escrita inerente muito apelativa, concentrada em catorze temas com um alcance universal. Tyler mostrou que para além do adolescente raivoso que representava nas suas músicas há uma pessoa madura, ponderada e capaz de construir um álbum extremamente belo e o seu melhor trabalho até à data.

7. Father John Misty – Pure Comedy

O ensaio literário que acompanha o álbum Pure Comedy começa com uma citação do livro Ecclesiastes: “Is there a thing of which it is said,/‘See, this is new?’/It has been already/in the ages before us”. E acaba com uma proposta: em vez de nos preocuparmos com as expectativas para a nossa vida moderna, devemos gerir a nossa vida de acordo com a seguinte premissa: hoje não fui devorado por um urso, é esse o factor determinante de sucesso! Esta dualidade diz-nos muito sobre Pure Comedy. Por um lado, o que Josh Tillman refere nas suas letras excelentemente escritas não é nada de novo, e a Humanidade está inevitavelmente condenada a repetir os erros do passado. Mas por outro lado, ninguém o conseguiria dizer com o pungente sentido de humor e acutilância que o cantautor norte-americano demonstra. O terceiro longa-duração de Father John Misty é cínico, honesto e indubitavelmente seu. É um álbum especialmente relevante para os habitantes da terra natal do artista mas os restantes cidadãos do mundo certamente apreciarão a discreta instrumentação e escrita maravilhosa.

6. Lorde – Melodrama

As pessoas tendem a buscar o equilíbrio, mesmo que para isso, a um extremo se responda com outro. Para os criadores que se abrem à possibilidade de sonhar além do que é presente, as respostas a essa ousadia para além da realidade podem variar entre sofreguidão e excentricidade. Para Lorde, representando grande fatia de millenials, ao sonho contrapõe o melodrama, não só título do álbum mas zona de “Sober II (Melodrama)”, onde canta a ânsia de congelar a juventude: “we told you this was melodrama, ooh how fast the evening passes, drinking up the champagne glasses”.

Desde o primeiro hit (“Royals”) que fala em Nós e não em Si, congregando na sua identidade uma geração – como na “Homemade Dynamite”, ainda antes do feature de Khalid, SZA e Post Malone “our rules, our dreams” – tornando os álbuns em megafones grupais e não em auto-biografias, embora parta de possíveis desabafos amorosos para a criação das canções: “Sober”, feita de sussurros e instrumental parente jovem de “Crazy in Love” de Beyoncé, sobre o fim do amor quando a noite se vai e álcool sai do sangue; “Green Light”, de estrutura improvável cujo início não faz prever os coros do refrão, onde transforma frustração em esperança. Melodrama é, assim, uma utopia amorosa e com consciência sacrificial para que nasça.

5. St. Vincent – MASSEDUCTION

O elemento mais constante da carreira de Annie Clark tem sido a mudança. Ao quinto álbum, a sua abordagem angulosa de escrita de canções voltou-se para uma sensibilidade mais directamente pop. Nas mãos de artistas menos prendados, isto poderia significar alguma perda de interesse ou o sacrifício daquilo que tornava a sua música tão especial. No entanto, Clark define uma nova linguagem da pop, subvertendo o género à sua forma de criar e resultando num disco que soa verdadeiramente à frente do seu tempo. Equilibrando bem a agressividade sonora (“Sugarboy”, “Los Ageless”) e doçura melódica (“New York”, “Slow Disco”), o som produzido de forma compacta desenrola-se numa dimensão universal e intemporal que torna MASSEDUCTION mais um estandarte da carreira de St. Vincent.

4. Luís Severo – Luís Severo

Mais que uma mera colecção de canções – cada qual com a sua sonoridade e identidade – o novo álbum de Severo é um retrato de uma Lisboa jovem e contemporânea, frágil e indecisa. O músico espelha emoções que não nos são estranhas, numa reflexão identitária ao som das belas palavras que compõem o trabalho. Não podemos ignorar o impacto e a profundidade que os coros vêm adicionar ao disco de Severo – o concerto na Zé dos Bois, que contou com a totalidade dos colaboradores do álbum, ajudou-nos a tomar percepção das múltiplas camadas instrumentais que povoam o conjunto. Mesmo a partir das influências que o inspiraram, o novo trabalho de Severo sabe a fresco, e continua a estender a passadeira do novo grande cantautor da língua portuguesa.

3. Kendrick Lamar – DAMN.

DAMN. surge como o quarto álbum de originais do rapper norte-americano, depois de To Pimp a Butterfly lançado em 2015. “HUMBLE.” foi o primeiro avanço deste trabalho e logo aliciou o público para o que de épico se avizinhava. O álbum começa com “BLOOD.” e termina com “DUCKWORTH.” numa viagem entre as batalhas pessoais e profissionais do rapper, com composições coesas e cativantes. Recentemente foi lançada uma edição de colecionador em que a tracklist se encontra ao contrário do que foi inicialmente apresentada, que Kendrick Lamar mais tarde explicou ser o objetivo para este álbum, não porque a história muda se alterarmos a forma como ouvimos o álbum, mas porque o sentimento em relação à história que o álbum conta se intensifica desta forma.

2. The National – Sleep Well Beast

Sleep Well Beast é o 7.º álbum dos The National em quase 20 anos de carreira (fora EPs, bandas-sonoras, etc.) e é tudo aquilo a que os The National nos habituaram – dúvidas existenciais, dramas pessoais, dores metafísicas, mas agora com uma componente política um pouco mais evidente. 10 anos depois de Boxer, o álbum que os pôs na boca do mundo, os The National cresceram, tornaram-se referência, tornaram-se presença habitual em quase todos os festivais do mundo, mas não estagnaram sonoramente, tendo colaborado incansavelmente com outros músicos que também estão no álbum (entre eles, Justin Vernon ou Lisa Hannigan), e conseguiram ser, em 2017, uma banda que ainda surpreende.

1. Fleet Foxes – Crack-Up

Se o emocionalmente pesado e um tanto sombrio Helplessness Blues via o conjunto liderado por Robin Pecknold a se distanciar levemente da sonoridade meticulosamente polida do seu álbum de estreia, Crack-Up tenta ser o intermediário destas duas faces dos Fleet Foxes. Passaram-se seis anos entre este lançamento e o do seu antecessor, e os motivos para tal percebem-se: o líder do grupo mostra-se intensamente introspectivo, enquanto ao mesmo tempo os ouvintes encontram uma abordagem mais aventureira. Mas é precisamente esta vontade de inovar e experimentar que define a banda e leva a que ela se possa manter fiel a si própria. Desde as pormenorizadas texturas de som às harmonias convidativas e melodiosas (que, de resto, são menos imediatamente acessíveis do que no passado), este disco representa uma progressão natural e sem pressas, que permite aos Fleet Foxes cimentar um lugar cada vez mais singular no universo do indie folk.

Contribuições de Bernardo Crastes, Daniel Dias, Joana de Sousa, Linda Formiga, Luís Miguel Davies, Miguel Fernandes Duarte, Miguel Santos, Sara Miguel Dias e Tiago Mendes.

Calendário do melhor de 2017 na música:

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados