Depois do filme, “O filho” estreia no teatro em Portugal para debater fragilidades da saúde mental na adolescência
A saúde mental sobretudo na adolescência dá mote à peça “O filho”, a segunda de uma trilogia sobre o tema do dramaturgo e realizador francês Florian Zeller (1979), que o Teatro Aberto estreia no sábado, em Lisboa.
Com versão de Vera San Payo de Lemos, que também assina a dramaturgia, e de João Lourenço, responsável pela encenação, cenário e vídeo – este em conjunto com Nuno Neves -, a peça começou a ser ensaiada no Teatro Aberto ainda antes da estreia do filme “O filho”, em janeiro último, com realização do autor francês. Zeller também assinou o argumento, com Christopher Hampton, com quem já tinha partilhado a escrita de “O pai”, com que venceu o Óscar de Melhor Argumento Adaptado em 2021.
A peça “O filho”, estreada em 2018 em França e, no ano seguinte, em Londres, centra-se na complexa teia de relações familiares entre Pedro e Ana, um casal que acaba por ser divorciar, e Nicolau, um jovem de 17 anos, filho de ambos.
Após “O pai” e “A verdade da mentira”, este é o quarto texto do autor francês a subir ao palco do Teatro Aberto que tem uma versão adaptada do texto original e que apresenta diferenças em relação ao filme homónimo estreado em janeiro último nos cinemas, disse João Lourenço à agência Lusa.
Embora os problemas depressivos de Nicolau sejam anteriores ao divórcio dos pais, só depois deste é Pedro e Ana se apercebem da tristeza profunda em que o filho vive, das suas ausências à escola e das alterações de comportamento que demonstram que o jovem não está bem consigo nem com ninguém, acrescentou o encenador.
Após o divórcio dos pais, Nicolau vive três anos com a mãe, Ana, numa relação marcada por violência psicológica sobre a progenitora, em que esta receia que chegue à física. O jovem acaba depois por ir viver com o pai que, entretanto, voltou a casar-se, com Sofia. Os dois são pais de um bebé de três meses.
Pedro começa a viver momentos de desespero, culpabilizando-se pela depressão por que o filho atravessa, julgando que esta fora provocada pelo divórcio, sem se aperceber, tal como acontecera com Ana, que tem em mãos uma ‘granada’ pronta a explodir e da sua impotência, tal como a mãe, para resolver a situação.
Pedro e Sofia acolhem Nicolau, cuja depressão se vai agravando, a ponto de Sofia temer pela integridade física do filho bebé.
Referências à religião e à obra de Marcel Proust estão implícitas na peça em cenas como aquela em que, já num estado de grande degradação, o filho pede “Pai, não me abandones”, ou numa outra em que “oferece Madalenas à mãe”.
Numa obra “violenta”, propícia para debater a “fragilidade dos adolescentes” e “o aumento de problemas de saúde mental nesta faixa etária após a pandemia de covid-19”, João Lourenço, ao deparar-se “com esta tragédia contemporânea”, sentiu necessidade de acompanhar a carreira do espetáculo com debates sobre o tema, disse à Lusa.
“Para ter mais eficiência e ser ainda mais serviço púbico”, frisou.
Daí que, dia 29, às 19:00, “Um sentido para a vida” seja o tema de debate que tem como convidados a escritora Dulce Maria Cardoso, a médica Nazaré Santos, do Departamento de Neurociências, serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o jornalista Nuno Rogeiro. A moderar estará o jornalista Tiago Palma.
No Teatro Aberto, a ação desenrola-se num palco rotativo, num cenário quase operático e minimalista, onde pontuam as paredes altas, onde as cenas se sucedem como se fossem sequências de um filme.
João Lourenço recorreu ainda a ecrãs do tamanho dos cenários, nas laterais do palco, que vão abrindo e fechando e projetando pequenos filmes de 40 segundos, reflexo da mente de Nicolau.
A roda das cores é o primeiro impacto visual que o público tem quando entra na sala, para depois a ação se fixar no preto, branco e cinzento.
O negro, que marca a casa onde Nicolau viveu com os pais, o branco da instituição de saúde mental onde acaba por ser internado, e o cinzento da nova casa do pai.
Cleia Almeida (Ana), Pedro Pires (Pedro), Rui Pedro Silva (Nicolau), Pedro Oom (Médico), Pedro Rovisco (enfermeiro) e Sara Matos (Sofia) são os intérpretes de “O filho”.
Com figurinos de Lia Freitas e coreografia de Cifrão, a peça vai estar em cena na Sala Azul até 18 de junho, com récitas à quarta e quinta-feira, às 19:00, à sexta e ao sábado, às 21:30, e aos domingos às 16:00.