“REVOLUTION (título provisório)”: diverte, faz pensar e não nos conta uma história específica
Se o objetivo era, de alguma forma, comemorar/refletir sobre a nossa atual democracia, faz todo o sentido juntar em palco de 16 atores de 4 companhias que, evidentemente, terão diferentes formas de pensar, representar e ser artística e esteticamente. Asta Teatro da Covilhã, Baal17 de Serpa, D’Orfeu de Águeda e Teatrão de Coimbra são os ingredientes desta tragicomédia. Comédia porque dá para rir, tragédia porque nos fala da miserável situação da democracia atual.
Em tom de ironia, tudo começa com uma venda de revoluções muito práticas que oferecem todo o conforto a um bom revoltado (de sofá). A partir daí, REVOLUTION (título provisório) desenvolve-se numa constante mudança de ambientes servidos por um cenário pouco complexo, mas que serve muito bem o seu propósito com a ajuda de jogos de luz, e dá espaço ao nascimento de várias de cenas de grande criatividade e beleza que nos transportam para o universo das memórias e do sonho com a ajuda da voz belíssima de Patrícia Lestre que brilha intensamente neste palco com os seus companheiros de música ao vivo, que incluí trombone, saxofone, ukelele e acordeão.
Durante cerca de uma hora, somos brindados com momentos divertidos e esteticamente apelativos que se entrecortam por pensamentos complexos que nos deveriam deixar a pensar, mas logo depois surge um novo ambiente e uma nova música que nos distrai propositadamente da coisa anterior. É este o ponto da peça: estamos distraídos com o entretenimento e os governos tudo fazem para nos manter na “alegre” ignorância.
O ponto menos positivo é a falta de uma linha de narrativa clara que, apesar de ser intencional, deixa o espetador um pouco à deriva na compreensão da sequência das cenas. Diverte, entretém e faz pensar mas não nos conta uma história específica e, talvez por isso, ganhasse em ser um pouco mais curta.
É delicioso ver a sintonia dos atores das quatro companhias entre si e com a música, criando, na simplicidade, visões diversas com um dos elementos mais importantes do teatro: os corpos dos atores cheios de entrega em cada momento. É tão bom ir ao teatro e ver atores/músicos a divertirem-se com o que estão a fazer.
Esgotada em todas as sessões, a peça encenada por Gonçalo Guerreiro, escrita por Tiago Alves Costa e produzida pelas quatro companhias tem a última apresentação neste dia 6 de Maio (Sábado) na Covilhã.