Martinho da Vila edita novo disco, “Negra Ópera”, e traz as novas canções para dois concertos em Portugal
Nos dias 26 e 27 de maio, Martinho da Vila apresentará o novo disco nos Coliseus do Porto e de Lisboa.
A poucos dias de regressar a Portugal com a digressão em que celebra os seus 85 anos, Martinho da Vila editou o seu 52º álbum, chamado “Negra Ópera”, com três composições inéditas. As apresentações serão no dia 26 de maio, no Coliseu do Porto, e no dia 27, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. A produção é da YN MUSiC.
“Os meus discos são sempre muito alegres, queria fazer algo diferente. Como gosto muito de ópera, pensei em fazer a minha ópera, com uma boa dose de dramaticidade. E negra, porque as músicas são fundamentalmente ligadas a questões negras, os músicos são praticamente todos negros”, afirma o cantor sobre o disco produzido por Celso Filho, Martinho Antônio e Pretinho da Serrinha. O videoclipe de “Acender as Velas”, com Chico César, já está disponível.
“Exu das sete” é uma das três músicas inéditas deste novo trabalho de Martinho da Vila e que canta com Preto Ferreira, filho do próprio artista.
“Eu sou católico, e como bom católico brasileiro, tenho um pé na umbanda. Como no catolicismo cada pessoa tem o seu anjo da guarda, nas religiões de origem africana nós temos um exu. O meu é o Exu das Sete, então fiz essa música. Chamei Preto pra cantar comigo porque ele é messiânico. Achei que seria bom pra música e pra ele, gosto de incentivar a convivência das religiões”, explica Martinho da Vila.
Outra inédita do disco, “Dois de Ouro”, sobre a história real do capoeirista baiano, é também da safra recente de Martinho. O compositor incorpora a linguagem da capoeira de maneira tão orgânica que faz parecer que seu refrão é ancestral: “Ê, berimbau/ Uma corda de aço e um arco de pau”.
A terceira inédita da “Negra Ópera” é “Diacuí”, baseada numa história real. A tragédia da indígena que nos anos 1950 se casou com um sertanista, engravidou e morreu no parto. A canção, embora inédita, foi escrita por Martinho há 60 anos.
“Fiquei pensando numa história de amor dramática para pôr no disco e lembrei de Diacuí. Eu li a história nos jornais na época, me causou muita emoção, e aí fiz esse samba, nos anos 1960. Estava guardado desde então. E como o drama indígena se aproxima bastante do drama do negro, achei que ficaria bom pôr a música no disco”, conta Martinho.
Além das canções inéditas, o álbum tem composições de Zé Ketti, Adoniran Barbosa, Silas de Oliveira, entre outros, e participações de Chico César, Renato Teixeira, Mart’nália e o rapper carioca Will Kevin.
Duas canções, Martinho tirou dos seus próprios arquivos. “Linda Madalena”, lançada em 1983, e “A Serra do Rola Moça”, um poema de Mário de Andrade musicado pelo compositor da Vila, em 1987. Esta última conta uma história trágica, da morte de um casal. Com sabor rural, tem como convidado no novo disco Renato Teixeira, que Martinho conhece desde o histórico Festival da Record de 1967, no qual os dois eram concorrentes.
“Depois que eu vi que tinha bastante morte. Mas tá de acordo com a ópera. Tem uma definição de ópera que diz que quanto mais feia a história, mais bonita é a ópera”, brinca Martinho da Vila.
A escolha da passagem da digressão por Portugal num ano tão especial deixa mais forte a história de amor que Martinho da Vila vive com o país. Nos concertos, o artista cantará os seus maiores êxitos como “Casa de Bamba”, “Devagar Devagarinho”, “Canta Canta, Minha Gente”, “Madalena do Jacu”, “Disritmia” e “O Pequeno Burguês”, entre outros.