O amor que não termina
O amor não acabou. Os meses passam e o amor ampliou, esticou-se como uma corda elástica, interminável e invisível, que mantém em suspenso o futuro por acontecer. A imagem da pessoa amada anda contigo por toda a parte, sendo parte intrínseca de ti. Mesmo quando te deitas na cama com outra pessoa, a imagem de quem amas não sai, nem sairá, de dentro do teu corpo exausto.
Sabes bem, o amor não acabou. Nem acabará, esse amor que acompanha o movimento diário do sol. O amor por aquela pessoa está sempre a nascer, a começar, como se fosse a primeira aurora da origem do mundo. A única aurora que te interessa assistir. A única história, como diria Barnes.
O amor não acabou, mas não se conseguem entender. O que fazer? Esperas o quê? Que o amor passe? Não vai sarar. Arranjas sucedâneos inúteis para gastar as horas e os dias. Trabalhas. Afundas-te em trabalhos que retribuem e alimentam a paixão, mas não o amor. É tão difícil enganar-se a si próprio, pensas. Sabes que não consegues enganar-te. Para quê alimentar propostas de outras histórias amorosas? Sabes que, como uma roupa demasiado justa, não servirão. Não sabes o que fazer. Não sabes. É melhor assumir que não sabes. Esperas que passe o amor, e sabes que tal não acontecerá. Desejas muito, todas as noites, que te venha abraçar. Em silêncio, sem palavras. Sem linguagem verbal, a origem de toda a mentira, que não serve o abraço e o beijo, que não serve o amor.
Esperas que o amor único que sentes encontre finalmente o amor que não termina. Que se encontrem.