‘Lady Bird’ escolhe boas temáticas, é divertido e libertador. Mas explora pouco os assuntos
Um dos filmes mais aclamados de 2017, Lady Bird vê pela primeira vez a solo a actriz Greta Gerwig na realização, com uma coming of age story que já se tornou subgénero em cinema, onde observa o último ano de liceu de uma jovem americana de 17 anos em Sacramento, Califórnia, no pós 11 de Setembro, com as suas amizades, os seus amores, os seus sonhos, as suas revoltas.
Não há dúvida que Lady Bird é um filme honesto e sincero, que consegue fazer, sem grande esforço, a ponte entre o cinema comercial de entretenimento e o cinema independente americano, longe do pretensiosismo que muitas vezes acompanha este tipo de histórias, como aconteceu com Juno, pretensiosimo esse que, a existir, se fica pelo título.
No entanto, também é verdade que essa veia de entretenimento mais light que permeia Lady Bird o afasta da linguagem hiper realista de filmes como Boyhood, ou, mais recentemente, The Florida Project, limitando assim o seu propósito social. Esse olhar social de Greta Gerwig, orgulhosamente focado em Sacramento, de onde é natural a realizadora, é abordado em paralelo à construção da personalidade da protagonista (o principal ponto de interesse argumentativo do filme), através do foco na personagem da sua mãe (Laurie Metcalf), símbolo do sufoco económico-social que atravessou e atravessa a classe média nos Estados Unidos.
Lady Bird é acima de tudo uma história agradável e relacionável sobre a adolescência, bem interpretada e realizada de forma interessante. Gerwig constrói mesmo alguns planos muito criativos, a fazer lembrar o visual indie de filmes como Short Term 12 ou Little Miss Sunshine. Mas este é também um filme episódico demasiado curto e apressado, pressa essa que apesar de encontrar metáfora na velocidade com que se vive a adolescência, se limita a pegar pela rama em temáticas que mereciam melhor aprofundamento, a começar pelo desenvolvimento das amizades descritas na tela, da amiga menos popular à mais popular, passando pelas paixões amorosas.
Por outro lado é essa superficialidade que lhe dá uma rara magia prazerosa e um descomprometimento libertador que quase apenas é possível encontrar em sitcoms ou séries de comédia que retratam o dia a dia da família americana média, como Arrested Development ou Malcolm in the Middle. Lady Bird mantém-se excelsamente neste registo, e como tal nunca atinge a acutilância e qualidade argumentativa do fantástico Edge of Seventeen, de 2016, de onde aparenta beber as suas principais influências, e que teria dado um candidato a Óscares bem mais sólido. Lady Bird é um filme divertido e libertador, uma lufada de ar fresco, mas a sua superficialidade retira-lhe a oportunidade de explorar melhor as temáticas que tão bem soube escolher.