“O Movimento das Coisas”, de Manuela Serra, estreia na RTP2

por Comunidade Cultura e Arte,    7 Fevereiro, 2024
“O Movimento das Coisas”, de Manuela Serra, estreia na RTP2
“O Movimento das Coisas”, filme de Manuela Serra

Filme da cineasta portuguesa Manuela Serra (ler crítica) aborda o universo rural do norte de Portugal nas décadas de 70 e 80. “Percebe-se [também], na leitura de entrevistas à realizadora, que, parte do processo que ceifou a estreia comercial do filme, é também ele retrato de um país retrógrado, machista e misógino. Esses outros tempos privaram Manuela da justíssima projecção do filme em território nacional; por outro lado, vê-lo agora leva a contrastes mais definidos entre as nossas vidas de hoje e as vidas de então.”, escreveu Alexandre Pinto, em 2021, na crítica sobre este filme para a Comunidade Cultura e Arte.

Histórias de quotidiano de silêncio. Em caminhos desertos de vento inquietante, numa aldeia do Norte. Há um dia de trabalho atravessado por três famílias: quatro velhas, o campo, o pão, as galinhas, e, a lembrar-nos, clareiras de histórias velhíssimas de gestos saboreados em mineralógicas palavras. 

“O Movimento das Coisas”, filme de Manuela Serra

“A minha primeira ideia era contrapor a vida da cidade, Lisboa, com a vida da aldeia. Mas depois percebi que era muito para mim, porque se tratava do meu primeiro filme. Ainda pensei em fazer primeiro a aldeia e depois a cidade. Em dois trabalhos. Era uma fuga aos valores da cidade. Era perceptível a degradação. O egoísmo começava a nascer. Hoje está evidente: cada um por si. Os valores da solidariedade começavam a desaparecer”.

Manuela Serra, em entrevista ao Público, 18 de Junho de 2021.


Uma família de dez filhos numa quinta mergulha na largueza do tempo, no gesto todo do trabalho, o pai corta uma árvore. Mais longe, a água do rio habitado por gente, numa barca, o Sol, e o largo da aldeia, a ponte em construção, a varanda, a refeição, a densidade e o misticismo ao domingo, a missa e a feira: ritualizada ao sábado. Nestes fragmentos de cenário move-se Isabel, também, com os olhos postos no futuro, para lá dos outros em que o sentido da vida é apenas viver. 
O tempo atravessa o nascer e o pôr do Sol. É um respirar a vida, usando o campo como meio numa aldeia do Norte, de gestos antiquíssimos e pousados. É uma paragem sobre a vida através de: coisas e a sua deslocação no tempo; valores; silêncios.

“O Movimento das Coisas” (2022)” é exibido a 17 de Fevereiro, pelas 23h45, na RTP2.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.