Nova peça da Seiva Trupe, “Noite de Solidão no Capim”, expõe em palco amizade que nasce da guerra colonial
A nova peça da Seiva Trupe, “Noite de Solidão no Capim”, expõe em palco o encontro de dois guerrilheiros numa ex-colónia portuguesa na madrugada de 25 de Abril de 1974 e uma amizade que nasce da guerra.
A peça, que vai estar em cena de 07 a 27 de março na nova residência da Seiva Trupe, na Sala Estúdio Perpétuo, no Porto, passa-se numa ex-colónia portuguesa em África e retrata a noite de 24 para 25 de abril de 1974.
“Uma guerra a que o 25 de Abril veio pôr cobro, trazendo vendavais de utopias e sonhos”, lê-se, numa mensagem partilhada em palco, antes do início da peça.
Dois guerrilheiros – um dos quais um ‘flecha’ ao serviço do exército português – encontram-se no meio do capim, onde, apesar da desconfiança, percebem que “despidos de condicionalismos podem ser amigos”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o encenador e autor do texto, Castro Guedes.
Marcada pelo suspense, mas também pela compreensão, a peça mostra que “a guerra, sendo um cenário horrível, é também onde por vezes se encontram os laços mais fortes de amizade”.
“No fundo, somos todos iguais”, diz, durante a peça, Pedro a Kizua, quando recordam, com saudade, as suas mães e avós.
“Isso é o que esta peça procura transmitir, é que quando dois homens se encontram enquanto homens, sem estarem fardados, sem estarem ligados a nada institucional, são capazes de criar amizade mesmo quando estão em campos antagónicos”, realçou Castro Guedes, que é também diretor da histórica companhia de teatro.
Num ano em que se assinalam os 50 anos da noite retratada em palco, Castro Guedes destacou a necessidade de se defender a liberdade que, lembrou, “não está sempre garantida”.
O encenador e diretor artístico da Seiva Trupe considerou também ser altura de falar sobre “o problema dos ‘flechas’, que acabaram por ser duplamente vítimas de uma situação de guerra”.
Os ‘Flechas’, inicialmente conhecidos por ‘Corpo Auxiliar’, foram uma força especial indígena criada em 1966 em resposta a uma necessidade da polícia política do Estado Novo, a Polícia Internacional de Defesa do Estado – Direção Geral de Segurança (PIDE/DGS), para a recolha de informações de interesse político-militar português no Leste de Angola.
A palco sobem os atores Óscar Branco e Fernando André e o cenário sonoro está a cargo do músico Fuse.
Depois da estreia no Porto, a peça irá passar por oito cidades portuguesas, entre as quais Santa Maria da Feira, Caldas da Rainha e Vila Praia de Âncora.